Terra de siena, bistre, bordô, fulvo, ardósia, betume, cobalto, havana, cromo, vermelho de garança, carmim, verde-esmeralda, cádmio, cerúleo, veronèse, ultramar, malva, azeviche. Essas cores são citadas nas cartas de Théo. Tantas cores há quantos são os sentimentos possíveis. Para Van Gogh sentimento é o nome que damos a uma consciência, consciência esta que guia o verdadeiro pintor. E para o poeta? O que corresponde às cores do pintor no ofício do poeta? Seria a tonalidade e a combinação dos significados das palavras que nos permitiria exprimir os mais diversos sentimentos?
Van Gogh escreve em suas cartas que a poesia sempre lhe pareceu mais terrível que a pintura. E ele considerava Rembrandt um verdadeiro poeta, um criador, pois em seus retratos Rembrandt penetrava tão fundo no mistério que era capaz de dizer o que nenhuma língua podia exprimir. Van Gogh também chamava Rembrant de mágico.
“A arte é o homem acrescentado à natureza”. Em nossos tempos econômicos e estatísticos de sustentabilidade, é interessante ler nas Cartas a Théo a relação harmônica que o homem pode ter com a natureza através da arte. Nós podemos extrair dela beleza e paciência e podemos acrescentar a ela significados, concepções, expressão. E a tal consciência ecológica nada mais seria do que uma consciência artística, poética, aquela que guia o verdadeiro pintor, aquela que é feita de sentimento e não só de informação.
“A carga que arrastamos deve ser útil a pessoas que não conhecemos para sermos um elo na corrente dos artistas”. Esse é um dos pensamentos que inspira a realização deste blog. E acredito que nós poderíamos ser melhores se alcançássemos a consciência (no sentido de sentimento) de sermos úteis a quem não conhecemos, de sermos um elo na corrente.