Visões da unidade e da variedade da criação da natureza

¿!  A natureza é uma força criadora.
¿!  Os recursos, as vias e os métodos de criação da natureza são infinitos.
¿!  A natureza procede de acordo com leis uniformes.


Recitando as águas da montanha




[As montanhas] recitaram encantamentos em voz alta com os sons das suas quedas d’água.


William BuckO Ramayana


Visões de analogia, natureza e link

¿!  A analogia é a lei diretora da natureza.
¿!  A analogia é o único fio de Ariadne.
¿!  A analogia nos pode guiar através dos emaranhados atalhos dos domínios da natureza.
¿!  A analogia nos pode guiar até os primordiais e últimos mistérios da natureza.


Recitando as águas do amor e do sono

A água, essa filha primeira, nascida da fusão aérea, não pode renegar sua origem voluptuosa e, na terra, ela se mostra com uma celeste onipotência como o elemento do amor e da união... Não é em vão que os sábios antigos procuram nela a origem de todas as coisas... E as nossas sensações, agradáveis ou não, não são mais, afinal, que as diversas maneiras do escoar em nós dessa água original que existe em nosso ser. O próprio sono não passa do fluxo desse mar invisível, universal, e o despertar é o começo do seu refluxo. Só os poetas deveriam ocupar-se dos líquidos.


Novalis


Versos d’água: o leito, o curso e a cheia

O leito do rio é o verso do rio.
O curso do rio é o verso do rio.
A cheia do rio é o verso do rio.
Versos que não são só o avesso,
que não são só o aço do espelho.
Versos que são também aquilo que verte,
tudo aquilo que verte.


Recitando as águas do rio e o descanso das nuvens




Os rápidos rios, transbordantes e às gargalhadas, desciam a montanha, de um castanho-escuro na cheia, rugindo e espumando com ondas brancas de cristais. A água corria pelas trilhas de pedra, e a terra debaixo delas desapareceu sob as águas. O mundo se transforma em um lago extravasante, e os montes, em ilhas. Pesadas e escuras, as nuvens tinham de descansar sobre os altos picos das montanhas e ali pareciam deitar raízes, e fileiras de garças brancas, voando ao vento molhado, eram uma guirlanda branca para o céu. 


William Buck – O Ramayana


Versos de cansaço: nos enleios do cansaço

Nos enleios do cansaço/ avistei meus versos d’água/ e os olhos com que os via/ eram seus olhos d’água/ e o espelho onde via meus olhos e meus versos/ era um côncavo espelho d’água/ onde as imagens eram invertidas/ e as linguagens, versificadas


Versos de Descanso: por trás das plumas




por trás da montanha e da nuvem vertida
por trás do vento, da janela e da cortina
por trás dos ruídos da noite escura
por trás dos sons da noite branca
por trás do livro aberto
e dos olhos fechados

eu leio

as palavras do Descanso
escritas em versos d’água


Versos de cansaço: a roda dos Fatos

Estamos aqui à roda dos Fatos – aguardando a sua comprovação científica...
Estamos aqui à roda dos Fatos – aguardando que virem notícia...
Estamos aqui à roda dos Fatos – aguardando nas cidades de mares aterrados e rios assoreados...
Estamos aqui à roda dos Fatos – onde o ar é seco, a palavra é seca e os olhos são ressecados...


Mangifera indica – 13/5





13/5    da árvore humana?
Que tinta, que cor, que sentimento
ele usaria na pintura
dos garranchos dos versos emaranhados?

E outras seriam as visões da árvore...
alheia e verde ao que escrevo
silenciosas folhas erguendo
flores de renúncia emanando
mais sensível ao amarelo solar
do que à sua sombra
Um duplo que irei projetar
sobre papéis transparentes
com grafite e bistre
nanquim e azeviche

E as células seriam outras visões...
É esta mangueira uma célula tronco
pluripotente, poderia ser várias
unipotente, veio a dar em versos
Células estaminais
tecendo linguisticamente
sutis estruturas
nos sulcos da matéria

E outras seriam as visões da árvore...
Um verde escuro e frio
estremece nos ramos
estruturando árvores e ventos
armazenando versos e invernos


13/04        13/6


Versos d’água: mas não sei o que faço

Mas não sei o que faço por aqui... na procura do mundo me perdi.
Mas não sei o que faço por aqui... na leitura do mundo me perdi.
Mas não sei o que faço por aqui... na cultura do mundo me perdi.
Mas não sei o que faço por aqui... nas agruras do mundo me perdi.


Vídeo Versos d'água


Um moinho e várias voltas. Um sino e vários toques. Uma linha e várias medidas. Um rio e vários dias. Um movimento e vários ritmos. Um verso e vários pés. Um poema e vários leitores, vários ouvintes. Uma poesia e vários poetas. Um blogue e vários posts. Um mosaico e várias tesselas. Um todo e várias partes. Um fluido e várias linkagens. Uma língua e vários versos d’água, vários.






Versos de cansaço: sítio de busca

Buscas alfabetos e idiomas onde tudo é símbolo;
e partituras onde a música é a chuva e o rio.
Buscas inscrições tumulares onde o fumo das piras apaga tudo:
estás no lugar errado ou não sabes ainda o que procuras?


Cansaço: nas vizinhanças do sonho


The dream is over.
[O sonho acabou]

God, de John Lennon


Parece-me, na verdade, que com a aproximação da consciência, o conteúdo subliminar da psique “se apaga”. O estado subliminar conserva ideias e imagens a um nível de tensão bem menor do que o que elas possuem quando conscientes. Definem-se com menor clareza; as suas inter-polações são menos óbvias e repousam em analogias mais imprecisas; são menos racionais e, portanto, mais “incompreensíveis”. Esse mesmo fenômeno pode ser observado em todas as condições vizinhas do sonho, provocadas pelo cansaço, pela febre ou por tóxicos. Mas se alguma coisa acontece, trazendo maior tensão a qualquer dessas imagens, elas se tornam menos subliminares e, por estarem mais próximas do limiar da consciência, mais nitidamente definidas.

Carl G. Jung

I’m so tired I can’t sleep.
[Estou tão cansado que não consigo dormir]


Pennyroyal Tea, Kurt Cobain


Versos de descanso

...a poesia é o uróboro da língua.