Shiva, o grande deus, dividiu
este romance em três partes. Como sobrasse uma seção, dividiu-a em três. Sobrou-lhe
um verso, que ele dividiu também. Ficou-lhe ainda uma palavra, e esta – a
palavra Rama – ele guardou
para si como sendo a essência e o coração de tudo.
Rama mereceu a dádiva
do primeiro poema. Dentre todos os homens, somente Rama nasceu conhecendo
o próprio coração. Ler corações fazia parte de sua natureza
livre e calma.
De acordo com o Ramayana, vivemos a última e melhor
idade do mundo, pois nenhum ato tem valor, tudo é inútil... exceto dizer Rama. Rama
é o que diremos quando tudo estiver se reduzindo a nada em torno de nós. Dizer Rama enquanto temos a oportunidade
é fazer do nosso coração um santo lugar de amor. É
iluminar nosso coração, desembaraçando-o tanto do mal
quanto do bem.
Antes de morrer, atingido pelas
balas de seu assassino, as últimas palavras de Gandhi foram Rama, Rama.
Que palavra é essa – Rama? Que nome é esse que abre
versos na Terra, que é descrito e personificado, que dá forma a um caminho, que
é guardado pelo deus da destruição, que inspira uma canção, e que chega ainda
hoje até nós em um livro de poesia?
Para o Swami Prabhupada é o nome
que significa a fonte de todo o prazer.
Para Harendr Upadhyay é aquilo que transpõe o centro dos que são abençoados com
um poder verdadeiro; é o que dá e retira a vida.
Ramayana quer dizer Caminho
de Rama. Mas o que
quer dizer Rama? Quem ou o que é Rama?
Em Nossos Estudos Poéticos visualizamos o Ramayana como o caminho do coração. O coração simboliza o
centro vital do ser humano. De acordo com nosso dicionário de símbolos, o coração
é o centro da individualidade, para o qual a pessoa retorna na sua caminhada
espiritual.
O coração é o símbolo da
presença e da consciência divina. Os nomes e atributos divinos constituem a
verdadeira natureza do coração. O ponto mais íntimo do coração
é chamado mistério e é onde a
criatura encontra deus. O coração amante é o espelho do mundo
invisível e de deus. Plástico e receptivo, assume qualquer forma pela qual deus
se revele. O coração de um homem é seu próprio deus.
Ao fim de nossas sete tesselas
sobre o Ramayana de William Buck,
vimos um coração
se formar em nosso mosaico. Vimos um coração se formar não com quatro
cavidades, mas com as quatro letras da palavra Rama.
Um coração
que é uma téssera de movimento. A sístole e a diástole simbolizam a expansão e a
absorção dos nossos universos de questões.
A que símbolo chegará cada um ao
fim de suas próprias leituras? O que irá ganhar forma em cada caminho
individual?
Disse Hanuman: “Mas, se quiserdes
uma estrada para o céu, dizei apenas Rama”.
E com as unhas afiadas, rasgou o próprio peito, repuxando a carne para os lados.
E todos viram que estava escrito, repetidamente, em todos os ossos, com lindas
letrinhas – Rama, Rama, Rama, Rama, Rama, Rama...