Triste história tem sido a do escritor e seu público.
Antes da Renascença não havia público. Havia um povo sem instrução. O público começou a se formar na Renascença, com os aristocratas e os burgueses que sabiam ler e escrever. Não eram eruditos, mas eram instruídos.
A formação do público permitiu a formação da profissão de escritor. Escritor profissional é aquele que escreve para o público e que vive disso.
Público e escritor se estabeleceram no século XVIII, época em que se desenvolveram as empresas de livreiros e editores, os periódicos, o jornalismo moderno e as conversações nos cafés.
É durante o Romantismo que o abismo entre poeta e sociedade começou a se abrir. O poeta não se conformou com a sua condição de fornecedor de efusões líricas e de cenários de teatro para as horas de recreio da burguesia. O papel do artista passa a ser o de propiciar ao burguês a sensação de um idealismo vago que não lhe obrigava a nada.
No século XIX, há uma massa enorme de produção literária. Mas o público agora lê para se instruir ou se informar. O encanto vem do rádio e do cinema. O abismo entre escritores superiores e grande público aumenta.
Auerbach considera a história do público e do escritor quase trágica. Entre os séculos XIX e XX, o público vira inimigo do escritor. O público literário não alcança sua autonomia. Torna-se consciente de sua existência política, mas não de sua existência estética. O escritor de gênio passa a não alcançar sua glória em sua época e sente ódio e desprezo pelo público.
No nosso século XXI, como continuará essa história? E se tivéssemos a coragem de saltar no abismo que se abriu entre público e escritor? Alcançaríamos a consciência de nossa existência estética? Público e escritor reencontrariam a poesia? Descobriríamos que não há abismo nenhum, o que há é a nossa economia?