Os Lusíadas


Os versos latinos vêm dos sulcos da terra.

Os versos portugueses vêm da linha do horizonte. Vêm da linha do horizonte ondulando em estrofes. Em estrofes ondulantes delineiam praias.

Traduzem os poetas o que entreviram nas entrelinhas que separam espuma e areia, céu e mar, caravela e corpo, superfície e profundidade, partida e chegada, realidade e nada. Nas entrelinhas que separam veículos. Traduzem os poetas o que entreviram em epopeias.

Divisores de águas, escrevem fixando-as. Águas de um mar exterior e oceânico e águas de um mar interior e psíquico. Águas de mares navegáveis. Escrevem fixando palavras.

E hoje, nos blogues, depois de muitas linhas e águas passadas, já não navegamos: vagamos em um mar virtual. Não em um mar: vagamos na própria rede.

É preciso ler antes que a onda de recuo apague tudo.