Templo V

1.
Eu sou a ponta da flecha
a ferir o tempo,
e o que vem
atrás de mim
não passa de ausência.

Eu sou a ponta da flecha
de um pequeno triângulo.
Sou apenas um,
que veio de dois;
dos dois de quem vim,
cada um
veio por natureza de dois;
dos quatro de quem vim,
cada um
veio instintivamente de dois;
dos oito, dezesseis, trinta e dois,
da potência
desses dois elevados ao infinito
de que vim,
e sendo apenas um,
levo todos perto de mim:
essa origem distante que é zero,
e nada, e tão ampla,
nem passa de ausência.

O DNA verdadeiro
é o DNA
            do arqueiro.

2.
Ao olhar, olha cientificamente:
Há dois leões pulando no teu peito
E não sabes qual dos dois matar.

Duas atrações se combatem,
enroscam-se duas serpentes,
no cérebro rastejam as duas:

apaixonamento de anfetamina –
            afetoamina, indústria da paixão,
opióides de oxitocina em meninos e meninas.

Vários impulsos de afetoamina em amores vários,
e sucessor nasce de antecessor, desvairados,
é um amor geneticamente modificado.

Várias paixões ferais de oxitocina
reproduzem-se freneticamente sozinhas,
e os homens perdem o pulso ao acaso da vida.

Vários amores escapam da paixão científica,
vários Cupidos descontrolados,
inseminados para ver se vingam.

Feito um óvulo fértil, se o amor não vinga,
a natureza mastiga
toda a linhagem de descendência.

Se um cai, e o amor não vinga,
morre curta, longa tradição por insuficiência,
morre organismo que vivo foi um dia.

Sem parar a pesquisa, criaremos casamentos por mais um ano,
atentos ao véu de DNA, que é a pele da vida,
plantaremos nos bichos o amor humano?

... Cumpriu-se, ó noiva, a promessa!
Cumpriu-se, ó noivo, o desejo!

Adeus - alegra-te - ó noiva;
alegra-te - e adeus - ó nobre esposo...

                                   Alegrai-vos, agora, e parti!
Ao mar, aos ares, onde for o quarto:
                                               O tálamo italiano!


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