Os gêneros literários – o Infinito

O princípio metafísico por excelência é o Absoluto, ou Infinito, ou Possibilidade Universal.

As ciências dos povos antigos não poderiam conceber algum pedaço especializado de conhecimento, independente de princípios universais.

O Infinito compreende e transcende todas as dimensões e direções do finito. Os entes finitos, provenientes do Infinito, não são idênticos nem radicalmente diferentes do Infinito – eles são análogos.

E todo ente tem com o Infinito dois tipos de relacionamentos simultâneos: a continuidade essencial e a descontinuidade existencial. É dizer, não há tesselas individuais sem uma conexão íntima com a estrutura do Mosaico.

Da absoluta infinidade da Possibilidade Universal até as mais restritas áreas da existência contingencial, estão dispostos graus sucessivos de possibilidade, ou “mundos”, entre uma e outra. Cada um destes “mundos” é, assim, definido por um conjunto de limitações ou condições que definem, nos seus domínios apropriados, o que é possível ou impossível.

Nosso mundo”, o mundo da experiência humana sensível, é definido por três condições: tempo, espaço e número (ou quantidade). Estas limitações evidentemente não ocorrem apenas com os entes, mas em todas as suas ações e manifestações também. Esses padrões são, precisamente, o princípio dos gêneros.

As três "condições de existência corporal" mencionadas pelas doutrinas tradicionais e particularmente pela Hindu moldam e configuram todas as estruturas da percepção e da ação humana. As manifestações escritas pela mente humana não seriam capazes de escapar desses condicionamentos universais, nem teriam como existir sem se diferenciar em padrões definidos de acordo com tempo, espaço e número.

A partir da distinção básica entre o nome (simultaneidade) e verbo (sucessão), tudo se refere a combinações e complicações obtidas a partir destes três princípios. Fazer arte não é outra coisa que dar forma, e o homem não pode dar forma senão conforme a sua própria forma de existir, perceber e fazer.


“Os gêneros literários, a rigor, são realidades arquetípicas:
a dificuldade em ver está no sujeito e não no objeto”
(Os gêneros literários: seus fundamentos metafísicos. O. de Carvalho)


Continua em Os gêneros literários – o Número