Quantas mortes uma língua pode sofrer? A nossa língua portuguesa veio do latim vulgar, que é hoje uma língua morta. E hoje as inscrições tumulares são uma das fontes de estudo do latim vulgar. Tanto as pessoas que solicitavam a gravação das inscrições quanto os artífices que a faziam desconheciam o latim clássico. Como há mortos em todas as épocas e lugares, as inscrições tumulares gravadas em latim vulgar dão conta da língua falada em diversas regiões e diversos períodos.
Há ainda um outro tipo de morte na linguagem – o arcaísmo, quando as palavras são levadas ao túmulo pelos mortos. Existem palavras que perdem um significado para ganharem outro: saúde (salvação); palavras que são substituídas por outras: femença (atenção ou cuidado); palavras que são arcaicas sob os aspectos gráficos (ley – lei), fonéticos (dino – digno) e flexionais (a mar – o mar). São também consideradas arcaísmos as formas de construir frases que caíram em desuso. Escrever “ninguém não escrevia” é um arcaísmo sintático porque não se usa mais duas negativas (ninguém não) antes do verbo (escrevia). O desaparecimento de costumes, instituições e objetos, o aparecimento de sinônimos e a degradação de sentido são apontados como causas do arcaísmo. Isso é o que nos mostram as gramáticas históricas.
Mas pode a língua sofrer algum outro tipo de morte? Sim, quando seus falantes já não a conhecem tão bem, quando seus falantes não conseguem mais escrever nem ler qualquer poesia nessa língua, quando seus falantes se tornam órfãos da língua materna, quando a língua não é usada para a verdadeira comunicação.