O Verbo disse: Nada!


Um soneto para recomeçar.

Encontramos a tradução do poema desta postagem durante uma típica faxina de fim-começo de ano. Ela estava anotada em um caderno de 2009, mas sem a fonte. Acreditamos que tenha sido tirada de um livro que não foi encontrado durante a faxina (está emprestado). Segue, então, o original em francês de 1847 encontrado no Google.

Bom 2013!

ET VIDIT QUIA BONUM.

L’Homme a dit: J’ai voulu tout savoir, je sais tout!
Dans mon domaine étroit je ne tiens plus en place;
J’ai vécu tout mon temps, couru tout mon espace,
J’ai la Vie en horreur, et la Terre en dégoût!

La Terre a dit: Mon sein s’appauvrit et se glace,
Et mon lait en poison pour l’homme se résoût;
La lèpre du péché qui l’envahit partout
S’étend jusqu’à mes os; d’enfanter je suis lasse!

Le Ciel a dit: L’éclair se rouille au glaive ardent,
Et l’Ange, au saint parvis, s’ennuye em attendant
Qu’un élu des élus commence enfin le nombre.

L’Enfer a dit: Satan se fatigue à tasser
Le damné qui pullule au charnier qui s’encombre!
Le Verbe a dit: Néant! c’est à recommencer!

Ephémères: poésies par Joséphin Soulary


E VIU QUE ERA BOM.

O Homem disse: Eu quis tudo saber, eu sei tudo!
No meu estreito domínio não posso mais me manter;
Vivi todo meu tempo, percorri todo meu espaço,
Tenho horror à Vida e a Terra me desgosta!

A Terra disse: Meu seio empobrece e gela,
E meu leite em veneno para o homem se torna;
A lepra do pecado que tudo invade
Estende-se até meus ossos; estou cansada de procriar!

O Céu disse: O relâmpago se oxida no gládio ardente,
E sente tédio o Anjo no átrio sagrado à espera
Que um eleito entre os eleitos comece enfim a multidão.

O Inferno disse: Satanás se cansa de empilhar
Os condenados que pululam no ossário entulhado!
O Verbo disse: Nada! é preciso recomeçar!

Efêmeros: poesias de Joséphin Soulary