Recitando Cristina 1


1) Como gostaria de se apresentar ao blogue?

Sou Cristina Figueiredo, informática de formação, astróloga por devoção há 16 anos. Faço astrologia humanista, centrada no desenvolvimento do indivíduo. Por isso, desejo fortemente que a astrologia possa ser utilizada como ferramenta na educação, facilitando a formação de indivíduos menos fragmentados pelas exigências sociais.



2) Pode nos dizer como trabalha uma astróloga?

Um astrólogo trabalha calculando horóscopos para apresentar aos seus clientes as diversas possibilidades de utilizar seus potenciais para enfrentar seus desafios pessoais durante a vida. Apesar de os cálculos serem exatos,  o trabalho de análise da Carta Natal é bastante subjetivo por entender o cliente como um ser único que vai utilizar dos recursos que os astros oferecem de acordo com sua bagagem emocional e com o meio em que vive.




Recitando Cristina 2


3) Quando há poesia em seu trabalho com astrologia?

A astrologia é pura poesia. Olhar para o céu é admirar um grande poema. Compreender o movimento dos corpos celestes é como acolher o impacto que cada verso de um poema causa na alma.

Nada mais puro, belo, assustador e inatingível que o céu! Assim como qualquer processo criativo, assim como cada palavra escrita por um artista, assim como cada minuto vivido em nossa existência.

O trabalho do astrólogo é levar essa possibilidade de vivenciar intensa e perfeitamente todo o potencial que o céu lhe oferece, facilitando internalizar cada verso desse poema Vida.

A poesia acontece plenamente quando alguém utiliza bem os recursos celestes e constrói seu caminho com sucesso (e, então, pode brilhar como uma estrela).




Recitando Cristina 3


4) Que tipo de questionamento você se faz no seu trabalho? E o que tem respondido a si mesma?

A pergunta constante é: Qual é o meu papel na leitura do mapa desta pessoa?. Para cada cliente há uma resposta e eu preciso praticar essa delicadeza a cada consulta. E de cada cliente vem um aprendizado, pois ninguém vem a mim sem ter algo a me ensinar.



5) Você poderia escolher um post com que tenha mais afinidade para comentá-lo?

Adorei o Erro, pois “permaneço uma errante” nas minhas buscas pessoais. O erro é tão importante nos nossos caminhos...!




Recitando Cristina 4


6) Que pergunta você deixaria para o blogue?

O que vocês desejam do público que lê o blog?

Pergunta delicada porque é difícil desejar algo do público quando escrevemos poeticamente, já que se trata de uma escrita que busca existir por si mesma. Escrevemos sem sequer contar com a existência de um público. O blogue não é uma ideia fechada direcionada a um público certo e determinado. O blogue é uma ideia em formação. A ideia inicial foi simplesmente encontrar pessoas com quem pudéssemos dividir nossos estudos. Tínhamos muito em mente as ideias de afinidade e de colaboração. Achamos interessante como, às vezes, um comentário abre um novo horizonte; como uma pergunta formulada no Google traz alguém até o blogue, alguém que, talvez, não encontrássemos nunca. Como você mesma escreveu, ninguém vem a nós sem ter algo a nos ensinar. E nós desejamos aprender.




Recitando Cristina 5


7) Você é blogueira? Que blogues indicaria sobre literatura, arte e poesia? (pergunta do pintor Ronaldo do Rego Macedo)

Não costumo acompanhar blogues por falta de tempo. Há alguns anos minha filha começou a publicar algumas poesias dela num blogue e eu até estava acompanhando. Ela parou e eu também.



8) E que pergunta você deixaria para o próximo convidado desse espaço?

Imaginando que tudo está interligado no Universo, como você acha que modifica o seu espaço?




Mistério e ilusão


ENTRE O MISTÉRIO E A ILUSÃO
A PALAVRA FAZ SUAS TENTATIVAS


Poemas eleitorais III


MEUS VOTOS

Meus votos
Meus mais sinceros votos
minhas promessas
e meus compromissos
                        de eleger
e compromissos
                        de alguém
que não cumpre
                        como eu
meus sinceros votos
contra
as fortes
ondas do tempo

e agora,
            estoura,
                        na espuma
                        branca
                        da urna
                        de eletrônicas
                        cinzas,
meu voto
de silêncio:










FIM


Visões da maneira de proceder


¿  A maneira de proceder do pensamento é sistemática.
¿  A maneira de proceder da intuição é imediatista (sincronisticamente).




Introdução ao Casamento de Juno


O amor tem de ser reinventado.

A. Rimbaud


O Ramayana - uma palavra


Shiva, o grande deus, dividiu este romance em três partes. Como sobrasse uma seção, dividiu-a em três. Sobrou-lhe um verso, que ele dividiu também. Ficou-lhe ainda uma palavra, e esta – a palavra Rama – ele guardou para si como sendo a essência e o coração de tudo.

Rama mereceu a dádiva do primeiro poema. Dentre todos os homens, somente Rama nasceu conhecendo o próprio coração. Ler corações fazia parte de sua natureza livre e calma.

De acordo com o Ramayana, vivemos a última e melhor idade do mundo, pois nenhum ato tem valor, tudo é inútil... exceto dizer Rama. Rama é o que diremos quando tudo estiver se reduzindo a nada em torno de nós. Dizer Rama enquanto temos a oportunidade é fazer do nosso coração um santo lugar de amor. É iluminar nosso coração, desembaraçando-o tanto do mal quanto do bem.

Antes de morrer, atingido pelas balas de seu assassino, as últimas palavras de Gandhi foram Rama, Rama.

Que palavra é essa – Rama? Que nome é esse que abre versos na Terra, que é descrito e personificado, que dá forma a um caminho, que é guardado pelo deus da destruição, que inspira uma canção, e que chega ainda hoje até nós em um livro de poesia?

Para o Swami Prabhupada é o nome que significa a fonte de todo o prazer. Para Harendr Upadhyay é aquilo que transpõe o centro dos que são abençoados com um poder verdadeiro; é o que dá e retira a vida.

Ramayana quer dizer Caminho de Rama. Mas o que quer dizer Rama? Quem ou o que é Rama?

Em Nossos Estudos Poéticos visualizamos o Ramayana como o caminho do coração. O coração simboliza o centro vital do ser humano. De acordo com nosso dicionário de símbolos, o coração é o centro da individualidade, para o qual a pessoa retorna na sua caminhada espiritual.

O coração é o símbolo da presença e da consciência divina. Os nomes e atributos divinos constituem a verdadeira natureza do coração. O ponto mais íntimo do coração é chamado mistério e é onde a criatura encontra deus. O coração amante é o espelho do mundo invisível e de deus. Plástico e receptivo, assume qualquer forma pela qual deus se revele. O coração de um homem é seu próprio deus.

Ao fim de nossas sete tesselas sobre o Ramayana de William Buck, vimos um coração se formar em nosso mosaico. Vimos um coração se formar não com quatro cavidades, mas com as quatro letras da palavra Rama. Um coração que é uma téssera de movimento. A sístole e a diástole simbolizam a expansão e a absorção dos nossos universos de questões.

A que símbolo chegará cada um ao fim de suas próprias leituras? O que irá ganhar forma em cada caminho individual?

Disse Hanuman: “Mas, se quiserdes uma estrada para o céu, dizei apenas Rama”. E com as unhas afiadas, rasgou o próprio peito, repuxando a carne para os lados. E todos viram que estava escrito, repetidamente, em todos os ossos, com lindas letrinhas – Rama, Rama, Rama, Rama, Rama, Rama...

  
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Tésseras


O
 princípio de que o universo se compõe, dividindo-se e reunindo-se, de duas metades inversas e complementares, é geral e único. Tudo o que existe tem seu inverso, sem isto, é incompleto.

P. Ubaldi


Visões da natureza do conceito


¿  A natureza dos conceitos do pensamento é estática.
¿  O processo e a mudança organizada são a natureza dos conceitos da intuição.




No meio do caminho





No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Carlos Drummond de Andrade, em Reunião – 10 livros de poesia




O Ramayana – 24 mil versos


“Oh! Sita,
Canto esta canção.
Rama unirá tuas tranças;
Ele te libertará.

Lembra-te do seu amor a ti.
Meu poema sobreviverá ao Tempo;
Canto esta canção,
Oh! Sita.

[...]

Além do fim de cada Tempo
Encontrarás Valmiki fazendo essa rima;”

Valmiki


Valmiki era chamado Adikavi – o Primeiro Poeta da literatura sânscrita. Ele compôs os 24 mil versos do Ramayana com medida e melodia ao longo dos 12 anos em que Sita esteve com ele. O nome de Sita quer dizer sulco de arado (segundo Philip Wilkinson). Sita foi encontrada por seu pai Janaka num sulco da terra enquanto arava seus campos. Ela é a filha única da Terra. O Ramayana de William Buck começa no período em que Valmiki ensina Kusa e Lava, filhos de Rama e Sita, a cantarem os 24 mil versos na floresta Naimisha.

A seguir, 24 tésseras do tipo ¿! encontradas no meio do Caminho de Rama por Nossos Estudos Poéticos a fim de recordarmos que das questões se criam universos...


I – Qual foi o primeiro verso do mundo ¿
“Não encontrarás descanso nos longos anos da Eternidade, porque mataste um pássaro apaixonado e insuspeitoso”!

II – Quem o descobriu ¿
Valmiki, o Poeta, a Estrela Matutina da Canção!

III – Que som tinha o primeiro verso ¿
O som descompassado do coração!

Amaldiçoar o caçador que matou com sua flecha uma ave aquática que cantava, separando assim o casal de pássaros observado por Valmiki!

V – Onde nasceu o primeiro verso ¿
Ao pé de um rio!

VI – O que fez de Valmiki um poeta ¿
O amor e a compaixão por uma minúscula avezinha!

VII – Que ordem o deus Brama deu ao poeta ¿
Usa o teu descobrimento para contar a história de Rama!

VIII – O que aconteceu enquanto Valmiki compôs o poema ¿
A história de Rama lhe foi revelada!

IX – Alguma palavra do poeta é inverídica ¿
Não!


XI – Como Valmiki fez os versos do Ramayana ¿
Deleitosos ao ouvido, agradáveis à mente e uma verdadeira felicidade para o coração!

XII – O que verte das linhas da história de Rama ¿
Um amor caloroso!

XIII – O que suas linhas geram ¿
Sorrisos de raiva e lágrimas de alegria!

XIV – Para quem o Ramayana não foi feito ¿
Ele não é para ouvidos entediados nem para nervos fracos!

XV – Como ficarão e o que farão os sábios e os tolos com os versos de Valmiki ¿
Os sábios ficarão perplexos, os tolos frustrados, e ambos seguirão seu próprio coração!

XVI – Onde estava o poeta quando o Rei dos Demônios se preparou para agarrar o Tempo¿
Em um lugar seguro!

XVII – O que fez o poeta diante da ação do Rei dos Demônios ¿
Riu-se com gosto!

XVIII – Quando a luta entre Rama e o Rei dos Demônios se travou feroz e furiosa, o que aconteceu com a água no oco das mãos do poeta ¿

XIX – O que o poeta Valmiki viu nas ondas ¿
Valmiki viu toda a guerra deslizando para o passado, transformando-se num conto maravilhoso, uma bela história!

XX – Quem ouviu a primeira poesia feita na Terra ¿
Satrughna, irmão de Rama!

XXI – O que Valmiki disse aos que cantariam a poesia ¿
Não aceiteis recompensa por isso, que utilidade têm as riquezas para eremitas que vivem no ermo, comendo raízes e vestindo peles de animais ?!

XXII – O que Rama disse a Valmiki ¿
Trouxeste o verso para o mundo, e agora qualquer um pode começar um poema, mas tu conduziste o teu a um fim resplandescente e maravilhoso!

XXIII – Kala, o Tempo, entende de poesia ¿
Não!

XXIV – A vida se agrada dos versos de Rama e se agrada de nós por ouvi-los agora ¿
Sim!




Visões dos alvos


¿  A discriminação e a classificação são alvos do pensamento.
¿  A síntese e a ordem são alvos da intuição.




Linguagem da natureza


G
ostaria de falar com a Natureza, totalmente em desenhos.
Goethe


Visão da linguagem da natureza


¿  A linguagem da natureza é sempre atual.


Poemas eleitorais II



Que palavra
eleger
dentre todas
duzentas e trinta mil
disponíveis
no mercado?

Como
eleger
termo a termo
pôr lado a lado
verso a verso,
dentre as duzentas
e trinta mil vozes,
aquelas
que digam
melhor
não a linguagem de minha poética
                        mas
a linguagem de minha política?

Querer dizer
            o que
incompreensivelmente
sinto

e ter
urna após urna
            turno após turno
            vida após vida

perdidas eleições.


O Ramayana – 126 personagens


Rama, Sita, Ravana, Lakshmana, Viswakarman, Maya, Sumantra, Janaka e Hanuman são nove dos 126 personagens do Ramayana. Nove personas, nove personificações.

Uma das abordagens de Buck para tratar de todos os personagens foi decifrar e fazer uma lista de todos os epítetos de nomes de heróis, deuses e reis do texto original. Ele usou as qualidades desses epítetos para fazer as descrições das personagens. Vejamos algumas:

Sita, filha única da Terra, é eternamente bela. Sita é o Amor, um tesouro bem-achado, bem-revelado, companheira e sombra de Rama pelos caminhos. Quem descreverá Sita? Tudo é esquecido quando ela nos fita e nada mais existe quando ela sorri.

Ravana, o Rei dos Demônios, leu o santo Veda por nada e toda a sua educação foi um desperdício. Ravana é a lua cheia, Rama é a lua nova. Rama caminha ao encontro de Ravana.

Lakshmana, irmão de Rama, era a própria vida de Rama, que lhe caminhava ao lado. A energia de Lakshmana é a quarta parte de Narayana.

Viswakarman, o arquiteto do céu, é o senhor das artes. Foi ele quem primeiro deu nome aos seres e os criou. Diz ele: “Quando o mestre carpinteiro já não vai à floresta escolher sua própria árvore, quando ele mesmo já não a corta e não serra as próprias tábuas, ser-lhe-á melhor dizer adeus às artes!”.

Maya, o Asura, é um verdadeiro artista, um mágico de maravilhoso poder. Tudo o que ele cria é perfeito e completo, enquanto dura, antes de mudar. Tudo é ilusão.

Sumantra é o cocheiro real de Ayodhya. Diz ele: “Todo o universo é apenas um sinal para ser lido corretamente; as cores e as formas são postas aqui só para falar-nos; e tudo é espírito, nada mais existe”.

Janaka é o pai de Sita, senhor de Videha. Possuía uma sabedoria vasta e viva. Sendo livre, não tendo nada para esconder, encontrava o mais doce prazer em dizer tudo o que pensava a qualquer homem. Janaka refletiu sobre tudo e chegou, sozinho, às suas próprias conclusões, decidindo-se pelo Dharma. Matou engano com palavras que libertam o espírito.

Hanuman é o Filho do Vento. Quem é este macaco Hanuman? Rama deixou-o solto no mundo. Ele conhece Rama, e Rama o conhece. Hanuman pode entrar ou sair de qualquer lugar. Ele tomará tua triste melodia para transformá-la numa dança feliz. Temos visto esse macaco branco. Sua guarda é forte. Sobretudo, acautelai-vos, nunca façais mal a um poeta livre.

¿ !

A descrição é um importante processo criativo porque com ela entramos na esfera das qualidades. É a descrição que anima a personagem, trazendo a vida que está contida em seu nome para o texto. E a vida de um personagem, a sua razão de ser, é o significado que ele traz consigo.

Além da descrição, outras duas ações criativas nos chamam a atenção – a personificação e a composição de tésseras. Compor tésseras é unir as partes que se completam, sejam essas partes sombras (Sita), duplos (Lakshmana) ou opostos (Ravana). A téssera é ao mesmo tempo a oposição e a completude. Rama é Sita nascida da Terra, e é Ravana, o Rei dos Demônios, e é Lakshmana como o espelho. Sita, Ravana e Lakshmana são as peças que compõem a téssera com Rama.

Personificar é representar simbolicamente as qualidades, individualizando-as. Nove de 126 personagens. Nove personas, nove personificações. Nove de 126 máscaras cobrindo as faces do abstrato a fim de que princípios e ideias se tornem visíveis através das palavras. Amor, desperdício, vida, arte, ilusão, espírito, dharma, poesia... quantas são as máscaras, quantas são as faces do todo?




Visões da suposição

¿  A suposição de onde o pensamento parte é a causalidade.
¿  A suposição de onde parte a intuição não é necessariamente causal.




Acelerador de frequências


ACELERADOR DE FREQUÊNCIAS
                                                        ou a Pedra de Higgs

                                 da sala,
ele fuma seus símbolos.

Curva-se à pedra da fala
         com a devoção de um vício
que ascende às escalas... a nada.

                     O crack é o choque
entre quatro palavras cristalizadas.
         Metáfora dura sublimada

         em bósons leves que nem fumaça...
... éter em varetas de incensos...
                     ... essência de bósons na dobradura das eras...




Visões de pensamento e intuição


¿  Stephen Arroyo considera nove fatores para diferenciar pensamento e intuição.
¿ Os fatores que diferenciam pensamento e intuição são: suposição, alvo, natureza dos conceitos, maneira de proceder, linguagem, orientação, campo de estudo, unidade de linguagem e domínio de utilidade.