2. O homem e seus símbolos – Chegando ao inconsciente


O filósofo em meditação. Rembrandt (1632). Fonte: Blogue A lista de Lucas

 
1. As questões

Encontramos duas perguntas que cada um poderia fazer a si mesmo: 1) Por acaso, o seu inconsciente conhece alguma coisa que possa ser útil a todos nós? 2) O que pensará sobre nós mesmos a psique inconsciente?

2. Os símbolos

Um símbolo é um termo, nome ou imagem que nos pode ser familiar no dia a dia, mas que possui conotações especiais para além de seu significado convencional. Existem pensamentos e sentimentos simbólicos, situações e atos simbólicos.

Os símbolos de nossos sonhos expressam seus conteúdos na linguagem da natureza. Na tentativa de traduzir tal linguagem [fora da poesia], acabamos por recorrer às palavras racionais do vocabulário moderno, às palavras já libertas de seus embaraços primitivos, às palavras já libertas da sua participação mística com as coisas que descreve.

3. Poesia e criação

Os conteúdos da mente do homem moderno que se parecem com produtos da mente do homem primitivo são chamados de arquétipos, porções da própria vida, imagens ligadas ao indivíduo por uma ponte de emoções. Essas imagens podem nos inspirar. Mas, para o artista, a inspiração que nasce subitamente do inconsciente não é suficiente. Sua genialidade só se manifestará se ele alcançar um meio rico de material e transformá-lo em arte.

4. Téssera e tesselas

Várias unidades distintas e interligadas constituem cada um de nós. Sob o assalto de emoções incontidas, a Psique (essência do ser humano) ameaça fragmentar-se.

5. O significado

As palavras se tornam fúteis quando não sabemos o que elas representam. Até mesmo as que usamos serão mortas. É a relação entre a palavra e o indivíduo que dá sentido à palavra.

Porque existem conceitos que não podemos definir ou compreender integralmente e porque existem coisas além de nossa compreensão, usamos símbolos.

6. Links

O elemento de ligação entre as ocorrências físicas e a vida é o sentimento. Mas temos nos ligado à natureza pela razão. Pensamos ter conquistado a natureza, mas nos sentimos impotentes diante da vida.

7. O mistério

O homem-deus surge como um mistério.




Téssera e link

Todos são interligados. O céu e a terra, ar e água. Todos são uma só coisa; não quatro, e não duas, e não três, mas um. Se não estiverem juntos, há apenas uma peça incompleta.

Paracelso


Templo VI

Vigiava seu monumento
num tempo sem convicções,
num tempo de corpos frágeis,
de prédios que desabam,
de pessoas que morrem
de paixões... e mais nada.

Nem lembrava mais da festa:
— mas como! seduziu o homem?
— pude implodir-lhe os ossos
com somente um sorriso!
Assim, criou-se a paixão
e o beijo e o sangue e a morte.

Ela o carrega nas pulsações,
pouco sente seu corpo morto
esculpido na pele,
que dizia:        ... vivos somos traídos;
            presos, esquecidos;
            e mortos deixamos saudades...

Ela carrega este muro
onde talharam este lamento,
onde talharam templos
            (que hoje são gestos sedutores),
onde revoam motocicletas em sobrevoo,
onde deus converte o homem.

— Onde deus converte o homem?
Ela carrega também a questão.
Enquanto vigia seu lamento,
o céu reflete a sua face acinzentada
e as manchas azuis de um olhar profundo
que não tem questionamentos.

Ela carrega esse tema
e, como você, carrega o passado,
carrega também o futuro, e tem paciência;
pois entre os mortos de sua vida
emergirão as Cariátides para vigiar
inacabados monumentos.




Arabescos

Tarifa simbólica: R$ 0,20

TEMOS OS FATOS:
QUEM DESCOBRIRÁ O SÍMBOLO?


1. O homem e seus símbolos – Introdução


Dupla hélice - fonte: biomary


Um pássaro inicia seu voo. Ainda próximo ao chão, tudo o que ele pode ver é um emaranhado de galhos e folhas. À medida que se eleva em seu próprio voo, galhos e folhas se repetindo, uma forma se integra no ambiente ao redor: o pássaro voa em torno de uma árvore.

A imagem reflete o método de argumentação de um livro, no qual os argumentos giram em torno de um assunto. O método é a espiral. O livro é O homem e seus símbolos, concebido e organizado por Jung.

Tesselamos nossa leitura de O homem e seus símbolos em sete posts, seguindo as divisões do próprio livro:

1. Introdução (John Freeman)
2. Chegando ao inconsciente (Carl G. Jung)
3. Os mitos antigos e o homem moderno (Joseph L. Henderson)
4. O processo de individuação (M. – L. von Franz)
5. O simbolismo nas artes plásticas (Aniela Jaffé)
6. Símbolos em uma análise individual (Jolante Jacobi)
7. Conclusão: a ciência do inconsciente (M. – L. von Franz)

Mas transformamos a espiral dos argumentos em uma dupla hélice, seguindo o conteúdo e a forma de Nossos Estudos Poéticos:

1. As questões
2. Os símbolos
3. Poesia e criação
4. Téssera e tesselas
5. O significado
6. Links
7. O mistério

Neste mosaico, o fascinante voo introduzido por John Freeman parte da ideia de que os símbolos são as linguagens do inconsciente.




Solstício de Inverno

Saudando o Inverno, quando as mesmas águas do verão se tornam frias e levam as mesmas flores da primavera que continuam a mesma queda do outono. Saudando as mais frias correntes da vida:


A flor e a fonte 


"Deixa-me, fonte!" Dizia
A flor, tonta de terror.
E a fonte, sonora e fria,
Cantava, levando a flor.

"Deixa-me, deixa-me, fonte!"
Dizia a flor a chorar:
"Eu fui nascida no monte...
"Não me leves para o mar".

E a fonte, rápida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria levando a flor.

"Ai, balanços do meu galho,
"Balanços do berço meu;
"Ai, claras gotas de orvalho
"Caídas do azul do céu!..."

Chorava a flor, e gemia,
Branca, branca de terror,
E a fonte, sonora e fria
Rolava levando a flor.

"Adeus, sombra das ramadas,
"Cantigas do rouxinol;
"Ai, festa das madrugadas,
"Doçuras do pôr do sol;

"Carícia das brisas leves
"Que abrem rasgões de luar...
"Fonte, fonte, não me leves,
"Não me leves para o mar!..."

As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como a da fonte e da flor...
  
Vicente de Carvalho




A perda da visão poética 6


A Máquina Óptica, de Vieira da Silva (1908-1992)


QUAL É A SUBSTÂNCIA DA NOSSA VISÃO POÉTICA?


Arabescos poéticos

A vida é uma repetição. O movimento que repetimos é o de retorno (não o de revolta). A ordem da vida está naquilo que nela se repete, naquilo que está se repetindo exatamente neste instante e em seu próprio ritmo.

(...em aniversários, se a vida for uma festa; em doses, se a vida for uma bebedeira. Em salários, se a vida for um trabalho; em notas, se a vida for uma prova. Em horas, se a vida for um relógio; em estações, se a vida for um ciclo. Em fases, se a vida for um jogo; em posts, se a vida for um blogue. Em tesselas, se a vida for um mosaico; em estâncias, se a vida for um labirinto. Em mandalas, se a vida for um livro; em flores, se a vida for uma prece. Em linhas, se a vida for um arabesco; em sílabas poéticas, se a vida for uma única linha – um verso...)

A ordem da vida está naquilo que só podemos acompanhar se conseguirmos descobrir-lhe a medida.

A vida é uma recitação. O movimento que recitamos é uma respiração, é um batimento cardíaco. Mais uns pensamentos e uns sentimentos que sempre temos e umas palavras que sempre usamos.

A vida é uma recitação. O movimento que se recita é o Verbo Ser. O verbo que liga, o verbo que cria.

Que aquilo que recitamos e repetimos ordene nossas vidas. Que aquilo que recitamos e repetimos em nossas vidas possa de novo nos trazer paz infinita. Que retornemos à paz infinita com o que recitamos e repetimos em nossas vidas.

E que possamos criar belos arabescos com os fios de nossas vidas.


Arabesco        Arabescos


Templo V

1.
Eu sou a ponta da flecha
a ferir o tempo,
e o que vem
atrás de mim
não passa de ausência.

Eu sou a ponta da flecha
de um pequeno triângulo.
Sou apenas um,
que veio de dois;
dos dois de quem vim,
cada um
veio por natureza de dois;
dos quatro de quem vim,
cada um
veio instintivamente de dois;
dos oito, dezesseis, trinta e dois,
da potência
desses dois elevados ao infinito
de que vim,
e sendo apenas um,
levo todos perto de mim:
essa origem distante que é zero,
e nada, e tão ampla,
nem passa de ausência.

O DNA verdadeiro
é o DNA
            do arqueiro.

2.
Ao olhar, olha cientificamente:
Há dois leões pulando no teu peito
E não sabes qual dos dois matar.

Duas atrações se combatem,
enroscam-se duas serpentes,
no cérebro rastejam as duas:

apaixonamento de anfetamina –
            afetoamina, indústria da paixão,
opióides de oxitocina em meninos e meninas.

Vários impulsos de afetoamina em amores vários,
e sucessor nasce de antecessor, desvairados,
é um amor geneticamente modificado.

Várias paixões ferais de oxitocina
reproduzem-se freneticamente sozinhas,
e os homens perdem o pulso ao acaso da vida.

Vários amores escapam da paixão científica,
vários Cupidos descontrolados,
inseminados para ver se vingam.

Feito um óvulo fértil, se o amor não vinga,
a natureza mastiga
toda a linhagem de descendência.

Se um cai, e o amor não vinga,
morre curta, longa tradição por insuficiência,
morre organismo que vivo foi um dia.

Sem parar a pesquisa, criaremos casamentos por mais um ano,
atentos ao véu de DNA, que é a pele da vida,
plantaremos nos bichos o amor humano?

... Cumpriu-se, ó noiva, a promessa!
Cumpriu-se, ó noivo, o desejo!

Adeus - alegra-te - ó noiva;
alegra-te - e adeus - ó nobre esposo...

                                   Alegrai-vos, agora, e parti!
Ao mar, aos ares, onde for o quarto:
                                               O tálamo italiano!


Templo IV        Templo VI


Arabesco

Templo IV

O altar

Pequena estrada de areia,
repleta de lua cheia –
                                   lâmpada tão cheia!
                        como o olhar do sol
                        sobre a lona da noite;
e a mesma velha fogueira,
            (imemorial)
em que suas labaredas
eram almas vagando acesas,
saltando como faíscas
em saltos e quedas eternas.



As meninas

Juno, teu coração era pequeno,
era apenas uma menina.
Teu corpo todo batendo,
batendo,
à espera de alegria.



As cartas

1.
Ofereço ao mundo a indiferença
ao que o mundo me dá.
Assim, me ofereço ao mundo
como faz a voraz fogueira – que tudo incendeia –
antes de tudo apagar.


2.
A fogueira, somente a fogueira,
cospe estrelas ao céu,
e casam-se também elas, o céu e a terra
numa única chama – eterna.


3.
Juno, ninguém ama ao se conhecer,
nada nasce amando,
quanto mais de mim há em você
            – quanto mais de você há em mim –
mais e mais nos amamos.
Amo o que há de mim em você,
que sou eu já de outra forma.
Você foi um ventre
que me gerou melhor
do que sou,
melhor do que poderia
sozinho,
fui a semente que deitou
em você, e só por isso frutificou.
Amo você –
já sou outro em você
e já é outra em mim –,
já não somos quem fomos
ou quem somos,
somos algo além

                                               que não sei
                                               dizer o que
                                               quero dizer,
                                              
                                               que não sei
                                               dizer o que
                                               quero dizer.



Os símbolos

Você o aceita como seu legítimo esposo? E promete amá-lo e respeitá-lo, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte os separe? Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe? Portal da vida nova, beco sem saída, marido e mulher perante deus e homens, início de vida a dois, na saúde e na doença, até que a morte nos separe. Aliança, amêndoas, arroz, beijo, bem casados, bolo, buquês, flores, grinalda, lua-de-mel, noiva à esquerda do noivo, noivo sem ver a noiva vestida à caráter antes da cerimônia, vestido e véu. Sonho de princesa, na igreja, num sítio, castelo, em Vegas, na praia, no campo. Sal e pão no bolso, transportar fogo, cor vermelha, pinheiros, arroz, muito arroz; músicas da cerimônia, lista de presentes, anéis e alianças, sobre casa nova, festa de noivado, vestidos e sapatos da época, viagem, cerimonial, acessórios, buffets, bolos e doces, cabelos, maquiagens, caligrafia e lacres, enxoval, fotos e vídeos, hóteis e pousadas, bebidas e aulas de culinária; carros para noiva, passaporte, câmbio em moeda estrangeira, convites, decoração; exame pré-nupcial, planos de contingência; dj´s, estética, garçons e churrasqueiros; valsa dos noivos, dos pais, dos padrinhos; noivinhos de bolo, lembrancinhas, salão de festas; trash the dress, convidados, seguranças, manobristas; cartório, planos de viagens, mala, fertilidade e gravidez; vestidos de festa, utilidades domésticas; celebrante, som, telão, efeitos especiais, limpeza; igrejas, chá-de-cozinha, agências de viagens; álbuns, cartões de agradecimento, coquetel, daminhas e pajens, flores, R.S.V.P., open house, chá-de-langerie, chá-bar, lista de presentes, roteiro de passeios, lista de padrinhos, fotojornalismo, topo do bolo, banqueteiros, coral e orquestra, floriculturas, revistas, guias e sites de casamento, financiamento, feiras e eventos e outros poucos serviços; assim como a nuvem só existe se chover, assim como o poeta só é grande se sofrer, assim como viver sem amor não é viver, não há você sem mim, eu não existo sem você; o amor é a poesia dos sentidos. Quando existe, existe para todo o sempre e aumenta cada vez mais; se a resposta for não, então por favor não diga nada; apenas deixe que eu espere eternamente pelo teu sim. Assim, não viverei sofrendo com o coração partido, mas apenas com a ignorante ilusão de que você me ama; pra mim só existiam 3 tipos de mulheres: mulheres para um dia, mulheres para meses e mulheres para anos... Mas agora que te conheci, eu sei que existe mulher para toda a vida; você a aceita como sua legítima esposa? E promete amá-la e respeitá-la, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte os separe? Promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-lhe e respeitando-lhe até que a morte os separe?


Templo III        Templo V


Visões poéticas

¿  Existem ficções poéticas.
¿  Existem verdades poéticas.