Princípio IV


1.
Ele está gamado nela!
O amor tão antigo das gírias
e dos gestos dos mais velhos.
O amor tão antigo dos gregos,
dos gametas científicos,
masculinos, femininos,
unidos por magnetismo:
parte se alimenta de cópulas
e parte alimenta os instintos.

2.
Dieta de um corpo
dentro do corpo
inclinado ao fervor,
ancestral do epitalâmio,
precursor da epigamia;
células nupciais,
positivas, negativas,
monogâmicas, poligâmicas,
radioativas
como um vulcão de raios-gama
ou derradeiro canhão de artilharia.

Sopra e fala baixo,
            fala baixo aos ouvidos
a língua ácida e sopra –
lábios trêmulos e escorregadios –
e cospe cinzas, renques de cinzas
em vários corpúsculos
de um corpo
                        inclinado ao fervor.

3.
Ela está gamada nele!
E tem fome, e tem sede,
tem febre de sede ardente;
mas tem pra dar de beber
uma fonte que jorra horizontes,
natural como a cachoeira
desvia os viajantes
ou sereias navegantes
assentam quem é nômade,
e finca em terra batida,
mais firme, a haste primeira –
                        a coluna primordial
                        de um corpo
                        inclinado ao fervor.

4.
Ela, que desvia os viajantes,
respira por obeliscos conjugais,
voltas e voltas
onde fervem universos
onde em panelas de barro
            sopram universos
nos mais recônditos segredos;
lá, onde seres cansam de acasalar,
de acasalar, casalando,
e casam.
            (Pois casar é criar casa,
            casar é criar um casal).
Casam e cansam,
cansam de tanto trovão,
de chuva, de bicho, de cria,
de herança desprotegida,
e cansam de tudo isso, cansados,
e casam
e tornam mais firme o sexo,
o nexo latejante do impulso:
            caçar, colher, casar
                        – eis o teu instinto!
            A base, fundamento e pedra da civilização.