As imagens não simbólicas


Um mundo de símbolos vive em nós. E o mundo fala através do símbolo.

Existem imagens simbólicas e não simbólicas. As expressões abaixo contêm imagens que são signos e não vão além da significação:

O Emblema é uma figura (desenho) que representa convencionalmente uma ideia, um ser físico ou moral. O Atributo é uma imagem usada como sinal distintivo, como uma parte acessória tão característica que pode designar o todo. A Alegoria é uma figuração, no mesmo plano de consciência, de uma forma humana, animal, vegetal, de um feito, situação, virtude ou ser abstrato.

A Metáfora é uma comparação entre duas situações ou dois seres. A Analogia é uma relação entre seres ou noções, diferentes em sua essência, mas semelhantes sob certo ângulo.  O Sintoma é uma modificação nas aparências, fruto de alguma perturbação ou conflito. A Parábola é um relato com sentido próprio, contendo uma lição moral. O Apólogo é uma fábula didática, e quer transmitir certo ensinamento.




Princípio II


1.
                        O homem
além do que fez o homem
homem e mulher,
à parte dos bichos,
é feito enlace
de um duplo instinto
um Caduceu –,
é também tesouro antigo,
tatuagem enroscada
em tudo o que é vivo.

                        O homem:
duas serpentes distintas
unidas
pelo umbigo
à serviço da vida
            incompreensível.

                        O homem,
produto da força dupla,
e sem rastros
            de culpa
ou impensável ciência,
é dúplice servo de si,
e sua potência ativa é nutrir,
proteger é a passiva potência.




O símbolo vivo


Um mundo de símbolos vive em nós. E o mundo fala através do símbolo.

Todo objeto pode revestir-se de valor simbólico. O símbolo é pleno de realidade concreta. A abstração mata o símbolo. A arte nutre o símbolo e evita o signo, pois o símbolo pressupõe homogeneidade significante-significado num dinamismo organizado, já o signo pode deixar um alheio ao outro.

Cada grupo e cada época têm seus símbolos. Um símbolo vivo faz eco na consciência, causa ressonância, algo que um símbolo morto não faz. A ressonância amplifica a vibração. Vibrar com os símbolos é participar do grupo e da época. O símbolo ata o ser humano ao mundo, permite integração pessoal, sem isolamento nem confusão.

Os símbolos fundamentais condensam a experiência total do homem. Realizam a síntese do mundo, e evidenciam a unidade essencial.

Um mundo sem símbolos seria irrespirável, provocaria de imediato a morte espiritual do homem. Para educar a viver, assim, deve-se evocar e despertar os símbolos que adormecem no interior de cada um.




Princípio I



1.
Nasce o casamento!
Amor e morte se alternam
no corpo da mulher e do homem.
E como agem? como agem?!

            Será que respondem
os epitalâmios?
Os gregos, romanos,
renascentes e lusitanos,
quem sabe respondem

            Será que respondem
os casais
inflamados em luta,
a sedutora e o garanhão,
o médico ou mercenário
                        de plantão?

            Será que respondem
os românticos,
respondem os hormônios,
a essência absoluta, será?
Se há quem responda, responde.

2.
            Nasce o casamento,
no princípio: casamento!
Desperta o gene da terra,
pairando sobre a face das águas;
emergem as ondas
nascentes
de onde escorrem
gritos tsunâmicos.

Eis o casamento –
a voz aparecendo
com força reflexa, convexa, complexa;
a única voz, mais que o murmúrio dos bichos,
                                   dos troncos e minerais.

Eis aqui
donde surge o casamento,
a química, genética, momentum.
E bem aqui,
o princípio vira instinto;
o instinto, astúcia;
e astúcia, cultura;
e cultura procria, decanta,
encanta serpentes de pé,
eriçadas no corpo,
ziguezagueando na pele,
dormentes só se a Natureza dorme.


Prefácio        Princípio II


O significado do símbolo


Um mundo de símbolos vive em nós. E o mundo fala através do símbolo.

O símbolo é bem mais do que as palavras que o vestem. Ele é mais que os signos comunicantes, pois é mais inovador e mais transformador do que convencional. A convenção iguala a quantidade de significante e de significado.

Ele transcende o significado. Satura cada vez mais o significante com significado. Nele os significados são mais abundantes. Daí que transborda de conteúdo a expressão mais econômica.

Ao afastar-se do significado convencional, abre espaço à interpretação subjetiva. E interpretar é dar a qualquer coisa um novo valor.




Prefácio ao Casamento de Juno


Tudo começou no fogo. O início de tudo foi uma fogueira, uma grande fogueira e uma noite verdadeira, escura, gélida; uma noite em que faiscavam pessoas alegres, fervendo, rodando, todos, em torno do fogo; celebrando, como uma grande constelação ordenada em vastos sistemas solares, celebrando a felicidade do casamento.

Começou à noite. Era pouquíssimo calor contra muito frio, pouca luz contra muita escuridão, poucos homens e mulheres para tanta alegria, celebrando a felicidade do casamento, graças a quem nos deu as chamas.

Sabe-se lá o que é o fogo. Não como ele ocorre, mas o que ele realmente é. E é num dia frio que percebemos o quanto somos dependentes do fogo, do calor, da luz, da radiação; é num dia de frio que confirmamos ser dependentes dos amigos, do calor das pessoas, da luz do povoado e da radiação da comunidade.

O fogo une como a linguagem, nos coloca em torno da mesma fogueira. A arte literária tem por função lidar com a linguagem. Deve lidar com a nuvem que paira ao redor do dia a dia – e na essência – para que se crie a possibilidade de um movimento brusco e repentino, a fim de modificar a face do cotidiano ou, ao menos, a nossa visão sobre ele.

O impulso para escrever algo sobre o tema surgiu a partir dos “donos” da fogueira – um casal de amigos muito queridos. Um casal que mais ou menos sintetizou o que sinto pelos demais casais que conheço e de quem também gosto.

Após alguns rascunhos, fui buscar o que há na linguagem escrita sobre esse tema. Minha pesquisa sobre epitalâmio começou pela descoberta do gênero e depois pelo significado do termo. Epitalâmio significa sobre o tálamo, sobre o quarto nupcial, sobre a parte que mais interessa no rito de casamento. Achei uma tradição poética desse gênero – Safo, Catulo, Manoel da Costa, Basílio da Gama, Fernando Pessoa, Ribeiro Couto, Vinícius de Moraes, José Paulo Paes, entre outros.

Aqui vai a minha contribuição ao caminhar deste tema. Contribuição modesta, é verdade, mas de muito valor para meus estudos e para minha visão poética da vida e do mundo.

O Casamento de Juno é um poema composto de três partes chamadas Princípio, Templo e Aliança. Cada uma dessas partes é subdividida em seis subpartes. E, por sua vez, cada subparte é dividida em um número variável de poemas.

Bem, assim nasce o Casamento de Juno.


Aos noivos        Princípio I


O símbolo é uma téssera


Um mundo de símbolos vive em nós. E o mundo fala através do símbolo.

O símbolo é uma Téssera. Em sua origem, ele é algo que se divide em dois – o simbolizado e o simbolizador.

Comporta as ideias de separação e de reunião simultaneamente. É próprio de sua natureza reunir os extremos numa única visão.

O símbolo não define nada, mas tende a vencer os opostos, a unir forças antagônicas, liberando nessa operação algo que o transcende.

Esconde e mostra. E guarda muita energia condensada. Por vezes, propõe aos homens seus enigmas ocultos.


Ideias organizadas a partir do Dicionário de Símbolos (CHEVALIER & GHEERBRANT, 1982)




Casamento de Juno

Aos noivos

            Aqui vão os votos. Votos de alegria e de felicidade. Votos de confiança, pois demoraram tanto para chegar que tinham a certeza de que ainda chegariam numa hora propícia. Esses votos são para que tenham sempre a experiência de cada vez mais consolidar e reinventar o sentimento que existe.
            O epitalâmio é um gênero lírico para cantar o casamento, que é ainda algo desconhecido. O casamento é historicamente um grande composto de instinto de sobrevivência e de proteção, de contratos de famílias por herança e de poder religioso. Também é cada vez mais um fruto da consciência de um sentimento. É tanta coisa, que ainda é desconhecido, pois guarda dentro de si todo um futuro.
            Neste texto, a mulher não é a fraca e o homem não é o forte. A mulher não precisa ter medo, nem o homem, ansiedade. Ambos são a base da casa e da sociedade. A base de dois impulsos primários: nutrição e proteção.
            Há um movimento autêntico nessa relação homem–mulher depois de 10, 20, 30 ou, quem sabe, 40 mil anos. O que se inicia e ainda não se sabe aonde vai dar é o fato de a mulher ter quebrado um acordo de “cavalheiros”, um pacto primitivo com os homens – divisão nos cuidados dos herdeiros.
            A mulher contemporânea deve ter condições de cuidar de tudo. De nutrir, proteger, educar – nutrir o futuro, consolar – proteger do passado, etc. Dessa forma, o pacto primitivo é quebrado. E também o equilíbrio. Por isso, a mulher sofre tanto. E o que faz o homem diante de seus herdeiros? Contenta-se com o futebol nos fins de semana? Torna-se, ele também, mulher? Por isso, o homem sofre tanto.
            O homem de temperamento caçador agora pode ser caça. A mulher que era até então um abrigo agora pode ser flecha ou um míssil. Os campos já não nutrem mais, as casas já não mais protegem, e a batalha é travada no comércio, onde nada tem gênero e tudo é impessoal. E dizem o desequilíbrio e a experiência que a nutrição excessiva de alguns torna outros desprotegidos; e que a hiper-proteção de outros torna alguns desnutridos. Portanto, o que fazer? Como retomar o movimento pendular das coisas?
            Não sei. Só sei que é preciso modular as forças. E chegaremos a algo melhor, além da perplexidade.




Equinócio de outono


Nossa série das estações completa sua primeira volta. Retornamos ao equinócio de outono retornando ao poema Outono de Rilke. Recitamos a nota sobre o poema retirada de Poemas e cartas a um jovem poeta, traduzido por Geir Campos e Fernando Jorge:

Outono

O poema parece referir-se a uma escultura de Rodin, intitulada La Main de Dieu (1897), que apresenta algumas figuras humanas mal saídas de mármore e caindo desordenadamente, entre gesticulações confusas, no côncavo de uma grande mão que oportunamente emerge da pedra. Em carta de 2 de setembro de 1902, escrita de Paris a Clara Rilke, o poeta comenta sua primeira visita ao grande escultor: “La Main está lá. ‘É uma mão assim’ – dizia ele, e fazia com a própria mão um gesto tão forte de expressão e plasticidade que a gente chegaria a ver as coisas sugeridas – ‘É uma mão assim, com um pedaço de pedra bruta...’ – e apontando para as duas figuras profunda e misteriosamente unidas – ‘é uma criação, eis aí, uma criação...’ Com que voz dizia isso: C’est une création! A palavra francesa perderia seu encanto se tivesse de traduzir-se com a exatidão germânica de Schopfung; a palavra parecia destacar-se de qualquer idioma conhecido, e ganhar autonomia, sozinha no mundo – création!”.




Labirintos

1.




2.





3.





4.





5.





[Poema Labirintos em versão para leitura]




A poesia do blogue


O LINK É O VERSO DO BLOGUE. O POST É A ESTROFE DO BLOGUE.
O BLOGUE É O POEMA DO POST. O BLOGUE É O POEMA DO LINK.


Labirinto poético


Palavras incompreendidas e desacreditadas, promessas não cumpridas, notícias desencontradas, estatísticas que se contradizem, trânsito parado, estranhos que se esbarram, olhares perdidos que se entrecruzam, atrasos que atrapalham, imprevistos que desviam, computadores que travam, trabalhos traiçoeiros, preocupações sem trégua, preocupações sem fim...

Tudo isso apenas para nossa proteção. Percorremos todos os dias um labirinto. Não importam as extremidades consideradas, percorremos um labirinto a vida inteira. Façamos dele uma grande fortaleza, um poderoso santuário.

O que o labirinto está a nos dizer? Que linguagem o percorre? O que nosso labirinto está a ouvir?

Os versos, antes de sulcarem a terra escura, são um único ponto de luz. Do ponto ao raio, do raio ao prisma (uma gota de água): a luz é vertida em sete cores. Cada um tem a sua cor preferida (escolhida), cada cor tem suas tonalidades, cada cor se neutraliza em cinza, que é a primeira cor vista pelo bebê antes de poder distinguir as demais. O breu de nossos Labirintos é o mais escuro a que a luz pode chegar: a luz chega monossilabicamente a sua própria ausência. Escuro como a trágica vela de Teseu ao mar em sua viagem de volta. Escuro, porém inflamável. E eis o caminho inverso do fogo – subir, iluminando.

Orientemo-nos pelo Verbo, que se move em espiral nas águas de nosso labirinto; obedeçamos à lei (que é ir e vir); sejamos os canais de uma linguagem criadora, que também está a percorrer o seu próprio labirinto a fim de encontrar o nosso centro.




Visões de palavra e proporção


¿  Existe uma proporção exata entre as ideias e as palavras.
¿  As palavras são formas primárias das ideias.
¿  As palavras são realizações verbais das ideias.


Visões de labirintos


A poesia é um labirinto.

O verdadeiro labirinto é o verdadeiro ouvido interno.            

A linguagem é o novelo em movimento.

O Verbo é a luz sonora em movimento.

Os labirintos têm a estrutura das águas dos mares e das linfas em movimento.




Visões dos graus de realização da palavra

¿  Um pensamento se realiza tornando-se palavra.
¿  A palavra se realiza pelos sinais, sons e figuras dos sinais.
¿  A palavra se imprime por meio dos sinais da escrita.
¿  A palavra se reflete.
¿  A palavra se refrata.
¿  A palavra toma formas e proporções novas.
¿  A palavra se traduz em ato.
¿  A palavra modifica a sociedade e o mundo.

E. Lévi


Visões de livros e correntes



¿  Os elos da corrente se formam pela propagação da palavra.
¿  A imprensa é um instrumento para formar os elos da corrente.
¿  Nenhum livro é perdido.
¿  Os escritos vão sempre aonde devem ir.
¿  As aspirações do pensamento atraem a palavra.
¿  Os livros mais raros se nos oferecem sempre sem procura da nossa parte.
¿  Os livros mais raros se nos oferecem sempre que se nos tornam indispensáveis.

E. Lévi


Labiríntica Leonoreta


Uma estrofe da sexta parte do poema Amor em Leonoreta, de Cecília Meireles:

entre equívocos momentos,
vem e volta a vida humana,
em redor do paraíso.




Visões do esquecimento da ideia


¿  O homem prende-se à forma.
¿  O homem deixa em esquecimento a ideia.
¿  Os sinais se multiplicam.
¿  Os sinais perdem o seu poder.


Visão da téssera forma-conceito


¿  A beleza da forma se casa com a verdade do conceito.


A linguagem dos Labirintos – a conjunção na antonímia dos verbos


Nem toda oposição é contraditória. As oposições podem ser também correlativas, complementares, contrárias.

No centro do movimento de ir e vir, a conjunção e.

O conector e reúne unidades independentes. Embora haja uma oposição semântica entre ir e vir, e une essa oposição com o laço gramatical da adição.

A conjunção e pode somar unidades que são opostas. A soma gramatical desses opostos não anula: une.

Complementa. Concilia. E é essa união dos opostos – coincidentia contrariorum – que permite a realização da viagem pelo Labirinto.

Consultamos a gramática do Bechara para o estudo acima.




Visão de contradição


¿  A contradição é gerada pela separação de dois aspectos de uma mesma coisa.


Visões de números


¿  Os números cantam com suas notas sempre justas.
¿  Os números são poetas.


Labirinto de Omar Khayyám


Não estás preparado
para desvendar mistérios
e decifrar enigmas convencionais.

Não és capaz
de encontrar caminho
no labirinto
desse palavreado
dos pregadores.

Edifica tu mesmo
No mundo,
com o acre sumo da vide
nas taças transbordantes,
um paraíso para tua alma.

Dúvidas,
só as poderá ter,
- ou não ter
no outro mundo...




Reformulando uma questão poética

Nasadiya Sukta: Hino aos Criadores por N. E. P.


Hino aos Criadores

Não havia inexistência, e existência não havia.
Não havia atmosfera, nem universos depois dela.
Como haveria o que tudo contém, tudo protege? Onde?
Em águas? Insondáveis abismos de água?

Não havia morte – e assim nada imortal,
Só Aquilo respirava em si mesmo sem rumor,
E além de Aquilo nada mais havia.

Havia escuridão, em princípio, e tudo era envolto
Em profunda penumbra – um oceano sem luz.
O germe ainda protegido em sua envoltura
Rebentou com o calor incandescente – essência única.

E logo surpreendeu-lhe o Amor, o salto novo
Da consciência – sim, em seus corações poetas pressentiram,
Contemplando, essa aliança entre as coisas criadas
E as incriadas. Essa centelha, que se espalha
E a tudo penetra, nasce da terra ou nasce do céu?

Então foram semeadas sementes, e gerado o poder plenipotente –
Abaixo: a Natureza; e acima: Vontade e Poder.
A fonte, de onde essa criação multiforme brotou? –
Os deuses mesmos só nasceram mais tarde.

Quem sabe de que fonte brotou essa grande criação?
Ele de quem toda essa criação proveio,
Seja de sua vontade ou seu silêncio,
O Onisciente Supremo no mais alto céu,
Ele o sabe – ou talvez nem ele.


Hino aos Criadores de N.E.P., livre tradução com base no Creation, de F. Max Müller (1859), em gratidão pelos trabalhos de H. H. Wilson (1850), R. T. H. Griffith (1889), A. A. Macdonell (1922), A. L. Basham (1954),  Raymundo M. Sobral (1969), Wendy D. O'Flaherty (1981), Dominic Goodall (1996), Alexandre Vieira (2001), M. P. Moreira Filho (2009) e Álvaro Vasconcellos (n.d.).


Rig Veda, Mandala 10, Sukta 129, em sânscrito, escrita devanagari. Transliteração do devanagari para o alfabeto latino. Tradução para o inglês. Tradução para o português. E tradução em mosaico para o português em Nossos Estudos Poéticos.
  
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Visões da beleza

¿  A beleza é a concepção luminosa do equilíbrio nas formas.
¿  A beleza é o princípio mediador entre o criador e a criação.

E. Lévi


A linguagem dos Labirintos – preposições e artigos


Sempre átonas, raramente isoladas, ligando antecedentes e consequentes, eternas servas da gramática. Cada preposição tem seu significado unitário, que se desdobra em outros significados contextuais (sentidos), em interpretações pessoais que emergem do que sabemos sobre as coisas, do que experimentamos do mundo.

Semanticamente as preposições desses nossos Labirintos caracterizam-se pela dinamicidade. “Do sol à luz/ da luz ao sol”: de indica o movimento de afastamento da origem, introduz as coisas de que outras coisas provêm ou dependem; a indica o movimento de aproximação ao ponto de chegada. Mais ainda: de chegada a um limite. E que logo se revela uma nova origem: “da luz à cor/ da cor à luz”.

Nas sílabas poéticas desses Labirintos, as preposições juntam-se aos artigos definidos. Contraem-se (de + o = do, de + a = da), combinam-se (a + o = ao), gravemente se acentuam (a + a = à). Os artigos determinam e delimitam as palavras que a eles se seguem. Acompanham os substantivos (o sol, a luz, a cor, o tom, o breu) ou substantivam as qualidades (o gris). Sozinhos, são vazios de significação.

Artigos e preposições são portas e canais. Estrofe a estrofe, o fim se torna origem, labirinticamente. O verbo rege a preposição. Não há origem nem particularização sem dependência.

Consultamos as gramáticas do Bechara e do Cegalla para o estudo acima.