Ensaio sobre a lucidez

Por que está a fazer isto por nós, por que nos ajuda, Simplesmente por causa de uma pequena frase que encontrei num livro, há muitos anos, e de que me tinha esquecido, mas que me regressou à memória num destes dias, Que frase, Nascemos, e nesse momento é como se tivéssemos firmado um pacto para toda a vida, mas o dia pode chegar em que nos perguntemos Quem assinou isto por mim,


O que  é o voto em branco? Um direito, uma manifestação em silêncio, algo que torna o sistema democrático ingovernável, atingindo o coração da democracia como nenhum sistema totalitário pode fazer, uma renúncia, uma desilusão, uma cegueira, uma lucidez?

Lemos em Nossos Estudos Poéticos o Ensaio sobre a lucidez de José Saramago a fim de completar a nossa téssera. A leitura nos permitiu observar vários aspectos do voto em branco. Debruçamo-nos sobre alguns neste post e os ampliamos através dos links.

O que é um direito? É uma questão de mérito? Nossos direitos são realmente nossos? Os momentos de crise são aqueles em que nossos direitos não são respeitados? Como um direito não respeitado pode existir? Encontramos em nossa leitura que um direito só existe em potência no dever de que seja respeitado e cumprido. Encontramos também que um direito só existe no papel. Os direitos só o são integralmente nas palavras com que tenham sido enunciados e no pedaço de papel em que hajam sido consignados. A sua aplicação inconsiderada convulsionaria a sociedade.

Consideremos uma eleição em que a quantidade de votos em branco seja superior a 80%. O que faz o governo diante disso? Ele toma as devidas providências. Primeiro cria um paradoxo, considerando que houve um uso legal abusivo do direito do voto em branco. Depois, recorre a espionagem e interrogatório a fim de descobrir os envolvidos no uso abusivo. Falhando, declara que a capital (onde ocorreu a maioria dos votos em branco) encontra-se em estado de sítio. O governo se retira da capital e o exército a cerca. Cogita-se como próximo passo a construção de um muro que a separe do restante do país. Finalmente haverá mudanças na lei eleitoral: o voto em branco passa a equivaler ao voto nulo ou não há mais voto em branco ou distribuem-se igualmente os votos em branco por todos os partidos ou sei lá que mais. Paralelamente às estratégias oficiais, temos atentados e saques forjados, sabotagens, falsificações...

A ação das autoridades também se dá através da palavra. Procura-se primeiro um adjetivo que possa desqualificar os que votaram em branco – indisciplinados, rebeldes, conspiradores, subversivos, desertores, perversos, diabólicos, inimigos, terroristas. Eis que alguém consegue substantivá-los: são os brancosos.

Os ministros exercem seu poder por meio dos discursos dos redatores de gabinete. Estes são mestres na arte do convencimento, a arte de fazer com que a verdade coincida com a mentira. Comparam-se os votos em branco com a cegueira branca. A questão política dos brancosos é uma questão de saúde. A mídia realiza o seu trabalho de intoxicação. Impressiona-se o público com uma doença, ou melhor ainda, com uma epidemia. Deixando-se enganar, a população é convencida de que corre o risco de estar novamente cega.

Em meio ao paradoxo, à mentira e à cegueira, encontramos a organização da população da capital. Encontramos casos admiráveis de renúncia, “daqueles que ainda nos permitem pensar que se perseverarmos nesses e noutros gestos de meritória abnegação, acabamos por cumprir com acrescimentos a nossa pequena parte no projeto monumental da criação”, escreve o autor. Encontramos pessoas que varreram calçadas quando não havia instituições oficiais para realizar a limpeza das ruas; pessoas que choraram os mortos desconhecidos; pessoas lúcidas que pediram demissão, apesar da família, da carreira, da vida; encontramos os mais nobres exemplos da história do amor ao próximo – cada um decidindo por sua conta e a sós com sua consciência. Encontramos uma organização que se sustenta com a lucidez.

O Ensaio sobre a lucidez ainda não virou filme.


Essas palavras, que, provavelmente, tal como se apresentam, ninguém as haveria dito antes, essas palavras tiveram a sorte de não se perderem umas das outras, tiveram quem as juntasse, quem sabe se o mundo não seria um pouco mais decente se soubéssemos como reunir umas quantas palavras que andam por aí soltas,


Lucidez

Seguem três lúcidas recitações sobre a diferença, o cansaço e o absurdo:

A mais segura diferença que poderíamos estabelecer entre as pessoas não seria dividi-las em espertas e estúpidas, mas em espertas e demasiado espertas, com as estúpidas fazemos o que quisermos, com as espertas a solução é pô-las ao nosso serviço, ao passo que as demasiado espertas, mesmo quando estão do nosso lado, são intrinsecamente perigosas, não o conseguem evitar, o mais curioso é que com os seus actos estão constantemente a dizer-nos que tenhamos cuidado com elas, em geral não damos atenção aos avisos e depois aguentamos as consequências.

¿!

Não se cansem a discutir, a melhor atitude ainda será a de não pedir explicações e logo duvidar delas no improvável caso de que as tenham dado, quase sempre são mentirosas.

¿!

Os que mandam não só não se detêm diante do que nós chamamos absurdos, como se servem deles para entorpecer as consciências e aniquilar a razão.


José Saramago – Ensaio sobre a lucidez


7) O Mahabharata – no fim


No princípio não há nada.
Nós existimos no entremeio.
Depois, nada há novamente.


No fim, enquanto o filho de Drona recitava um mantra para a destruição dos Pandavas e de Krishna, Arjuna recitava o mesmo mantra para haver paz no mundo inteiro e nele mesmo. Vyasa deteve o mantra do filho de Drona. E Krishna deteve o de Arjuna.

No fim Arjuna retirou as cordas do arco Gandiva. Draupadi chorou a morte de seu irmão. “Tanta coisa aconteceu”, ela lastimou.

No fim Krishna sentou-se ao lado de Sanjaya e do rei cego e, com palavras que fluíam docemente, começou a contar-lhes: um bilhão e seiscentos e sessenta milhões e vinte mil homens caíram nesta batalha. E pôs-se a recitar-lhes os nomes.

No fim, em Kurukshetra, todos os sinais de batalha sumiram. Kama entoou um cântico: “Para longe as preocupações do mundo!”.

No fim só há um inimigo – a ignorância.

No fim Yudhishthira foi consagrado rei. Recitou silenciosamente seu mantra secreto, que nunca será escrito e nunca será dito para ser ouvido.

No fim músicos bharatas tocaram a canção de que ninguém mais se recorda. Foi no nascimento do filho de Arjuna, o nascimento do neto de Indra. Só o rei Gandharva e outros reis parecem ouvi-la.

No fim o rei cego morreu na floresta.

No fim Sanjaya partiu para os Himalaias e ele pensou: “Terra, minha mãe, quanta ingratidão naqueles que rejeitaram sua fartura e preferiram entregar-se a Yama. Como é possível que eles a vissem qual mansão de dor e tristeza, onde ninguém pode permanecer?”.

No fim Krishna voltou para sua cidade. No caminho, um brâmane comentou sobre a guerra que o Senhor havia conseguido impedir. E quando Krishna finalmente chegou em seu lar, ninguém quis ouvir o que ele tinha a dizer sobre a guerra. Arjuna, seus irmãos e Draupadi, vestidos de preto, caminharam para o norte. A cidade de Krishna, próxima ao mar, foi coberta pelas águas. Krishna vagava por uma floresta. Deitou-se na grama e pensou: “Arjuna, onde você está? Amanhã destruirei o mundo por causa de sua maldade”. Nesse instante um caçador confundiu o pé de Krishna com um bicho da floresta e lançou-lhe uma flecha. Krishna morreu, com sua túnica amarela e seus quatro braços.

Vaisampayana disse: “Curvo-me perante Deus, que habita este mundo dentro de nós. A quem o chamar, por qualquer nome, por esse nome Ele virá. Portanto, cautela e reverência com os nomes de Deus. E assim encerro minha história”.

Saunaka disse: “Junto à árvore de Narayana, cujas folhas são canções, no seio da montanha, os atores se reuniram e se perguntaram: ‘O que faremos a seguir?’”.

NEP dizem mais uma vez: “O que não está no Mahabharata não está em nenhum outro lugar”. 




A palavra de Patañjali

Palavra é aquilo que, quando pronunciado, traz a compreensão do significado. Para os gramáticos, a palavra real, verdadeira é sphota – aquilo por meio do qual se manifesta o significado. A palavra é recebida pelos ouvidos, percebida por buddhi e refletida no som. Essa reflexão no som não é a reflexão do significado. É a reflexão da palavra. O significado não abandona a palavra. O significado é compreendido pela própria palavra. A palavra é eterna e reside dentro de nós.

Buddhi é nossa alma espiritual, nosso ser psíquico. Seu desenvolvimento marca o começo da espiritualidade. Multifuncional, engloba a compreensão, a inteligência, o discernimento e a intuição. Buddhi não incorpora o raciocínio, que é uma função da mente.
  

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6) O Mahabharata – No entremeio, a guerra




A Terra... Assemelha-se a
uma negra dançarina vestida de carmim...
Quem morreu aqui?
Quem cometeu assassinato?


Na véspera

Vyasa descreveu a planície dos Kurus para o rei cego que estava junto com Sanjaya: “Duas grandes cidades feitas de tendas de seda, uma diante da outra, no grande campo vazio. Corvos negros grasnam ‘Vá!’. Um círculo negro rodeia o sol. À noite, todas as estrelas são hostis. Os rios invertem seus cursos. As vacas ordenhadas só dão sangue. As estátuas dos deuses gargalham e estremecem. Crianças lutam com clavas de madeira. Os canalhas e assassinos cantam e dançam. Isso é medo e o mal sobrepondo-se ao mal”.

Depois Vyasa concedeu visão celestial a Sanjaya.

Sanjaya ficou cinco dias e cinco noites em Kurukshetra. Retornou após a aurora do 6º dia, dizendo: “Está tudo acabado. Não há como contar tudo. Minhas palavras soam estranhas e muito, muito distantes”.


No 1º dia

Krishna entoou um cântico para seu amigo Arjuna – o Cântico do Senhor. Os bardos e menestréis, sentados ao longo do Kurukshetra, compunham versos e canções da grande guerra dos Bharatas. Guerreiros bradavam, anunciando seus nomes. Vestiam uniformes, portavam estandartes, orientavam-se por senhas e sinais. As setas eram atraídas por seus alvos. Krishna gritou para Arjuna: “Não tema! Atire nele!”.


No 2º dia

Duryodhana viu que as obras de Arjuna estavam além do que se podia conhecer. O grande guerreiro kuru Bhishma tombou de sua carruagem. Seu corpo não tocou a Terra porque estava cheio de setas. A lua concedeu aos mortos seus corpos celestiais.


No 3º dia

O guerreiro Susarman, que lutava pelos kurus, ao ver ser tolice combater Arjuna pela ilusão, caiu aos pés de Krishna e perguntou: “Senhor, o que é esta guerra?”.

Krishna disse a Arjuna: “Não chore, pois as lágrimas queimam os mortos com seu fogo líquido”.

O guerreiro kuru Drona foi atingido mortalmente por uma mentira quando estava desarmado. “Vergonha para os que desconhecem o que é ser guerreiro”, pensou Arjuna. Quis o filho de Drona se vingar usando a arma de Narayana: dez mil flechas e dez mil dardos em chama, cem mil espadas, clavas e machados, um milhão de rodas afiadas e pesadas bolas de ferro caíram sobre as tropas dos pandavas. Krishna e Arjuna desarmaram seu próprio exército, dizendo para que niguém pensasse em guerra. Todos deitaram-se no chão com o coração em paz. Com isso, a arma de Narayana fracassou e o filho de Drona se perguntou na noite: “Ah, será tudo mentira?”.

No campo de batalha, cadáveres decapitados tateavam em busca dos assassinos. Os guerreiros kurus já não viam mais sua juventude, nem mesmo a primavera daquele ano. mas Duryodhana ainda acreditava que o destino podia mudar a qualquer momento e se perguntava: “Por que deve haver restrições sobre quem quer que seja? Por que não se há de ser livre para fazer o que se quer?”.


No 4º dia

Os deuses chegaram para observar a batalha.

O guerreiro Karna, que lutava pelos kurus, cortou a corda do arco de Arjuna e lançou o dardo de Indra contra a cabeça dele. Krishna fincou o pé no chão. A quadriga de Arjuna afundou na Terra. O dardo atingiu a coroa de Arjuna, partindo-a. Arjuna lançou uma flecha contra Karna, que caiu com a cabeça decepada. Jamais considerou que a arma de Indra pudesse falhar. Por isso, não se protegeu.

Duryodhana chorou a perda do amigo e se lembrou do jogo de dados e de Draupadi. “Ela jamais me perdoará”, pensou. Yudhishthira se perguntou olhando para Karna: “Quem era ele?”.

Os deuses se foram. A vitória deixou os kurus para sempre.


No 5º dia

Quando o sangue selou o pó da Terra, as mulheres se tornaram viúvas. Sanjaya sentiu o perfume das Apsaras e lamentou não haver ninguém para matar em oferecimento a elas. O fascínio da guerra fez com que ele entrasse em transe. Todas as leis da guerra foram quebradas. Aurigas e animais eram mortos, guerreiros não mais anunciavam seus nomes, já nem mais sabiam se suas vítimas eram amigos ou inimigos. E essas eram questões muito ínfimas, para as quais não havia tempo. Sanjaya estava prestes a ser morto, mas Krishna libertou-o.

Duryodhana desapareceu na floresta. Ele é a alma da ilusão. Diz que os livros em tudo divergem, que os homens discutem e a nada chegam e que a verdade está oculta em cavernas. Krishna já não queria mais ver a vida sendo derramada. Duryodhana sofreu um golpe baixo de Bhima. Como um homem combateria seus cinco sentidos, Duryodhana combateu os pandavas. E por isso perdeu.


Na aurora do 6º dia

Enquanto os guerreiros dos exércitos dos pandavas dormiam, o filho de Drona entrou nas tendas, esganando e estrangulando os inimigos com as próprias mãos, e depois com a espada. “Quem vive ainda?”. Houve silêncio antes e depois do filho de Drona fazer a sua pergunta.

As últimas palavras de Duryodhana foram para o filho de Drona: “Assassinou inocentes e deixou meus inimigos vivos. Basta. Eu quase venci”. Duryodhana morreu ao amanhecer. E Sanjaya perdeu sua visão celestial.



3996 regras

São 3996 sutras, mais o primeiro aforisma da Mahâbhâsya, mais os 14 Shiva sutras.

Uma regra é breve na forma e precisa na função. São classificadas em gerais, particulares e residuais. Não existe exceção à regra nem brecha na lei. As regras são formuladas e organizadas segundo o contexto, a função, a força relativa e a relação interna.

A téssera da regra é sua aplicação. 


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5) O Mahabharata – No entremeio, as perguntas e as respostas

Uma voz invisível perto do lago fez 39 perguntas a Yudhishthira. Separamos 12 dessas tésseras pergunta-resposta. Assim é, se Yudhishthira  o diz:


¿!  O que é mais célere que o vento? A mente é mais célere que o vento.

¿!  O que é mais numeroso que as folhas de grama numa campina? Nossos pensamentos são muito mais numerosos.

¿!  O que não se move após nascer para o mundo? Um ovo não se move.

¿!  O que não tem coração? A pedra.

¿!  Qual é o arrimo do homem? As nuvens.

¿!  O que é o universo inteiro? Nada senão ar rarefeito e espaço vazio.

¿!  Qual o bem mais valioso? O conhecimento.

¿!  Qual a maior felicidade? O contentamento.

¿!  O que encobre todo o mundo? A escuridão.

¿!  O que impede uma coisa de se descobrir? Também a escuridão.

¿!  Qual é a coisa mais rara? Saber quando parar.

¿!  Qual é a verdadeira riqueza? Amor e bondade são melhores que o ouro; a honra é mais valiosa que salas repletas de joias. Não sei o que pensa sobre tudo isso.


“Você responde bem”, disse a voz, apresentando-se como o Dharma, o próprio pai de Yudhishthira. As perguntas do pai testaram os méritos do filho, constatados como verdadeiros. O Dharma restaurou a vida dos irmãos de Yudhishthira, mortos por beberem a água do lago antes de terem respondido as perguntas.




A meta da gramática

A meta da gramática (vyâkarana) é analisar sistematicamente as sentenças (vâkya) da língua sânscrita clássica e védica através de suas regras. Esta análise é feita da seguinte maneira:

¿!  Identificação das palavras que compõem a sentença;
¿!  Submissão das palavras à análise segundo suas bases, afixos e operações relativas a estruturas.
  

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Versos de cansaço: a cidade

O silêncio mudou de som


4) O Mahabharata – No entremeio

Enquanto Brahma dorme...
em seu sonho de Vida

No entremeio o poeta Vyasa contou a Yudhishthira a história da princesa que ia, ia, sempre ia à procura de seu amor perdido, o rei. Até que um asceta disse para a exausta princesa ir para casa, pois ela nunca acharia seu amor daquela maneira. Quando o rei e a princesa se reencontraram, o passado tornou-se uma noite escura finalmente iluminada por uma lua azulada. Vyasa disse que essa antiga história é um veneno mortífero para o mal e a desventura. Disse ainda que, quando organizara o Veda em seu tempo livre, o livro sagrado dizia que os trapaceiros podem ser destruídos pela trapaça, sem que a honra de quem assim os destrói se turve.

No entremeio Bhima deixou seus irmãos e foi em busca da morada do lótus de mil pétalas a fim de pegar uma flor para Draupadi. No caminho encontrou seu irmão Hanuman. Ambos são filhos do Vento.

O Universo tornou-se água
...

As águas escuras, então,
permaneceram quietas e silentes,
esperando, e nada tocando.
Que forma haverei de assumir
para salvar a Terra deste dilúvio?


No entremeio Yudhishthira disse à montanha: “Possamos nós retornar”. E o vento soprou-lhe: “O Mundo é amplo! O Mundo é enorme!”. Era o 12º ano. Duryodhana conversava às gargalhadas com seu amigo Karna enquanto seu eu sustinha os fios de seu corpo, sustinha lealdade e pesar, vergonha e ambição, amor e energia e desejo e amizade, e tudo o mais – os cem mil fios brancos e negros entretecidos da vida. Seu corpo foi feito por Kalee: a parte superior, de diamante indestrutível; a metade inferior, de flores de montanha.


E arrancou fora sua alma, em ente não maior que um polegar


No entremeio Vyasa contou à Draupadi a história de Savitri. Depois de depositar gentilmente a cabeça de seu amado Satyavan na Terra, Savitri quis ainda caminhar sete passos ao lado de Yama. O deus da morte olhou para ela e ofereceu-lhe uma dádiva, desde que não fosse a vida de Satyavan. Yama, aquele que sempre tira, viu como era bom dar. Caminharam até um riacho. Com as próprias mãos, Yama, de imóveis olhos escuros, deu um pouco de água para Savitri beber e disse: “Não é difícil dar. Quando a vida é finda e tudo precisa ser entregue, dar não é difícil. Durante a vida existe dor, mas nenhuma na morte. Ninguém me escapa. Eu já vi a todos. E, contudo... esta água não é mais límpida que seu coração. Você busca o que almeja, você escolhe e a questão se encerra; não deseja ser nenhuma outra pessoa. Há muito que não vejo isso. Faça-me outro pedido, tudo menos a vida de Satyavan”. Yama suspirou, seus olhos fixos em Savitri: “Eu, mais do que ninguém sei o que são a verdade e a justiça. Sei que todo o passado e todo o futuro são mantidos coesos pela verdade. O perigo dela foge e se esquiva. Quanto vale sua vida sem Satyavan?”. “Nada”, disse Savitri. Yama pediu metade dos dias de Savitri para que ele pudesse dá-los a Satyavan. Savitri não quis saber quantos dias lhe restaram. Com seu amor, ela transformou a desgraça em alegria. Como Draupadi fazia. Deixando-se amar pelos Pandavas, alegrava até mesmo o exílio.

No entremeio ouviu-se a música mais maravilhosa de todo o mundo, com sinos para Draupadi dançar, a flauta de Krishna e um duplo tambor para Arjuna.

No entremeio Krishna ainda sorria, mas havia lágrimas em seus olhos. Terminado o exílio, Duryodhana não quis devolver metade do reino para os Pandavas. Krishna disse a Duryodhana que a paz não era difícil: “Depende apenas de você e de mim”. Faltavam sete dias para o início da guerra na planície dos kurus.




Estudo comparativo da filosofia

Cada sistema apresenta a verdade não somente de um determinado ponto de vista mas também comunica-a por meio de uma linguagem com terminologia peculiar. Consequentemente, a menos que conheçamos o exato significado das palavras usadas como roupas das ideias, estamos arriscados a desentendimento ou confusão em relação às ideias que procuramos transmitir ao leitor. Somente quando temos uma ideia correta e ampla em relação às verdades da filosofia por meio de estudo profundo e comparativo dessas verdades, podemos saber com certeza o significado de uma determinada palavra usada num determinado contexto. 


Pratyabhijna Hridayam de Ksemaraja por I. K. Taimni


Sutra: a arte

A arte de apresentar qualquer assunto em forma condensada como aforismos consiste em separar o não essencial do essencial e apresentar somente a essência a mais interior. 


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Sons e fonemas d’água: u

O crocodilo é a montaria do mantra vam na Índia, confundindo-se com Makara, a montaria de Varuna. Símbolo lunar, o crocodilo é representado pelos maias com o signo u na cabeça. Deste u nascem os nenúfares e os brotos de milho. Era cantado pelos gês como o encanto das águas.


3) O Mahabharata – No princípio


Eis que nasceu o mundo maravilhoso,
Num instante ele morre,
E num sopro se refaz.

Pela lentidão de nosso olho
E a rapidez da mão de Deus,
Nós acreditamos no mundo.


No princípio houve o amor. Amaldiçoado o que torna o amor inútil e bendito o que ama sem nunca ter visto. Mas, na história de guerreiros, até o deus do amor apresenta-se armado. Kama carrega o arco mais poderoso do mundo. Feito de cana-de-açúcar, sua corda é uma fileira de abelhas e suas flechas têm pontas de flor. Houve o amor de Ganga, a deusa do rio, pelo rei Bharata Santanu; houve o amor de Gandhari pelo rei cego Dhritarashtra; houve o amor de Pandu por Kunti, mãe de Karna, Arjuna, Bhima e Yudhishthira; houve o amor de Pandu por Madri, mãe de Nakula e Sahadeva; houve o amor de Draupadi, a nascida do fogo de Shiva, pelos seus cinco maridos Pandavas. Houve muitos outros amores. Talvez, em algum aspecto, o próprio Duryodhana tenha amado Draupadi. 

No princípio houve as armas. Foi ensinado a cada guerreiro o que eles podiam aprender. Ao melhor deles, revelaram-se as armas. Arjuna, o príncipe argênteo, permanecia com seu arco tão estirado que formava um círculo. Os olhos do melhor arqueiro de todo o mundo só viam o alvo, nada mais podiam descrever. Prometeu ao seu instrutor que sempre lutaria para vencer. O deus do fogo Agni entregou à Arjuna o arco Gandiva, duas aljavas de flechas que jamais se esgotavam e uma carruagem onde havia um disco de ferro para Krishna. Bhima, o de olhos cinzentos, arrojava uma pesada clava octogonal. Yudhishthira, o de olhos dourados, era o melhor auriga. Sahadeva, o que sabe o que é verdadeiro, e Nakula, o que tudo descobre através da amizade, eram os melhores espadachins.




No princípio houve a amizade entre Krishna e Arjuna. Narayana conhecera Nara há muito tempo, às margens de uma água que era leite. Arjuna lembrou-se da alta árvore de Narayana, mas a lembrança esvaeceu-se. Krishna sorriu e abraçou Arjuna. Todos os deuses vieram ver os dois – a alma de toda a vida e seu amigo de outrora. Indra, o senhor dos deuses, reconheceu que ninguém pode lutar contra eles dois juntos. Os deuses sumiram. Krishna riu: “Bharata, ESTE é o mundo. Não há nenhum outro!”. Não existe ninguém que possa compreender a diferença entre estes dois amigos.

No princípio houve a construção do palácio dos pandavas. Maya, o que trouxe para Arjuna a trombeta de búzio Devadatta, manteve-se oculto e invisível até terminar a construção. Sobre mil colunas de ouro, um edifício mágico de mármore e pérolas. Arjuna quis saber se o palácio era uma ilusão. Maya, o construtor, disse que não sabia. Krishna riu.

No princípio houve o desafio do jogo de dados no qual as naturezas das personagens se revelaram. A de Arjuna era falar claramente. A de Yudhishthira era não poder recusar um desafio. Ele não tinha medo: sucesso ou desventura viriam, jogando ou não. Duryodhana era o que era e seguia a sua própria natureza. Somente a insatisfação o conduzia à felicidade. Yudhishthira perdeu tudo que tinha para Duryodhana e os kurus. Perdeu o reino, os irmãos, perdeu a si mesmo e perdeu Draupadi. Foi quando ela pensou em Krishna. Antes que o pensamento estivesse plenamente formado, Krishna foi até Draupadi, que teve suas vestes arrancadas. Mas ela trajava outra por baixo. Esta também foi arrancada. Mas Draupadi trajava outra por baixo. Trinta mantos finos e coloridos espalharam-se pelo chão – eles nunca veriam Draupadi. O rei cego libertou Draupadi e seus maridos. Jogou-se o último lance. O perdedor seria banido para a floresta, obrigado a passar 12 anos em exílio. O ganhador ficaria com todo o reino, devolvendo a metade para o perdedor quando o exílio terminasse.

No princípio houve o exílio. Vidura descreveu a partida dos pandavas e de Draupadi para o rei cego. Arjuna ia por último, lançando docemente grãos de areia com as duas mãos, como haveria de lançar flechas na batalha. E porque era a primeira no coração de todos, Draupadi, linda como a lua cheia, caminhava à frente. Chorava e cobria o rosto com suas mãos de lótus. Lakshmi havia sido insultada em pessoa.

No princípio houve o consolo de Krishna: “Princesa Draupadi, permaneceremos na roda da vida que gira e gira. Agora somos reis, logo passamos uma existência na crista de uma folha de relva. Mas vivemos sempre. Nada pode deter a roda. Quando lhe sobrevém uma felicidade, você não hesita em acreditar que ela seja real? Então, não aceite o infortúnio sem pô-lo à prova. Nada sabemos; ele talvez desapareça, talvez nem seja verdadeiro”.




Fonte da imagem: circunferência e círculo


O segundo tremor

NÃO, NÃO QUERO NADA: A TERRA TREME, DEPOIS TREME DE NOVO. OS TEMPLOS CAEM, A POEIRA LEVANTA, AS AVES LEVANTAM VOO.

SAUDAÇÕES AO INVERNO DOS NOSSOS TREMORES DE FRIO E DE MEDO


Equinócio de Outono        Equinócio de Primavera


Sutra: o significado

O esforço para se reconhecer o “fio” oculto do raciocínio, sob ideias aparentemente desconexas, muito frequentemente fornece a chave para o significado de muitos sutras.

A necessidade de lutar com as palavras e as ideias e delas extrair seus significados ocultos assegura uma assimilação bastante completa do conhecimento e desenvolve, simultaneamente, os poderes e as faculdades da mente, em especial aquela capacidade de extrair da própria mente o conhecimento nele oculto.

Ao longo do tempo, é possível que tenham ocorrido alterações fundamentais no significado das palavras e nos padrões de pensamento. Este fato gera infinitas possibilidades de enganos e interpretações errôneas de alguns sutras.

Verificar as verdades básicas do que é exposto através das experiências pessoais ajuda a manter vivo o que está nos sutras e a preservar os significados das palavras. Divorciada de sua aplicação prática, a exposição tende a perder-se num emaranhado de palavras que perderam seu significado e sua relação com os fatos


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O significado interno

O SIGINIFICADO INTERNO DE UM POEMA É UM ESTADO DE CONSCIÊNCIA A SER REALIZADO.


Fonemas e sílabas d’água: vam

Na escrita devanagari, com a letra va formamos o som vam, a semente verbal da água.

Uma semente caracteriza-se por ser constituída em camadas. As externas protegem, as internas guardam o que é real e essencial. Qualquer objeto apresenta diversas camadas de significado.

Outra característica da semente é que ela germina no solo.

As palavras e o que elas representam apresentam sementes sonoras e germinam em versos. Os nossos versos são de cansaço, água e descanso.


Sutra: as palavras

As palavras que compõem um sutra exprimem conceitos filosóficos definidos. Sem um conhecimento do que nelas se encontra implícito, não é possível apreciar o significado de um sutra. Somente com a ajuda de tais palavras, que expressam todo um conjunto de ideias, plenas de profundos significados, é que um sutra pode ser elaborado.
  

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2) Prefácios e introdução ao Mahabharata

Uma qualidade é uma abstração, um silêncio. Em uma história, a qualidade pode ganhar a forma de uma personagem. Em uma personagem, ela pode ganhar nomes e epítetos. Se a história ganhar a forma de um texto, essa qualidade pode ganhar a forma de uma descrição. Em uma descrição, ela pode ganhar a forma de uma palavra. Pode ser um substantivo abstrato, um adjetivo ou até mesmo um verbo se a qualidade atingir seu objetivo – existir através da ação da história. É a linguagem em sua função de colaborar para o desenvolvimento das qualidades. Talvez seja esse o momento em que se realiza a metáfora citada por J. C. Ismael em seu prefácio: as palavras se transformam nos veículos para alcançarmos o reino mágico do silêncio e do indescritível em nosso dia a dia.

Que qualidades podemos encontrar na grande história dos Bharatas?

B. A. Van Nooten introduz o livro dizendo que santi é o principal sentimento da narrativa. Ele traduz a palavra sânscrita como serenidade. Nós podemos traduzi-la como paz. Sim: um livro sobre guerra contém a luta e a paz a fim de que a téssera esteja completa. Porque não se trata de uma guerra qualquer. Como diz Ismael, trata-se de uma guerra na qual os guerreiros são deificados, de uma guerra que é uma vida iniciática. Em nosso Mahabharata essa iniciação é marcada pelas questões que os próprios guerreiros fazem no campo de batalha. E onde mais poderiam tais questões aparecer?

Encontramos uma outra qualidade, esta citada pelo próprio William Buck em seu prefácio – a verdade. O autor reconhece que fez várias mudanças no seu Mahabharata. Ele inclusive diz ter alterado as características das personagens como recurso para atualizar a história. Mas, como a verdade, por ser uma qualidade, está para além do plano dos fatos, ele diz que suas alterações não interferem na verdade da história. A narrativa transmite ainda o espírito do épico. E o que é o espírito do épico senão a sua própria verdade?

Um livro de guerra é ainda muito útil para nos falar da amizade. Quem são nossos amigos, quem são nossos inimigos? Com quem lutamos e contra quem? A grande inspiração de Buck para realizar a sua obra foi a amizade entre Krishna e Arjuna. O autor encantou-se com os laços que unem as duas personagens através das voltas do tempo cíclico. Uma amizade que é visível a uma das personagens e oculta à outra.

Lendo o livro podemos ainda encontrar o amor que nós mesmos podemos sentir pelas personagens. É quando as qualidades já não mais precisam de metáforas, palavras, descrições, nomes, epítetos, textos, pois nós já as encontramos. Buck nos lembra de que até mesmo o difícil Duryodhana merece o nosso respeito, caso queiramos compreender o significado da história da vida.

O nosso Mahabharata, assim como o de Buck, assim como tantos outros, esperam pelas leituras. Não no sentido do desejo, mas no sentido da espera mesmo. Livros esperam. Blogues esperam. Enquanto as qualidades vão sendo desenvolvidas. 




Fonemas d’água: vr

Vr é a raiz de Varuna, o senhor das águas. A raiz significa cobrir. Remete ao que está oculto, aos invólucros e envoltórios. O que está escondido também está protegido, guardado. A palavra cobrir cobre a palavra pario. As camadas são cobrir > cooperire > co + operire > operire = ob + pario. Pario significa parir, dar à luz, pôr, gerar.

Os versos de Varuna são as cordas que ele traz na mão. Elas simbolizam o seu poder de ligar e desligar, prender e libertar. Nos manuscritos maias, a chuva é simbolizada por cordas. Il tombe des cordes (caem cordas) é uma expressão francesa para indicar que chove muito.

Os versos do senhor das águas Faro são colares. Com o colar de ouro, ele ouve as palavras secretas e poderosas dos homens. Com o colar de cobre, ele ouve as de uso corrente.

Os colares de Faro e as cordas de Varuna são os nossos versos d’água.


O tremor

Quando a Terra volta a escrever seus profundos versos, um vento que não sopra derruba asas de pedra no chão. Quando a Terra abre seus profundos versos, ela nos une ainda mais. Os versos da Terra só destrõem, só engolem o que já é dela mesma.

Recitamos um trecho do Ramayana, ilustrando-o com uma imagem da ave Garuda antes do terremoto deste nosso outono:


Indra esteve escondido perto da Terra. Atirou um raio e atingiu o peito de Garuda. Com esse golpe, todo o conhecimento veio a Garuda. Ele ficou sabendo tudo o que já existira, tudo o que existia e tudo o que viria a existir; conheceu-o num instante.





Ora, em sinal de respeito pelos dias passados, quando aquele raio insuportável o atingiu, Garuda deixou cair uma pena. A pena de ouro revoluteou no ar, do tamanho de um escudo de guerra.


O Ramayana – William Buck


Sutra: o método

Sutra é um método clássico para a exposição de temas importantes. Foi adotado pelos sábios e letrados antigos.

Exposição clara de todos os aspectos essenciais e continuidade do tema fundamental, apesar da aparente descontinuidade das ideias apresentadas, são as características mais importantes desse método.

Este método de exposição prevaleceu numa época em que a imprensa era desconhecida e em que o estudante tinha de memorizar a maioria dos mais importantes tratados. Daí a necessidade de condensar ao máximo a escrita.

Nada do essencial era deixado de fora. Aquilo com que o estudante estava familiarizado era cortado impiedosamente. O mesmo acontecia com o que ele pudesse inferir do contexto.

No método sutra, a essência do conhecimento requerido tem que ser extraída, convenientemente preparada, analisada e assimilada, antes que o assunto possa ser completa e integralmente compreendido


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1) O nosso Mahabharata




O Mahabharata é a grande história da guerra entre os Kurus e os Pandavas, ambos descendentes da dinastia Bharata. A batalha se dá no Kurukshetra, o campo dos kurus. Encontramos nas Línguas do mundo de Berlitz a informação de que a Índia se chama Bharat em hindi. E na Aventura das línguas de Störig encontramos que bhar é uma raiz que quer dizer trazer. Se conjugarmos o verbo bharani no presente do indicativo, teremos bharami, bharasi, bharati, bharamas, bharata (nós trazemos), bharanti. Inspirações linguísticas para tentarmos compreender o significado da maha (grande) narrativa que vamos tesselar.

Conta-se que o poeta Vyasa compôs os cem mil versos da epopeia em sua mente e que Ganesha, o deus dos ladrões e dos escritores, o escreveu. O poeta é filho do menestrel errante Parashara e de Satyavati, encontrada nas entranhas de uma mãe-peixe no rio Yamuna. Vyasa contou o Mahabharata para Vaisampayana, que o contou a Sauti, a Astika e ao próprio Vyasa. Sauti, por sua vez, o contou a Saunaka.

Lemos em Nossos Estudos Poéticos a história dos narradores Vaisampayana e Saunaka contada em prosa por William Buck e traduzida por Carlos Afonso Malferrari. Buck refere-se ao livro que lemos como o seu Mahabharata.

Existem inúmeras versões do Mahabharata, solvidas em interpolações, coaguladas em edições, vertidas em várias línguas. O nosso Mahabharata será condensado em sete posts e dissolvido em diversos links. As postagens procuram seguir a divisão do próprio livro de Buck:

1) O nosso Mahabharata
2) Prefácios e introdução ao Mahabharata
3) O Mahabharata – No princípio
4) O Mahabharata – No entremeio
5) O Mahabharata – No entremeio, as perguntas e as respostas
6) O Mahabharata – No entremeio, a guerra
7) No fim

Quem ouve o Mahabharata e o compreende, mesmo que só uma parte dele, se liberta das prisões que construiu para si mesmo com suas obras boas e más. O Mahabharata tem o poder da vitória! 




As expressões latinas da água

Discurso, tempo, guerra, desterro são as nossas correntezas. O que perdemos, o que não podemos prever, o que podemos ser – escravos, livres – está escrito nas águas.


¿!  Aquam servam bibere: ser escravo (Ovidius);
¿! Aquam liberam: ser livre (Petronius Arbiter);
¿!  Post aquam: depois do batismo (Tertullianus);
¿!  Ah! addspersisti aquam: ah! tu me fizeste voltar a mim (Plautus);
¿!  In aqua scribere aliquid: escrever na água alguma coisa (Catullus));
¿!  Aqua et igni interdicere alicui: vedar a alguém a água e o fogo/ desterrá-lo (Cicero);
¿!  Aquam terram que petere: declarar guerra (Titus Livius);
¿!  Aquam dare aliqui: marcar o tempo a alguém (Plinius);
¿!  Aqua perdere: perder tempo (Quintilianus);
¿! Aquam a pumice postulace: pedir água à pedra-pome/ pedir a quem não pode dar (Plautus);
¿!  Hoeret aqua: para a água/ gaguejar ou perder-se do discurso o orador (Cicero).


Tudo passa.