Aristóteles trata da origem da poesia e de seus diferentes gêneros. A origem da poesia estaria na própria natureza do homem, que se inclina para a imitação, pois esta oferece ao homem conhecimento e prazer. A natureza do homem também se inclina para o gosto pela harmonia e pelos ritmos. A poesia seria uma improvisação da natureza humana, que tem afinidade com a imitação, com a harmonia e com o ritmo. Essa poesia pode tanto elogiar os espíritos mais graves – o herói, quanto censurar ou ridicularizar os de menos valor – as pessoas ordinárias. No primeiro caso, temos a tragédia. No segundo, a comédia.
Existem três maneiras de imitar: como as coisas são; como os outros dizem que são ou como parecem ser; como deveriam ser. O historiador escreve o que aconteceu (se é que isso é possível). O poeta, o que poderia ter acontecido. E isso nos remete ao post A arte de escrever – existem duas histórias: a política e a literária.
“A tragédia é a imitação, não de homens, mas de ações, da vida, da felicidade e da infelicidade (pois a infelicidade resulta também da atividade), sendo o fim que se pretende alcançar o resultado de uma certa maneira de agir, e não de uma maneira de ser”. Essas palavras de Aristóteles me fizeram pensar sobre a diferença que existe entre os conceitos poéticos de movimento, sobre o qual escrevi nos poemas de Nadir e Letícia, e de ação. É a ação uma forma voluntária de se mover?
A combinação de atos fabricada pelo poeta na tragédia busca a compaixão e o temor, dois sentimentos naturais do homem. Estas emoções nascem principalmente quando os fatos se desencadeiam contra nossa expectiva. A compaixão nasce do homem injustamente infortunado. O temor nasce da consciência de saber que o homem infortunado é nosso semelhante. Na tragédia, a felicidade se transforma em infelicidade não por causa da perversidade da personagem, mas por causa de um erro grave, de uma forma de agir errada. Estes sentimentos nos tornam mais humanos? Tornamo-nos mais humanos quando vivenciamos a existência verbal desses sentimentos?
(Este post foi escrito depois de um pequeno tiroteio na rua onde moro. Os tiroteios que vemos em nossos noticiários, por exemplo, podem ser chamados de tragédia?)