O Ramayana – 126 personagens


Rama, Sita, Ravana, Lakshmana, Viswakarman, Maya, Sumantra, Janaka e Hanuman são nove dos 126 personagens do Ramayana. Nove personas, nove personificações.

Uma das abordagens de Buck para tratar de todos os personagens foi decifrar e fazer uma lista de todos os epítetos de nomes de heróis, deuses e reis do texto original. Ele usou as qualidades desses epítetos para fazer as descrições das personagens. Vejamos algumas:

Sita, filha única da Terra, é eternamente bela. Sita é o Amor, um tesouro bem-achado, bem-revelado, companheira e sombra de Rama pelos caminhos. Quem descreverá Sita? Tudo é esquecido quando ela nos fita e nada mais existe quando ela sorri.

Ravana, o Rei dos Demônios, leu o santo Veda por nada e toda a sua educação foi um desperdício. Ravana é a lua cheia, Rama é a lua nova. Rama caminha ao encontro de Ravana.

Lakshmana, irmão de Rama, era a própria vida de Rama, que lhe caminhava ao lado. A energia de Lakshmana é a quarta parte de Narayana.

Viswakarman, o arquiteto do céu, é o senhor das artes. Foi ele quem primeiro deu nome aos seres e os criou. Diz ele: “Quando o mestre carpinteiro já não vai à floresta escolher sua própria árvore, quando ele mesmo já não a corta e não serra as próprias tábuas, ser-lhe-á melhor dizer adeus às artes!”.

Maya, o Asura, é um verdadeiro artista, um mágico de maravilhoso poder. Tudo o que ele cria é perfeito e completo, enquanto dura, antes de mudar. Tudo é ilusão.

Sumantra é o cocheiro real de Ayodhya. Diz ele: “Todo o universo é apenas um sinal para ser lido corretamente; as cores e as formas são postas aqui só para falar-nos; e tudo é espírito, nada mais existe”.

Janaka é o pai de Sita, senhor de Videha. Possuía uma sabedoria vasta e viva. Sendo livre, não tendo nada para esconder, encontrava o mais doce prazer em dizer tudo o que pensava a qualquer homem. Janaka refletiu sobre tudo e chegou, sozinho, às suas próprias conclusões, decidindo-se pelo Dharma. Matou engano com palavras que libertam o espírito.

Hanuman é o Filho do Vento. Quem é este macaco Hanuman? Rama deixou-o solto no mundo. Ele conhece Rama, e Rama o conhece. Hanuman pode entrar ou sair de qualquer lugar. Ele tomará tua triste melodia para transformá-la numa dança feliz. Temos visto esse macaco branco. Sua guarda é forte. Sobretudo, acautelai-vos, nunca façais mal a um poeta livre.

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A descrição é um importante processo criativo porque com ela entramos na esfera das qualidades. É a descrição que anima a personagem, trazendo a vida que está contida em seu nome para o texto. E a vida de um personagem, a sua razão de ser, é o significado que ele traz consigo.

Além da descrição, outras duas ações criativas nos chamam a atenção – a personificação e a composição de tésseras. Compor tésseras é unir as partes que se completam, sejam essas partes sombras (Sita), duplos (Lakshmana) ou opostos (Ravana). A téssera é ao mesmo tempo a oposição e a completude. Rama é Sita nascida da Terra, e é Ravana, o Rei dos Demônios, e é Lakshmana como o espelho. Sita, Ravana e Lakshmana são as peças que compõem a téssera com Rama.

Personificar é representar simbolicamente as qualidades, individualizando-as. Nove de 126 personagens. Nove personas, nove personificações. Nove de 126 máscaras cobrindo as faces do abstrato a fim de que princípios e ideias se tornem visíveis através das palavras. Amor, desperdício, vida, arte, ilusão, espírito, dharma, poesia... quantas são as máscaras, quantas são as faces do todo?