Palavras incompreendidas e
desacreditadas, promessas não cumpridas, notícias desencontradas, estatísticas
que se contradizem, trânsito parado, estranhos que se esbarram, olhares
perdidos que se entrecruzam, atrasos que atrapalham, imprevistos que desviam, computadores
que travam, trabalhos traiçoeiros, preocupações sem trégua, preocupações sem
fim...
Tudo isso apenas para nossa
proteção. Percorremos todos os dias um
labirinto. Não importam as extremidades consideradas, percorremos um
labirinto a vida inteira. Façamos
dele uma grande fortaleza, um poderoso santuário.
O que o labirinto está
a nos dizer? Que linguagem o percorre? O que nosso labirinto está a ouvir?
Os versos, antes de sulcarem a terra escura, são um único ponto de luz.
Do ponto ao raio, do raio ao prisma (uma gota de água): a luz é vertida em sete
cores. Cada um tem a sua cor preferida (escolhida), cada cor tem suas
tonalidades, cada cor se neutraliza em cinza, que é a primeira cor vista pelo bebê antes de poder distinguir as demais. O
breu de nossos Labirintos é o mais
escuro a que a luz pode chegar: a luz chega monossilabicamente a sua própria
ausência. Escuro como a trágica vela de Teseu ao mar em sua viagem
de volta. Escuro, porém inflamável.
E eis o caminho inverso do fogo – subir, iluminando.
Orientemo-nos pelo Verbo, que
se move em espiral nas águas de nosso labirinto; obedeçamos à lei (que é ir e
vir); sejamos os canais de uma
linguagem criadora, que também
está a percorrer o seu próprio labirinto a fim de encontrar o nosso centro.