A criação dos gêneros poéticos. Em Nossos estudos poéticos idealizamos o gênero blogue. Sá-Carneiro escrevia para Fernando Pessoa sobre a criação do gênero textual sonho e a elaboração de um livro de sonhos chamado Além. Ao que me pareceu, os sonhos seriam uma espécie de contos em forma de poemas. Um dos sonhos de Além seria o Bailado, uma descrição sonora e pintada do bailado duma dançarina. No entanto, Sá-Carneiro condena o Bailado à morte por ser uma beleza errada, mas não falsa, uma beleza acumulada à toa.
Sá-Carneiro contava a Fernando Pessoa a ideia principal de seus poemas, o que é diferente de explicar o poema. Na correspondência havia também reflexões sobre a diferença que existe entre adivinhar e entender um poema, entre pressenti-lo e compreendê-lo. Sá-Carneiro trata também de sua concepção de arte. Para ele a arte deveria servir ao pensamento fazendo-o vibrar. “A Arte é Pensamento”, afirmava.
Através da Correspondência com Fernando Pessoa acompanhamos o trabalho do poeta. Lemos o que um poeta tem a dizer sobre a ideia tida, as correções, os abandonos e as concretizações. E vemos como é importante para o poeta ter um colaborador, alguém que leia o que está sendo produzido e que colabore com críticas e sugestões.
Para Sá-Carneiro o Bailado não era uma obra a corrigir, a emendar, mas uma obra a fazer. Ele se preocupava com os artistas que não realizavam aquilo que pretendiam. E o remédio para essa preocupação era o mesmo já conhecido de Van Gogh. Não há senão que ter paciência. Ter paciência para realizar uma obra. Este é um grande ensinamento das artes. E que Nossos estudos poéticos não sejam uma beleza acumulada à toa.