Eclipse


O Eclipse é um relevante indicador cósmico. Tem duração máxima de uns OITO minutosE pode nublar a razão.

Esses oito minutos comportam uma hora e meia de peça. Em oito minutos cabem cem anos de histórias, contos e uma cosmovisão.

oito minutos de tensão entre Sol e Lua, tensão entre um círculo e um quadrado, entre uma luz fortíssima e uma porta que se fecha.

A materialização desta tensão produzida está lá. Está no homem e na humanidade, na fé, no teatro, na felicidade e nos talentos. E nas groselhas. Como ainda nos lambuzamos de groselhas. E como elas estão sempre saborosas!

Na transfiguração do teatro, o sol é uma forte lâmpada incandescente e a porta é a lua. E o ponto de distensão é o ovo quadrado.

O ovo ancestral mostra a vida gerada pela tensão de claro-escuro, luz-sombra, razão-emoção, revelação-mistério. Mostra a vida gerada pela conjunção dos astros, pelas ideias e pelos ideais de Tchékhov alinhados, e potencializados com os recursos do teatro.

O ovo quadrado é o sol diante da porta, que um dia se abre. É o círculo, que é o homem perfeito, mais o quadrado, que é o homem ainda cheio de arestas, jogado no meio da natureza, à procura da perfeição.

O eclipse é um relevante indicador cósmico. Dura no máximo uns 8 minutos. E nubla a razão.

Mas a curta temporada no Rio de Janeiro durou somente uma semana.

Espetáculo Eclipse, encenado pelo Grupo Galpão em 20 de abril de 2012 no Sesc Ginástico RJ.


Visões de simbolismo


¿ Linguagem é a expressão falada das ideias.
¿ Linguagem é também a expressão das ideias por qualquer outro meio.
¿ A linguagem dos símbolos foi ensinada pela natureza.


Χαίνω

χάϊος
χαίνω


Besame Mucho



Termina com um beijo molhado ou com um beijo seco? Não pude ver.

Mas o texto é bem molhado, com muito sexo, muitas lágrimas e muito passado.

É quando a inteligência brilha e trabalha sobre as águas pantanosas do passado.

Existe ali uma pesquisa de época, um estudo nas próprias águas passadas. Daí o retrocesso.

Culpa, sexo, religião, masturbação, política, futuro... um beijo e o amor, o riso e a amizade. Tudo na escuridão profunda entre as algas vermelhas.

Esse é o tempo da vida de cada um: o relógio da inteligência que brilha e trabalha sobre as águas pantanosas do passado.

Esse é o calendário individual. E os dias são marcados por lembranças, lágrimas, risos e beijos.

Peça Besame Mucho, encenada em 21 de abril na sala Fernanda Montenegro do Teatro do Leblon.


Vínculo


Vínculo – 1) Tudo o que ata, liga ou aperta. 2) , liame. 3) Ligação moral. 4) Relação, subordinação. 5) Nexo, sentido. 6) Em informática, ligação entre itens de dados, ou programas, e que permite, ao se usar ou consultar um deles, fácil acesso aos outros. 7) Em hipertextos e hipermídias, ligação análoga e que serve de elo entre documentos como recurso de navegação. (Adaptado do Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa)

Vínculo – Século XVI. Do latim vinculum. (Adaptado do Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa)

Vinculum – Liame, ligame, laço, atilho. Prisões, cadeias, correntes, grilhões, ferros. O que prende, retém, refreia. (Adaptado do Dicionário Latino-Português)

VínculoConectivo, conjunção, hífen, travessão, intermédio, parêntese, raiz, tendão, cordão umbilical, corda, cordel, cordão, fita, faixa, alfinete, grampo, pino, prego, cravo, botão, colchete, cadeado, anzol, arpão, betume, lacre, ponte, viaduto. Encadeamento, interdependência, conotação, correlação, analogia, semelhança, aliança, aproximação, associação, correspondência, comparação, confronto, proporção, equação, alusão, referência [em relação]. Cárcere, calabouço, masmorra, penitenciária, solitária, fortaleza, torre, cela, gaiola, curral, senzala, algemas, pelourinho, camisa de força, focinheira, rédea, chave, muralha, parede, internação, reclusão, toque de recolher, estado de sítio, confinamento, gueto [em prisão]. Controle, bloqueio, mão firme, incomunicabilidade, garras, tentáculo, unhas, braços, dedos, pulso, dentes, presa, pinça, alicate [em retenção]. (Adaptado do Dicionário Analógico da Língua Portuguesa)

– As significações do nó são bem diversas, mas reter-se-á sobretudo a noção de fixação num estado determinado, de condensação. Fala-se de nó da ação, de desenlace, de nó vital. Desfazer o nó corresponde quer à crise ou à morte, quer à solução ou à liberação. O que faz aparecer logo a ambivalência do símbolo. O nó é constrangimento, complicação, complexo, enroscamento; mas os nós são, pela corda, ligados a seu Princípio. Os nós podem também materializar os enredamentos da fatalidade. Na literatura e na arte religiosa, simbolizam o poder que liga e desliga. Podem ainda simbolizar a união de dois seres ou um liame social, até mesmo um liame cósmico com a vida primordial. (Adaptado do Dicionário de Símbolos)


Elo


Elo – 1) Argola de cadeia. 2) Ligação, união, continuação. 3) Em hipertextos ou sistemas de hipermídia, remissão de um documento (ou ponto de um documento) a outro, que permite fácil acesso a eles e deslocamento entre eles (por exemplo, por meio de cliques sobre termos grifados e ícones). 4) Em botânica, gavinha – órgão sexual das plantas trepadeiras, com o qual elas se prendem a outras ou a estacas. 5) Elo perdido: elemento que falta para  completar uma série, uma classificação científica. Na teoria de Darwin, o espécime que seria o intermediário entre o macaco e o homem. (Adaptado do Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa)

Elo – Ello. Século XV. Do latim anellus, através de uma forma aelo. (Adaptado do Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa)

Anellus ou Annellusanelzinho, diminutivo de annulus. Annulus – anel do dedo. Anel, argola, círculo. Gavinhas da videira. (Adaptado do Dicionário Latino-Português)

Elo – Encadeamento, interdependência, conotação, correlação, analogia, semelhança, aliança, aproximação, associação, correspondência, comparação, confronto, proporção, equação, alusão, referência [em relação]. Indissolubilidade, fusão, enlace, amarração, cópula, soldadura, cravação, ensamblagem, comunicação, casamento, colagem, costura, eixo, mola, encaixe [em junção]. Conectivo, conjunção, hífen, travessão, intermédio, parêntese, raiz, tendão, cordão umbilical, corda, cordel, cordão, fita, faixa, alfinete, grampo, pino, prego, cravo, botão, colchete, cadeado, anzol, arpão, betume, lacre, ponte, viaduto [em vínculo]. Posto, classe, posição, , situação, etapa, passo, fase, degrau, curso, estação, lance, culminação, alto, nível, categoria, estado, plano, lugar [termo]. Circularidade, orbe, aro, arco, disco, leque, óculo, roda, ciclo, rosário, grinalda, colar, coleira, rodopio [em circunferência]. (Adaptado do Dicionário Analógico da Língua Portuguesa)

AnelO anel serve para indicar um elo, para vincular. Ele aparece como o signo de uma aliança, de um voto, de uma comunidade, de um destino associado. A ambivalência desse símbolo provém do fato de que o anel une e isola ao mesmo tempo, fazendo lembrar por isso a relação dialética amo-escravo. FivelaO simbolismo da fivela relaciona-se com o do elo. Fechada significa autodefesa; aberta anuncia uma liberação: oferece ou dá aquilo que significa. A fivela adquire um valor cíclico e simboliza o eterno retorno: evoca o destino. Videira – No mandeísmo, o vinho é a incorporação da luz, da sabedoria e da pureza. O arquétipo do vinho encontra-se no mundo celeste. A videira arquétipo é composta de água no interior, sua folhagem é formada de espíritos da luz e seus nós são grãos de luz. A videira é considerada uma árvore cósmica, pois envolve os céus, e os bagos da uva são as estrelas. (Adaptado do Dicionário de Símbolos)


Superviacrucis

Mosaico de versos pichados nos muros da Supervia. Leitura sobre trilhos. Sujeito a alterações. Créditos da última estrofe a Cazuza:



                                           

Link




Link – ver hiperlink. (Adaptado do Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa)

Link – 1) One ring or loop of a chain. 2) Person or thing that connects two others. 3) Measure of lengh, one hundreth of a chain, about 20 centimetres. Livre tradução: 1) Anel ou elo de uma corrente, de uma cadeia, série. 2) Pessoa ou coisa que conecta outras duas. 3) Medida de comprimento, um centésimo de 66 pés, 7,92 polegadas, aproximadamente 20 centímetros. (Adaptado de Oxford Advanced Learner´s Dictionary)

Link – 1) Argola. 2) Elo. 3) Conexão. 4) Articulação. 5) Ligação. 6) Vínculo. (Adaptado do Pequeno Dicionário Michaelis)


Visões de símbolo


¿ Símbolo é um conjunto de ideias.
¿ Emblema é um conjunto de símbolos.
¿ Parábola é um símbolo falado.
¿ A parábola representa alegoricamente fatos, acontecimentos, realidades da vida.
¿ O saber antigo encontrava sua expressão pictórica na parábola e na alegoria.
¿ A palavra tem um poder que hoje não conhecemos.
¿ O som e o ritmo podem despertar poderes.


Rubaía


Original persa de uma rubaía - Rubáiyát, Ed. Martin Claret, p. 205



Recitamos uma das rubaiatas (quadras) de Omar Khayyám traduzida por Christovam de Camargo e Ragy Basile. Leitura desassossegada por Bernardo Soares.

Seguimos viagem
impelidos pelo Destino.
Após a partida,
agitado, confuso
tudo continuou.

Oh! Que pena!
De cada cem diamantes,
belos, deslumbrantes,
um só foi perfurado
para ser usado.

de ideias, de sentimentos
que formariam delicadas figuras.
Ideias e sentimentos
em prosa ou verso,
nem sequer citados.

Temos medo da estupidez humana,
receamos os inimigos da razão.
Será assim tudo apreendido,
desfigurado
e incinerado
pelos brutos.


Livro do Desassossego

O que é o L. do D.?

Fernando Pessoa: É um livro no qual predominam a inquietação e a incerteza. Uma produção doentia. Um novo gênero de paulismo. Mas tudo fragmentos, fragmentos, fragmentos. Autobiografia sem fatos, história sem vida. Confissões de quem nada tem a dizer. Bernardo Soares, autor do livro, não é um heterônimo, mas uma personalidade literária, uma personagem.

Bernardo Soares: Este livro é um gemido. Escrito ele já o não é o livro mais triste que há em Portugal. Livro de expressões sem nexo. Esforço humilde de registrar, como uma máquina de nervos, as impressões mínimas de uma vida subjetiva e aguda. Diário naturalmente artificial. Livro estranho como portões abertos numa casa abandonada. Belo e inútil. Nada ensina, nada faz crer, nada faz sentir. Regato que corre para um abismo-cinza que o vento espalha e nem fecunda nem é daninho. Versos, prosas que se não pensam escrever, mas sonhar apenas. Uma arte outra do que toda a arte havida. Quero ser uma obra de arte, da alma pelo menos, já que do corpo não posso ser.

Richard Zenith: Livro-caos, falta de um centro, o mundo todo reduzido a fragmentos. Obra inacabada e inacabável, vários livros de vários autores. Texto sobre texto sobre texto. A ideia primitiva era a de um livro só de trechos com títulos. Centenas de textos misturados, como pedaços de um puzzle sem desenho reconhecível. Uma edição de peças soltas, arrumáveis ao bom prazer de cada leitor. Leitura sempre fora de ordem. Coisa parecida com um livro.

NEP: Ou a realização de um novo gênero. Versos e prosas que se não pensam escrever, mas sonhar apenas. O gênero Sonhos idealizado por Sá-Carneiro. Ou o fantasma de um blogue possível de ser visto apenas na imaginação do poeta, precursor de qualquer tecnologia. Cada fragmento um post, cada heterônimo um marcador, diário naturalmente artificial, fragmentos, fragmentos, fragmentos, pedaços de puzzle sem desenho reconhecível, arrumáveis ao bom prazer de cada leitor, uma arte outra do que toda arte havida. A visão do fantasma de um blogue poético!


¿!

A vida é a hesitação entre uma exclamação e uma interrogação.
  


Os Lusíadas


Os versos latinos vêm dos sulcos da terra.

Os versos portugueses vêm da linha do horizonte. Vêm da linha do horizonte ondulando em estrofes. Em estrofes ondulantes delineiam praias.

Traduzem os poetas o que entreviram nas entrelinhas que separam espuma e areia, céu e mar, caravela e corpo, superfície e profundidade, partida e chegada, realidade e nada. Nas entrelinhas que separam veículos. Traduzem os poetas o que entreviram em epopeias.

Divisores de águas, escrevem fixando-as. Águas de um mar exterior e oceânico e águas de um mar interior e psíquico. Águas de mares navegáveis. Escrevem fixando palavras.

E hoje, nos blogues, depois de muitas linhas e águas passadas, já não navegamos: vagamos em um mar virtual. Não em um mar: vagamos na própria rede.

É preciso ler antes que a onda de recuo apague tudo.


Casamento de Juno – Fragmentos

Este poema é algo em andamento, por isso não haverá o texto completo. É o quinto numa série de seis que compõem a primeira parte do poema Casamento de Juno, parte chamada Princípio.

V

1.
Arma-se a cabana,
e a tenda construída.
Bem lá no centro
do tabernáculo
de forma atrevida
ergue-se a deusa
também dançarina.
Deusa das serpentes
preta, de Creta,
que a serpente também é de pedra
e fértil,
que a serpente é também abundância
e felicidade,
e toda a pradaria é domínio.
Deusa das serpentes
preta, de Creta,
de olhar crepitado
e seios fartos,
pois este olhar amamenta
os homens sedentos
do povoado.
Ergue-se a deusa dançarina,
que, dançando,
serpentes domina e seduz,
e assim produz a fé nos homens,


Outro fragmento em O DNA e os números.


Ninguém Sai!

Ninguém Sai.

Assistimos no dia 08 de março à apresentação da banda Ninguém Sai! no Teatro Odisseia, Lapa, Rio de Janeiro. O show é muito bom, e o cd de divulgação também.

Ninguém sai de onde? Do show, porque é muito bom? Da banda, pois a parceria é perfeita?

Ninguém sai do pôquer. Jogo de várias semanas em que se perde mulher, perdem-se filhos, a campainha toca, a mãe entra, o filho nasce, chega a polícia... mas no texto de Veríssimo ninguém sai. E a frase se repete insistentemente como um refrão.

De Veríssimo para TV Pirata, o refrão foi entoado pelo coro cômico dos jogadores interpretados por Luis Fernando Guimarães, Guilherme Karan e Pedro Paulo Rangel.

Da TV para a Banda. Terá sido esse o caminho? A expressão passeou por diversos meios – de um jogo para a literatura, daí para a televisão, para a música... e para um blogue, que fica contente em saber que ainda existem bandas que querem dizer alguma coisa com seu nome.

Ninguém sai do espaço sem dançar?

A NS! faz releituras de clássicos e hits nacionais e internacionais dos anos 60 aos 90 do século passado.

Ninguém sai do espaço? Ninguém sai do tempo?

Ninguém sai do passado? O que nos fascina tanto no passado? O que nos torna colecionadores de estilos e de épocas? O lirismo de uma recordação ou a memória narrativa do que houve? Uma saudade ou uma nostalgia? É normal voltar alguns passos quando não se sabe como avançar para algum lugar? Dois passos para trás e um para frente: essa é a dança?

Há criadores entre os colecionadores?

Ninguém sabe! Ninguém sabe!


Os Lusíadas – Canto Quarto


Recitando do Canto Quarto de Os Lusíadas as oitavas 94, 95, 97 e 102:

Mas um velho, de aspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Posto em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
Cum saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:

- Ó glória de mandar, ó vã cobiça
Desta vaidade a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
Cũa aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que morte, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!

[...]

A que novos desastres determinas
De levar estes Reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas,
Deba[i]xo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos e de minas
De ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? Que histórias?

[...]

Oh! Maldito o primeiro que, no mundo,
Nas ondas vela pôs em seco lenho!
Di[g]no da eterna pena do Profundo,
Se é justa a justa Lei que sigo e tenho!
Nunca juízo algum alto e profundo
Nem cítara sonora ou vivo engenho,
Te dê por isso fama nem memória,

Luís de Camões


NS!


ONDE HOUVER LETRA, HAVERÁ LITERATURA.

[Imagem disponível no perfil do Facebook da Banda Ninguém Sai]