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"Sabe supor"? "Posso tentar"!... (diálogo do musical Gonzagão - A lenda) |
Vamos supor
que todo artista tenha uma téssera e que a téssera de Luiz Gonzaga
seja composta por dois pássaros – Asa Branca e
Assum Preto.
Assum Preto vive em meio à beleza, mas é cego. Asa Branca pode enxergar tudo, mas tudo que vê é seca, sede
e solidão. De Assum Preto ouvimos o canto. De Asa Branca ouvimos
o bater de asas.
Vamos supor
agora que exista uma lenda que diga que uma téssera, quando cantada,
desperta os próprios poderes do canto.
A poesia é o poder do canto. O
canto é o sopro da criatura em resposta ao sopro do criador. O poeta adivinho,
quando realiza sua função, expressa-se através do canto. Encontramos em línguas
como o irlandês e o bretão a ligação da palavra canto com as palavras encantação
e lição.
Vamos supor ainda que a lenda
diga que uma téssera cantada, se ouvida, desperta os poderes
do voo.
A poesia
é o poder do voo. As asas simbolizam a desmaterialização, a leveza do peso
abandonado. O poeta tem asas no momento em que está inspirado. Asas nunca são
recebidas: são sempre conquistadas. Dizem os bramanas que aquele que compreende
tem asas.
Vamos supor também que essa suposta
lenda da téssera dos pássaros possa unir
esse suposto voo
e esse suposto canto.
O canto atrai o voo. Asa Branca voa em busca do canto de Assum Preto.
Vamos supor por fim que a verdade
possa estar na lenda e na história ao mesmo tempo – Asa Branca e Assum Preto são
um pássaro só.
Tentando supor a partir
do musical Gonzagão – A lenda, de
João Falcão, e de consultas ao Dicionário
de Símbolos.