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ornarmo-nos esfinges, ainda que falsas, até chegarmos ao ponto de já não
sabermos quem somos. Porque, de resto, nós o que somos é esfinges falsas e não
sabemos o que somos realmente. O único modo de estarmos de acordo com a vida é
estarmos em desacordo com nós próprios. O absurdo é o divino.
Estabelecer teorias, pensando-as paciente e honestamente, só para
depois agirmos contra elas – agirmos e justificar as nossas ações com teorias
que as condenam. Talhar um caminho na vida, e em seguida agir contrariamente a
seguir por esse caminho. Ter todos os gestos e todas as atitudes de qualquer
coisa que nem somos, nem pretendemos ser, nem pretendemos ser tomados como
sendo.
Comprar livros para não os ler; ir a concertos nem para ouvir a música
nem para ver quem lá está; dar longos passeios por estar farto de andar e ir
passar dias no campo só porque o campo nos aborrece.
L. do D., composto por Bernardo Soares