Nossos mitos por N.E.P. – uma tentativa


Capa do livro O homem e seus símbolos de C. G. Jung


Por que, então, privar-nos de crenças que se mostram salutares em nossas crises e dão um certo sentido a nossas vidas?
Jung, idem


Pensamos, às vezes, que os mitos antigos não passam de atraso e de mentiras. No entanto, eles ajudavam os antigos a encontrarem sentido em suas vidas.
Hoje não mais acreditamos nos velhos mitos. Acreditamos que não temos mitos. Com nossos ouvidos tampados por fones, repetimos em alto e bom som que tudo não passa de um grande absurdo. Tentamos construir nossa estabilidade colocando suas fundações justamente no abismo de fumaça, cada vez mais fundo e cada vez mais esfumaçado pelas nossas decepções, conectadas à roda da produção.
Decepcionados com uma escola que não existe, com uma saúde que não temos, com uma vida que não escolhemos, com uma paz impossível, com tudo que nunca atingimos, com nada que seja o bastante, com qualquer coisa que nunca acontece.
Decepcionados, porém consolados. Fomos Conscientizados de que fazemos parte da Maioria (escrita com o mesmo M maiúsculo da Grande Mãe, da Matriz, de Maya, Matéria, Mercadoria).
Desconfiemos de nossas constantes decepções.
Tenhamos a coragem do agir poético, do agir criador – desconfiemos de nossas constantes decepções.
Conscientizar alguém de algo é colocar um quadrado dentro de um quadrado, dentro de um quadrado... fazendo um quadrado cada vez maior. Mas talvez a ação poética esteja na quadratura do círculo, na tomada de consciência (e não na conscientização) de um todo natural.
Estamos tentando visualizar um todo através de Nossos Estudos Poéticos. Estamos tentando visualizar um todo através das tesselas com que compomos este mosaico. Estamos tentando visualizar este todo através dos fragmentos com que compomos este mosaico – intuindo, vendo, estudando, criando, conhecendo nossas linguagens, nossas palavras, lendo, recitando, participando dos acontecimentos, tentando.
Uma experiência a mais é mais uma tentativa do ser humano – e da natureza através do ser humano.
Cada tessela é importante porque cada tessela é uma parte do todo. O todo não é uma maioria de tesselas. A maioria sobrepondo-se à minoria não forma téssera alguma. A téssera do mosaico é cada parte linkada ao todo. É cada parte visível ligada a um todo invisível.