Terça-feira de carnaval


tempo não tinha para morrer
e morrer de pressa
às vésperas do carnaval

e antes da morte
por anos e anos
exausto de sol
                        em campo de cansaço e descanso

[...]

seu corpo fervia
na pele do fogo
            na voz da agonia

[...]

o rosto ardia
assim resistia
de perto
ao temperamento do tempo

ardiam seus membros frios
ardiam os extremos
dos pés aos cabelos

era carnaval
eram duas chamas
dançando no quintal
e mais a vela ardia
            no fogo do inferno
            no fogo celestial

[...]

seu corpo
sacode as saias do fogo
arranca dele o calor
rebenta a íntima luz
dessa luta — dessa dança;
e tomba solitário

                        onde a carne vence a chama.


Fragmentos provisórios do poema em construção Terça-feira de carnaval (2007).