Solstício de verão


Gamboa Seasons - Summer Love 2010, de Beatriz Milhazes

As novas formas vieram! Cheias de luz.

Vimos esta obra na exposição Meu Bem no Paço Imperial do Rio de Janeiro.

Com a série Gamboa Seasons de Beatriz Milhazes na nossa série das estações do ano, desejamos um verão irradiante e ensolarado para todos.




Fonte da imagem: Escape into life


Visões do coletivo criador

¿!  O criador é tomado do desejo de criar.
¿!  O criador é tomado do poder de criar.
¿!  O criador é impelido a criar pela força do que tem que ser criado.


¿!  O criador é coletivamente a força criadora do universo.


Mangifera indica – 13/12




13/12  “A planta é um corpo de que o vento é a alma”
“Que o vento vai levar rumo diverso,
do último galho e do último soneto
a última folha e o derradeiro verso”
“O vento é o mesmo:
mas sua resposta é diferente em cada folha
somente a árvore seca fica imóvel”

Olhando a árvore pela janela:
Anteontem na noite do eclipse lunar
anteontem na noite do solstício de verão
eu ouvi não a voz das árvores
eu ouvi a voz dos poetas
conversando em uma língua muito antiga
Uma língua da época em que as palavras
ainda não haviam deixado de ser parábolas

Olhando a poesia pela árvore:
e fogos se moveram sobre a face das águas
luzes e estrelas
anjos e sinos
(que um dia foram símbolos)
amanhã serão todos guardados
ao se desmontar a árvore de natal
Alguém disse que ele disse
que pelo fruto
pode-se conhecer a árvore
querendo dizer
que a boca fala
do que se tem no coração


13/11        13/01


Os gêneros literários – a Questão


A questão dos gêneros literários é uma velha questão. E das questões se criam universos.

O problema é: os gêneros literários realmente existem? E se existem, eles são meramente convenções estabelecidas pelo hábito ou eles são estruturas universais que abarcam toda a possibilidade de criação literária?

Em Welleck & Warren, o tipo literário é uma instituição tal como a Igreja, a Universidade ou o Estado. No entanto, eles não explicam de onde os gêneros vêm.

Massaud Moises diz que os gêneros nascem de uma espécie de imposição natural, de algo como a adaptação do indivíduo ao ritmo cósmico. Mas não explica o que é esse algo nem a relação entre gênero e ritmo cósmico.


A questão


Existem leis ontológicas ou cosmológicas das quais os gêneros são uma extensão, manifestação ou expressão no mundo literário e linguístico, ou simplesmente os gêneros não existem?


A criação


Aplicar ao estudo dos gêneros literários os princípios ontológicos, que são tão velhos como o mundo.


O universo


As leis ontológicas ou cosmológicas existem. Os gêneros existem, da mesma forma que as leis da lógica existem. O fora da lei, por mais que ignore, não invalida a existência da lei.

Os gêneros literários são conjuntos de possibilidades para a organização de obras literárias, e derivam de uma necessidade ontológica. Eles estabelecem os limites das possibilidades da invenção literária, diferenciando-se num certo número de direções e orientações para o desenvolvimento do trabalho.

Eles funcionam como as direções do espaço – quanto mais o núcleo essencial de uma obra é estritamente comprometido com as regras de um gênero, mais difícil será escapar dessas regras ou até combiná-las. Algo como escolher rumar para o Norte, situação em que todos os passos seguintes, para se manterem coerentes e razoáveis, devem seguir essa mesma direção com maior ou menor retidão a fim de atingir o local pretendido.


“Os gêneros literários, a rigor, são realidades arquetípicas:
a dificuldade em ver está no sujeito e não no objeto”
(Os gêneros literários: seus fundamentos metafísicos. O. de Carvalho)


Continua em Os gêneros literários – o Infinito


Mitose

O termo Mitose deriva da palavra grega mitos, que significa “tecer com fios” e refere-se ao fato de os fios cromossômicos se tornarem cada vez mais visíveis ao microscópio óptico, no decorrer da divisão celular.

Amabis e Martho em Fundamentos da Biologia Moderna


Campus Martius VIII

VIII

teu rosto de soldado surge em ti
e morre sem saber o que é morrer.


Mangifera indica – 13/11




13/11   de gradação em gradação
move-se a árvore
da sementeira à raiz, da raiz ao tronco
dos galhos aos ramos, dos ramos aos frutos, dos frutos às sementes
ascende e descende e ascende e descende
até que as raízes se configurem como pés firmes
e os galhos como braços que buscam
e os homens, que veem seus pés e seus braços,
ouvem também suas vozes, seus cantos, seus choros
Por que quer o homem personificar a árvore
seguindo seu caminho tão desarvorado?

Olhando a árvore pela janela:
Movem-se reticentes
sete... oito... nove...
sementes crescentes

Olhando a figura pelo poema:
“Olha antes a semente (...)
vê através do pequeno embrião de árvore”
“As árvores e os homens se confundem (...)
(...) os poetas foram árvores!”
“Uma velha mangueira comovida,
deita no chão maldito a sombra boa.”
“No galho das mangueiras
o vento canta.”
“Quando galhos prolongo, entendo o meu destino
“E, quando os ventos rugem nos espaços,
os seus galhos se torcem como braços
de escravos vergastados pelos ventos”


13/10        13/12


Nenhum fragmento

NENHUM FRAGMENTO SOZINHO É CAPAZ DE REFLETIR A BELEZA DE TODO O MOSAICO.


Campus Martius VII

VII

teu rosto de soldado é informe ainda, poema
e aqui, o desafio é mais denso
exemplo ― como terminar teus dias?

Anúbis   —   Miguel   —   Ares   —  
            Marte   —   Jorge   —   Ogum
—   Capitão Nascimento   —   Brahmeiros
o guerreiro de hoje é o deus de amanhã

soldado que mata e
salva na mesma medida
(tu,
que me encara, conheces
alguém que só salva na vida?)

soldado que luta
uma luta
que nem sei, luta que nem posso

soldado que mata e
            à noite faz poesia
que rosto te deu esta vida?
um rosto sem nada, sem história
sem ação, sem narrativa
sem forte comoção — nisto há vida?

um rosto que espia o mundo
e luta
para voltar a si

que espia o mundo
que o mundo espia
que espia o mundo
e luta
estarrecido, destemperado, luta,
com o que há na frente, luta, bêbado
à noite, sem contornos, sem lampejos
luta, somente, luta, com ímpeto vital
com um imperativo
            cujo limite é tudo conquistar, luta
com a luta, com a vida, com a morte
e descobre a luta
como a marca em teu rosto, com os traços
grossos a delimitar um sorriso, luta
e daqui surge o olhar preciso

luta estarrecido, pois tu mesmo
é a luta, tu mesmo é a guerra, tu
mesmo é a paz, tu mesmo é
a morte, é a vida, tu mesmo é a humanidade
em ti, tu mesmo é
teu rosto, tu mesmo
é o poema

ainda assim te mato, soldado!
hoje te mato
assim, quero talhar teu rosto
vencer tua batalha, vencer
o soldado em mim, olhar-te
cara a cara
olhar-te, agora, já com o rosto à mostra
em tom de desafio
e murmurar —
“por um milagre, talvez,
cala-se a guerra!”


Aves calcificadas


A Pedra

Dorme que nem pedra.
Os homens são pedras
         enquanto dormem.

Descansam ao som das ondas
e à sombra das gaivotas
         enquanto dormem.

Homem! Cinge tuas asas
         enquanto a Pedra dorme.


Foto: Nick Brandt. Fonte: New Scientist.

 
Este é o Lago Natron, no norte da Tanzânia.

Este é o lago de nome Natrão –  um mineral composto por carbonato de sódio hidratado, uma das substâncias utilizadas pelos antigos egípcios nos processos de mumificação, quando as múmias ficavam imersas num composto de carbonato de sódio, bicarbonato de sódio, cloreto de sódio e sulfato de sódio.

No lago Natron, as temperaturas podem chegar a 60°C.
No lago Natron, a alcalinidade é entre pH 9 e pH 10,5.
No lago Natron, acumulam-se as cinzas vulcânicas do Grande Vale do Rift.

No lago Natron, as aves se iludem com a reflexão na superfície do espelho d´água.
No lago Natron, as aves, como Narciso, mergulham em si.
No lago Natron, as aves, ao se secarem, morrem calcificadas.


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Visões de realização e creação

¿!  A palavra realização indica um poder creador.
¿!  A Essência faz emanar de si as Existências por meio deste poder creador.
¿!  O resultado da creação é o poema cósmico do Universo.


Campus Martius V

V

teu rosto de soldado é informe ainda
lembra-te, como foi um dia lutar sozinho
somente olhar a paisagem dura da cidade:

o concreto embrulhava as raízes sob seus pés
grades de ferro abraçavam troncos ingênuos e tortos
postes de chumbo podavam os galhos de sua vista
prédios e canais e avenidas eram embalagens
                        envolvendo montanhas
era o silêncio congelando os assuntos
preconceitos sufocando sentimentos
eram roupas modernas e desajustadas
como velhos hábitos vestem um corpo novo

lembra-te, Drummond, nascem flores no asfalto
nasce tenro e inocente combate
― e avança a libido de morte sobre a mata virgem

lembra-te, lembra-te
de teu rosto
a vida que é mole cavando a morte dura.


Campus Martius II

II

que é teu rosto?
é pensamento que não é pensamento algum?
é este vazio repleto de algo que apenas pressinto?
que movimento é possível no que não existe?

recruta recruta recruta
o olhar não alcança
pois não há o que esta mão alcançar
ainda
esta mão acostumada às ruas
a tocar nas maçanetas das portas
a trocar dinheiros resfriados
a tirar as fezes do cachorro
a coçar o olho a boca o nariz
a tapar o buraco da pia
a destapar o bueiro da chuva
a limpar o rastilho de pólvora
a torcer e a rezar de mãos dadas
esta mão
não toca o movimento, o vazio, o pensamento
(e demais abstrações)
            esta mão não toca
a morte, mesmo que segure as armas ainda
            não toca a luta,
embora mantenha o próprio peito à mostra
não toca a vida, ainda que sustente o parto às mãos.


Visões do fazer poético

¿!  A poesia do homem pleno consiste em fazer com leveza as coisas pesadas.
¿!  A poesia do homem pleno consiste em fazer com facilidade as coisas difíceis.
¿!  A poesia do homem pleno consiste em fazer com suavidade as coisas amargas.
¿!  A poesia do homem pleno consiste em fazer com alegria as coisas tristes.
¿!  A poesia do homem pleno consiste em fazer com sorridência as coisas dolorosas.


Resposta

Resposta – 1) Ato ou efeito de responder. 2) Aquilo que se diz ou escreve para responder uma pergunta. 3) Refutação, replicação. 4) O que decide, ou explica alguma coisa; solução. 5) Carta que se manda ao remetente de correspondência recebida, e que versa sobre o mesmo assunto. 6) Qualquer ato que se segue a um estímulo exterior e a ele está imediatamente ligado. (Adaptado do Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa)

Respostacruzamento do latim reposita, particípio passado feminino de reponere – repor – com respondere, que substituiu responsum; a variação antiga reposta procede diretamente de reposita. Século XIII; reposta, século XIV. (Adaptado do Dicionário Etimológico)

Reponere – recolocar, repor, restabelecer, tornar a levar à cena, reproduzir; trazer para trás, dobrar, torcer, abrandar, acalmar; fazer resistência; reservar, guardar; substituir; pousar sobre, firmar, apoiar; entregar, confiar; largar, deixar, cessar. Respondere – afirmar; prometer; apresentar-se, comparecer; ser refletido; estar face a face de; corresponder; o pagar na mesma moeda; ser semelhante; satisfazer; dar bom resultado, obedecer à; ir bem, prosperar; produzir efeito, ser eficaz; resistir a; voltar periodicamente, pertencer a, tocar. (Adaptado do Dicionário Latino-Português)

Resposta – eco, negação, divergência, oposição, o sim, o não, reação, protesto, vaia, desconstrução, emenda, correção, censura, causa, chave, Édipo, oráculo [em resposta]. Contraposição, observação, ponderação, o reverso da medalha, contraindicação [em réplica]. Sagacidade, senso de humor, elegância, sal, graça, repente, sutileza, farsa, brincadeira, malícia, alfinetada, piada, ironia, sarcasmo, ridículo, conceito, jogos de palavra [em espírito]. Descobrimento, invento, criação, lampejo, achado, encontro, desenredo, resolução de uma dificuldade, desvendamento, saída, resultado, revelação, desencanto, soltura, raízes de uma equação, heureca! [em descoberta]. Inteligência, desenvolvimento, exposição, significação, elucidação, desembrulho, esclarecimento, glosa, cabala, versão, segredo, novelo, fio, ilustração, exemplificação, luz, leitura, construção, equivalente, analogia [em interpretação]. (Adaptado do Dicionário Analógico)

Chavesímbolo do mistério a penetrar, do enigma a resolver, da ação dificultosa a empreender, das etapas que conduzem à iluminação e à descoberta. O simbolismo está relacionado com o duplo papel de abertura e fechamento. É, ao mesmo tempo, um papel de iniciação e de discriminação. Um duplo aspecto do poder: a chave liga e desliga. Escreve Dominique Zahan que os bambaras dizem que “tudo o que se diz, tudo o que se faz, no homem, no reino, no mundo, é porta”. A chave simboliza aquele que detém o poder de decisão e a responsabilidade. O emblema do deus romano Jano é composto por uma chave de ouro e outra de prata e corresponde à autoridade espiritual e às funções régias. As chaves de Jano abrem também as portas dos solstícios. Ele é considerado como o guia das almas, guardando todas as portas e governando todos os caminhos. (Adaptado do Dicionário de Símbolos)

JanoÉ o guardião do universo, o abridor e fechador de todas as coisas, olhando para dentro e para fora da porta. É também o deus dos inícios – por exemplo, do primeiro mês do ano Januarius. Suas duas faces, uma voltada para frente e outra para trás, sugerem vigilância constante e sabedoria como conhecedor do passado e adivinho do futuro. O templo de Jano era um pequeno santuário de bronze no Fórum, com portas abrindo para o leste e para o oeste. As portas só ficavam fechadas em tempo de paz, ou seja, raramente. (Adaptado do Dicionário de Mitologia Grega e Romana)


Poesia do link

MAIS RELAÇÕES, MENOS PALAVRAS.


Campus Martius I

I

teu rosto de soldado é informe
é teu o pensamento sem fronteiras
o vazio antes da criação
o movimento silencioso, sussurrante, arrastado
arrastando-se por sob a vista
sem que a vista veja
sem que a mão toque
                        sem que exale cheiro
                        sem que sequer sinta

em mim
teu rosto é informe, Poema.


Leitura silenciosa

LER POESIA PARA OUVIR O CANTO DA VOZ INTERNA NO SILÊNCIO DO MUNDO.


Campus Martius – início

Ela chora, insensato, porque já viveu!
E porque vive ainda! E o que ela enfim deplora
E que até os joelhos vem dar-lhe frêmito atroz,
É que viva será amanhã como agora!
Amanhã e depois e sempre!... como nós!


 A máscara, C. Baudelaire


Mangifera indica – 13/10




13/10   Semelhante a um coração que se inverte
Semelhante a um coração que se repete
Semelhante a um coração que se assemelha
Do radical
deriva o prefixo
movimentando um coração ideal
A mangueira
é a árvore da manga
A manga
é o fruto da mangueira
De derivação em derivação
move-se a árvore
arvorecendo famílias de palavras
Por entre o tâmil e o malaiala
por entre o português e o latim
ao longo do tempo dos caminhos linguísticos
De onde vêm os nomes?
Que movimentos formam na realidade as palavras?

Olhando a árvore pela janela:
no dia de finados
os corações defuntos não amadurecidos
arrancados pela tempestade passada
já haviam sido colhidos do chão
E o verde da copa alaranjado
e o réquiem pela cigarra cantado
recolhiam o fim de um feriado prolongado

Olhando as figuras pela palavra, pelo pensamento, pela construção:
é esta mangueira todas as mangueiras e todas as árvores
são todas as árvores a incorporação do movimento


13/9       13/11


O grande verso

O GRANDE VERSO UNE A INSEPARÁVEL TÉSSERA.


Face universal

Facies totius universi, quamvis infinitis modis variet, manet tamen semper eadem.

A face [aparência] de todo o universo, conquanto varie de infinitos modos, permanece contudo sempre a mesma.

Spinoza


Visões poéticas revistas

¿!  Uma verdade poetizada pode ser transformada em uma ficção poética.


Forma e conteúdo

A FORMA DO POEMA É CÍCLICA. É CÍCLICO O CONTEÚDO DO POEMA.


O absurdo e o sagrado

O QUE NÃO OUVIMOS SE TORNA ABSURDO PARA NÓS. O QUE OUVIMOS SE TORNA SAGRADO.


Visões de mosaico


¿!  O mosaico é o todo.
¿!  As tesselas são as partes do todo.
¿!  A téssera é a dualidade parte-todo.
¿!  O link é o que relaciona as partes e o todo.

(foto Jayanta Dey/ Reuters)


Amor em fragmentos

Impulsionados pela força do amor os fragmentos do mundo buscam-se uns aos outros de modo que o mundo possa existir.


Pierre Teilhard de Chardin


Postagens e numerais: quantidade e ordem

Para contar objetos concretos os hopi utilizam os numerais cardinais. Para contar unidades de tempo eles usam os numerais ordinais. Assim, os hopi se referem a dia sempre no singular. Eles contam os dias como manifestações contínuas de um único dia

O tempo dos hopi é cíclico. O dia de ontem é o mesmo dia que retorna hoje e é o mesmo dia que retornará amanhã: o dia primeiro (ou a primeira aparição do dia ou a primeira vez que ele apareceu), o dia segundo, o dia terceiro...

De acordo com as estatísticas do Blogger, temos 444 postagens. Mas como deveríamos contar os nossos estudos poéticos? Com que numerais podemos contar o que é escrito virtualmente? O que é mais adequado para contar textos apresentados com data e hora de publicação em uma cronologia reversa, onde o primeiro é sempre o último? Este post é mais um post, um outro post, ou é novamente o mesmo post? Um post é um objeto concreto ou uma unidade de tempo?

O que compõe um mosaico – a quantidade ou a ordem das tesselas?


Equinócio de primavera

A Espera, de Picasso

Durante a primavera de 1901, este quadro foi pintado por Picasso.

Remete aos mosaicos. Aos mosaicos do nome e da técnica.

O título da obra é Pierreuse, a Mão sobre o Ombro, é também Margot e é também A Espera. Uma composição de nomes.

O fundo do quadro recria peças de um mosaico, seis anos antes do ponto de partida do Cubismo: Les Demoiselles d´Avignon. O mosaico foi a espera até que a semente do Pontilhismo florescesse por fim em cubo. Marcando uma nova primavera na arte pictórica.

Que venham novas flores e novas formas!




Fonte da imagem: Blogue Desesperando Godot


Fatos e mitos

FATOS PRODUZEM MITOS.
MITOS PRODUZEM FATOS.


Poesia vende?

A PUBLICIDADE É A POESIA DA ECONOMIA.


Visões de número

¿!  Não existe primeiro.
¿!  Não existe último.
¿!  Todos são um.
¿!  O número nasceu do não número.


Mangifera indica – 13/9




13/9     para chegar já outra árvore
ao mesmo lugar de onde partiu

Olhando a árvore pela janela:
a última gota de chuva estremece as folhas
rompendo a imagem de um instante
Voam da mangueira
rolinhas, sebinhos e beija-flores
Hoje é dia da árvore nos calendários
avança a árvore um quadrante
No sul, é o equinócio de primavera
no ar, há mais pássaros que folhas
na árvore, há o verde
das folhas e das seis mangas já grandes

Olhando as palavras pelo dicionário:
da raiz vinda do latim arbos
desenvolve-se o vegetal cujo tronco dá ramos no alto
A árvore une os sentidos
do que antecede e do que procede
A árvore dos galhos, dos ramos, dos frutos e das sementes
A árvore da sementeira, da raiz e do tronco
A linhagem dos antigos aos herdeiros
causa e efeito alinhados
num signo que é presença
Da família das Anacardiáceas
estrangeira entre as aroeiras
os cajus e os cajás
Anacardiácea
Semelhante a um coração que se eleva


13/8        13/10


Pergunta e resposta

[...] ser pacientes com tudo que esteja insolvido (em nossos corações) e procurar amar as próprias perguntas como câmaras fechadas e como livros que estão sendo escritos numa língua muito estranha... o que importa é viver tudo. Vivamos as perguntas agora. Talvez, gradualmente, sem percebermos, vivamos, em algum dia distante, nas respostas.

Rilke


Gonzagão – A lenda


"Sabe supor"?  "Posso tentar"!... (diálogo do musical Gonzagão - A lenda)


Vamos supor que todo artista tenha uma téssera e que a téssera de Luiz Gonzaga seja composta por dois pássaros – Asa Branca e Assum Preto.

Assum Preto vive em meio à beleza, mas é cego. Asa Branca pode enxergar tudo, mas tudo que vê é seca, sede e solidão. De Assum Preto ouvimos o canto. De Asa Branca ouvimos o bater de asas.

Vamos supor agora que exista uma lenda que diga que uma téssera, quando cantada, desperta os próprios poderes do canto.

A poesia é o poder do canto. O canto é o sopro da criatura em resposta ao sopro do criador. O poeta adivinho, quando realiza sua função, expressa-se através do canto. Encontramos em línguas como o irlandês e o bretão a ligação da palavra canto com as palavras encantação e lição.

Vamos supor ainda que a lenda diga que uma téssera cantada, se ouvida, desperta os poderes do voo.

A poesia é o poder do voo. As asas simbolizam a desmaterialização, a leveza do peso abandonado. O poeta tem asas no momento em que está inspirado. Asas nunca são recebidas: são sempre conquistadas. Dizem os bramanas que aquele que compreende tem asas.

Vamos supor também que essa suposta lenda da téssera dos pássaros possa unir esse suposto voo e esse suposto canto.

O canto atrai o voo. Asa Branca voa em busca do canto de Assum Preto.

Vamos supor por fim que a verdade possa estar na lenda e na história ao mesmo tempo – Asa Branca e Assum Preto são um pássaro só.


Tentando supor a partir do musical Gonzagão – A lenda, de João Falcão, e de consultas ao Dicionário de Símbolos.


Assum Preto e Asa Branca


Tudo em vorta é só beleza
Sol de abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor (bis)

Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do Assum Preto
Pra ele assim, ai, cantá mió (bis)

Assum Preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil vez a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá (bis)

Assum preto, o meu cantar
É tão triste como o teu
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus.


Quando olhei a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação (bis)

Que braseiro, que fornalha
Nem um pé de plantação
Por farta d’água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão (bis)

Até mesmo a Asa Branca
Bateu asas do sertão
Então eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração (bis)

Hoje longe, muitas léguas
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim voltar pro meu sertão (bis)

Quando o verde dos teus olhos
Se espalhar na plantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu, meu coração (bis)


Visões de criação e diferenciação

¿!  Não há criação.
¿!  Há diferenciação.
¿!  Cada postagem é uma diferenciação.
¿!  Toda diferenciação cria novo link.
¿!  A postagem está sujeita ao link.


3108 – Dia do blogue




Vida rara aos blogues!


¿!

pequeníssimos nós - 1

não gosto muito de falar das costelas
as costelas do barco
as costelas me encafifam
como podem as costelas?
tão mais que o mugido da vaca
desnorteando as águas
o sal nelas

(Carla Diacov)

¿!

Mestres antigos

O amor que temos aos desconhecidos de quem aprendemos a gostar - os poetas, os cineastas, os músicos, os artistas, os professores das coisas vãs e fúteis que são a matéria da vida - tem uma natureza diferente do amor pela família próxima ou pela mulher que nos escolheu amar de volta. Mas nem por isso é um amor inferior ou menos importante. O que somos, o que nos constitui, tem tanto a ver com pessoas como com os objectos artísticos que nos deslumbram. Sentimos tanto a distância dos nossos mestres como das pessoas com quem vivemos os anos da nossa vida. Mais claro: amamos quem nos ama de volta mas também quem, criando, nos ensina a amar o mundo. E quando os mestres se vão, a dor é funda.

(Sérgio Lavos)

¿!

Segunda-feira, 15 de julho de 2013

Quantas insónias/ precisas/ para construir/ uma noite em bra/nco?

(Heduardo Kiesse)

¿!

Origem da Pó dos Livros:

A ideia do nome da livraria Pó dos Livros surgiu-me quando estava a ler o livro "A Sombra do Vento", de Carlos Ruis Zafón. É um livro que, para além de muitas outras coisas, nos fala de um cemitério de livros esquecidos - livros cheios de pó. Este facto recordou-me uma pequena história passada comigo e com o meu pai durante a minha infância. O meu pai era um bibliófilo, comprava e lia compulsivamente. Um dia, pela tarde, em que mais uma vez chegava a casa com um saco cheio de livros, velhos e com pó, perguntei-lhe:

- Pai, porque é que compra sempre livros velhos e cheios de pó?
- Foi precisamente por terem pó que eu os comprei.
- Não entendi...
- Os livros com pó são os livros que resistiram ao tempo, por isso os considero importantes.

(Jaime Bulhosa)

¿!

Leitura de imagem (1) - Part...ilha

Sim...
são tantas as partes
que me cabem!

Mas bebem
do mesmo íntimo.

(Joelma B.)


Fonte da imagem: Garota Xilique


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