Vigiava seu monumento
num tempo sem convicções,
num tempo de corpos frágeis,
de prédios que desabam,
de pessoas que morrem
de paixões... e mais nada.
Nem lembrava mais da festa:
— mas como! seduziu o homem?
— pude implodir-lhe os ossos
com somente um sorriso!
Assim, criou-se a paixão
e o beijo e o sangue e a morte.
Ela o carrega nas pulsações,
pouco sente seu corpo morto
esculpido na pele,
que dizia: ... vivos
somos traídos;
presos, esquecidos;
e mortos deixamos saudades...
Ela carrega este muro
onde talharam este lamento,
onde talharam templos
(que hoje
são gestos sedutores),
onde revoam motocicletas em sobrevoo,
onde deus converte o homem.
— Onde deus converte o homem?
Ela carrega também a questão.
Enquanto vigia seu lamento,
o céu reflete a sua face acinzentada
e as manchas azuis de um olhar profundo
que não tem questionamentos.
Ela carrega esse tema
e, como você, carrega o passado,
carrega também o futuro, e tem paciência;
pois entre os mortos de sua vida
emergirão as Cariátides para vigiar
inacabados monumentos.