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A palavra mãe nas línguas indo-europeias (A aventura das línguas, de Hans J. Störig, p. 42) |
Nascemos fluentes
apenas na língua das lágrimas. Choramos alheios a qualquer
idioma. Vindos não sabendo sequer de onde, somos postos nesta Terra
como estrangeiros. Até que sejamos recebidos por
uma língua materna, até que dela recebamos um caráter próprio.
Ao longo da
vida, nossa língua materna vai nos nutrir de visões sobre o mundo em
que nos encontramos, quer seja esse mundo externo ou interno. Ela vai nos unir com
sua sintaxe, dar forma às nossas ideias, pôr sentido em nossos sentimentos. Com
ela poderemos diferenciar a parte do todo: conversaremos nossas próprias conversas,
conheceremos nossos próprios conhecimentos, rezaremos nossas próprias rezas, riremos
nossos próprios risos e continuaremos chorando nossos próprios choros.
Nascemos no Brasil, fomos recebidos pela língua portuguesa, tornamo-nos talvez os
únicos herdeiros da saudade na Terra.
A língua portuguesa pertence à
família das línguas indo-europeias. É filha do latim, língua-mãe da Europa. Não
do latim dos poetas clássicos e do clero. Mas sim do latim dos soldados,
mercadores, funcionários e colonos que chegaram à Lusitânia. Língua de caráter
grave, o português cruzou o oceano e desenvolveu um caráter mais brando, o que levou
Eça de Queiroz a dizer que, por aqui, fala-se português com açúcar.
Neste
segundo domingo de maio de 2013, dia das mães, mês
de Maria (a mãe do Verbo), Nossos Estudos Poéticos prestam
homenagem à língua portuguesa – nossa língua materna, mãe de seus falantes,
esposa de seus poetas. Que
seus filhos respeitem suas regras, seus esposos sejam fiéis a seus votos, e que ambos lhe tenham amor e devoção.
E que a saudade, este sentimento
que trazemos talvez de outras terras, esta palavra que um dia acabamos por
herdar de nossa língua materna, nos saiba grave e doce.