Quem somos nós: as máscaras




Tudo isso nos afeta a todos, mas os efeitos são mais pronunciados nas pessoas colocadas em posição de exercer em grau extraordinário o poder político, mental, econômico ou de qualquer outra espécie. A corrupção da mente e da moral que geralmente segue a posse e o uso do poder é um fenômeno muito conhecido, que vemos por toda a parte ao nosso redor. Essa corrupção está se tornando mais e mais difundida, proeminente e desmoralizante em seus efeitos, porque o desenvolvimento das instituições socialistas e democráticas dá a um grande número de pessoas a oportunidade de alcançar o poder e usá-lo para seus propósitos egoístas. Essa conquista do poder utiliza em geral a máscara do esforço para melhorar as condições econômicas, sociais e políticas dos outros, conseguindo sucesso em enganar a estes. Mas aqueles que têm algum senso de discriminação e não estão tirando benefícios pessoais, direta ou indiretamente, podem ver através dos artifícios empregados para disfarçar a natureza egoísta, e às vezes impudente, dessas ambições e atividades.

Essa tendência está se tornando mais e mais pronunciada e assumindo proporções alarmantes. Os que perseguem o poder, que conseguem alcançá-lo e dele auferem benefícios, são tão numerosos que estas coisas são tidas como óbvias e consideradas exercícios legítimo de nossa liberdade e direitos como seres humanos.
  

I. K. Taimni - Pratyabhijna Hridayam de Ksemaraja


Calçadas musicais



A onda que invade todos os verões é o Carnaval. Uma onda de ansiedade atinge as pessoas nos dias que antecedem o feriado. E os blocos são uma longa série de ondas de euforia a tomar conta das ruas.

Aproveitamos, então, para falar de uma rua muito especial do carnavalesco bairro de Vila Isabel: o Boulevard 28 de setembro. A rua recebeu esse nome por ser a data em que a princesa Isabel assinou a lei do ventre livre, tornando livres filhos de escravos nascidos a partir daquele dia. O mosaico acima é parte das calçadas do Boulevard. Durante o carnaval, um colorido mosaico se sobrepõe ao preto e branco dessas ondas musicais – são os confetes dos foliões que por ali desfilam.

Em comemoração aos 400 anos da cidade do Rio de Janeiro, o arquiteto Orlando Magdalena idealizou a obra – as Calçadas Musicais. Nelas encontramos partituras e cifras de importantes canções da música popular brasileira. Foi o músico Almirante, morador da Vila, quem selecionou o repertório a ser tesselado. O maestro Carioca simplificou as partituras. O projeto decorativo ficou por conta do arquiteto Hugo Ribeiro. E os anônimos calceteiros concretizaram a ideia com as conhecidas pedras portuguesas.

Símbolos do bairro, as Calçadas Musicais tesselam as seguintes canções:

¿!  Cidade Maravilhosa - André Filho (na Praça Maracanã)
¿!  Jura - Sinhô
¿!  Renascer das cinzas - Martinho da Vila (na Praça Barão de Drummond)

Vila Isabel é o berço dos compositores Noel Rosa, João de Barro e Martinho da Vila e é também o berço da escola de samba Unidos de Vila Isabel. Em 1988, ano da promulgação da nossa atual constituição, a escola foi campeã do carnaval com o enredo Kizomba – Festa da Raça. O enredo foi idealizado por Martinho da Vila, tendo Rodolpho de Souza, Jonas e Luiz Carlos da Vila como compositores do samba-enredo. “Anastácia não se deixou escravizar”, “O pagode é o partido popular” e “Esta kizomba é nossa constituição” são partes da letra do samba.

Os versos de outros carnavais são cantarolados nos blocos de rua ainda hoje. Uma onda de nostalgia também invade a festa das raças. 


Fonte da imagem: Rio eu te amo


Jogos Vorazes – O tordo e a distopia



Foi no ano passado, na semana do Natal. Era noite de segunda-feira. O shopping estava cheio, havia fila na porta de uma loja de chinelos, as pessoas carregavam sacolas e bolsas esbarrando umas nas outras. Uma das consumidoras reclamava de ter sido roubada, de ter ficado sem dinheiro, cartão, documento, chave... O cinema estava mais vazio que de costume. Foi quando assistimos à primeira parte de Jogos Vorazes – A Esperança, adaptação para o cinema do livro de Suzanne Collins.


Quem nos apresentou ao livro foi a mesma menina que nos mostrou Lições de Cousas. Na época, achamos interessante o fato de a ideia da autora ter surgido enquanto ela zapeava canais de tevê. O reality show em uma emissora e as cenas da Guerra do Iraque em outra formaram a téssera que deu origem à trilogia Jogos Vorazes, Em Chamas e A Esperança. O link foi o mito de Teseu. Anos depois, uma amiga da tal menina sugeriu que fôssemos ver os filmes.


Vimos que os Jogos Vorazes (Hunger Games), realizados pela Capital de Panem, são um reality show no qual jovens tributos lutam até que somente um sobreviva em uma alegórica arena. Cada distrito de Panem é representado por um casal de tributos. A maioria dos participantes é escolhida por sorteio em um evento chamado Colheita. Nossas tésseras aparecem no livro para nomear o pequeno suprimento anual de grãos e óleo fornecido para uma pessoa em troca de que seu nome seja novamente colocado na Colheita. A fim de poupar a irmã sorteada, uma jovem apresenta-se como voluntária – a primeira voluntária do distrito 12. Trata-se de Katniss, a personagem principal. Sempre supreendendo os idealizadores, os patrocinadores e a audiência dos jogos, ela é a vencedora, juntamente com seu par. Quebrando as regras, a arqueira vai se transformando em símbolo. No início, da própria Capital. Mas, ao longo da trama, Katniss acaba se revelando o símbolo de uma guerra de resistência ao poder da Capital.


Em entrevista, Suzanne Collins diz que 1984 e Admirável Mundo Novo estão entre as influências diretas da trilogia por causa dos aspectos distópicos. Em discurso no parlamento britânico, John Stuart Mill foi o primeiro a fazer um uso conhecido do termo distopia: "É, provavelmente, demasiado elogioso chamá-los utópicos; deveriam em vez disso ser chamados dis-tópicos. O que é comumente chamado utopia é demasiado bom para ser praticável; mas o que eles parecem defender é demasiado mau para ser praticável". Considerando a formação da palavra, utopia significa lugar nenhum e distopia, lugar ruim. As ficções distópicas estão intimamente linkadas com as sociedades em que elas são criadas. Vemos em Jogos Vorazes não só fome, mas medo, crueldade e tirania de governo, espetacularização e glamorização da violência, propaganda de guerra, juventude competitiva e uso de tecnologia a serviço de tudo isso. Seguem alguns exemplos de distopia na literatura e no cinema:

¿!  Totalitarista: 1984 (1949), V de Vingança (2005)
¿!  Corporativista: Robocop (1987), Clube da Luta (1999), Rollerball (1975)
¿!  Tecnológica: Blade Runner (1982), Divergente (trilogia), Admirável Mundo Novo
¿!  Ambiental: Nausicaä do Vale do Vento (1984)
¿!  Generalizada: La Belle Verte (1994)
¿!  Cybernética: Minority Report (2002), Matrix (1999)
¿!  Cyberpunk: Aachi & Ssipak, Akira (1988), Avalon, Blade Runner, eXistenZ, Ghost In The Shell (1994), Johnny Mnemonic, Looper, Metropolis, Natural City, Nirvana, Pandorum, Renaissance, Repo Men, RoboCop, Sleep Dealer, O Exterminador do Futuro, Videodrome, Matrix, Surrogates, WALL-E
¿!  Consumista: Clube da Luta
¿!  Pandêmica: 12 Macacos (1995), Filhos da Esperança (2006), Ensaio sobre acegueira (2008)
¿!  Moral: Beleza Americana (1999), Cisne Negro (2010)
¿!  Religiosa: O livro de Eli (2010)
¿!  Privacidade: Tokyo! (2008)
¿!  Misógena: A Decadência de uma Espécie (1990)
¿!  Militar: Equilibrium
¿!  Criminosa: A Laranja Mecânica (1971), Fuga de Nova York
¿!  Superpopulação: Battle Royale
¿!  Pós-apocalíptica: Mad Max (1979), O Planeta dos Macacos (1968), A Estrada
¿!  Conspiração: Divergente (trilogia)
¿!  Financeira: O Preço do Amanhã
¿!  Alienígena: Guerra dos Mundos (1953)
¿!  Cômica: Brazil (1985), Idiocracy (2006)


O que nos interessou realmente no eufemístico Jogos Vorazes – A Esperança (título traduzido para o Brasil) ou no denotativo Jogos da Fome – A Revolta (título do filme em Portugal) foi o Mockingjay. Jabberjays são pássaros criados artificialmente pela Capital para memorizar e repetir conversas humanas. A Capital os abandonou na natureza quando os rebeldes descobriram a estratégia. Mockingbird é o verdadeiro tordo, pássaro típico dos EUA cujo canto é a combinação do canto de outras aves. Mockingjay (também traduzido como Tordo, daí a confusão) é o pássaro originário do cruzamento dos machos Jabberjays com as fêmeas Mockingbirds. Os Mockingjays são capazes de reproduzir as melodias humanas. No início, o pássaro é apenas um broche. Depois, um amuleto. Transforma-se numa roupa, num gesto, numa canção, numa armadura, num símbolo. Consciente e espontaneamente construído ao mesmo tempo, corporifica-se na personagem Katniss, enquanto se enriquece de significados. Inspira e encoraja os personagens da ficção para a revolução; dá liberdade de criação à autora; reforça o marketing do filme. Teria o tordo a função de identificar a localização simbólica da distópica Panem?



Fonte das imagens: Sobresaga


Os três sábios da gramática

Pânini, Katyâyana e Patañjali são os três sábios da gramática.

Patañjali tem a sabedoria da exposição. Katyâyana, a da complementação. Pânini tem a sabedoria coletiva. Foi ele quem recolheu as regras da melhor gramática já escrita para qualquer língua.

Nenhum deles é o criador da gramática. A literatura gramatical não é criada por nenhum sábio. Suas regras são reunidas e comentadas.


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Inspiração

Um grande músico é capaz de criar suas melhores obras ao perder-se por inteiro em seu trabalho. Um inventor resolve seus maiores problemas quando não está consciente de solucionar qualquer problema. É em tais momentos que essas pessoas têm inspiração e contato com aquilo que estão procurando, desde que, é claro, tenham dominado a técnica e suas mentes estejam plenamente concentradas. É o desaparecimento da autoconsciência que, de algum modo, abre a porta para um novo mundo em que normalmente elas não têm condições de entrar.


I. K. Taimni – A Ciência do Yoga