Tudo começou no fogo. O início de tudo foi uma fogueira, uma
grande fogueira e uma noite verdadeira, escura, gélida; uma noite em que
faiscavam pessoas alegres, fervendo, rodando, todos, em torno do fogo;
celebrando, como uma grande constelação ordenada em vastos sistemas solares,
celebrando a felicidade do casamento.
Começou à noite. Era pouquíssimo calor contra muito frio,
pouca luz contra muita escuridão, poucos homens e mulheres para tanta alegria,
celebrando a felicidade do casamento, graças a quem nos deu as chamas.
Sabe-se lá o que é o fogo. Não como ele ocorre, mas o que
ele realmente é. E é num dia frio que percebemos o quanto somos dependentes do
fogo, do calor, da luz, da radiação; é num dia de frio que confirmamos ser
dependentes dos amigos, do calor das pessoas, da luz do povoado e da radiação
da comunidade.
O fogo une como a linguagem, nos coloca em torno da mesma fogueira.
A arte literária tem por função lidar com a linguagem. Deve lidar com a nuvem
que paira ao redor do dia a dia – e na essência – para que se crie a
possibilidade de um movimento brusco e repentino, a fim de modificar a face do
cotidiano ou, ao menos, a nossa visão sobre ele.
O impulso para escrever algo sobre o tema surgiu a partir dos “donos”
da fogueira – um casal de
amigos muito queridos. Um casal que mais ou menos sintetizou o que sinto pelos
demais casais que conheço e de quem também gosto.
Após alguns rascunhos, fui buscar
o que há na linguagem escrita sobre esse tema. Minha pesquisa sobre epitalâmio
começou pela descoberta do gênero e depois pelo significado do termo. Epitalâmio significa sobre o tálamo, sobre o quarto nupcial,
sobre a parte que mais interessa no rito de casamento. Achei uma tradição
poética desse gênero – Safo, Catulo, Manoel da Costa, Basílio da Gama, Fernando Pessoa, Ribeiro Couto, Vinícius de Moraes, José Paulo Paes, entre outros.
Aqui vai a minha contribuição ao caminhar deste tema.
Contribuição modesta, é verdade, mas de muito valor para meus estudos e para
minha visão poética da vida e do mundo.
O Casamento de Juno é um
poema composto de três partes chamadas Princípio,
Templo e Aliança. Cada uma dessas partes é subdividida em seis
subpartes. E, por sua vez, cada subparte é dividida em um número variável de
poemas.
Bem, assim nasce o Casamento de Juno.