Do Sublime

Aqui vai uma pequena extensão do Mas para que serve exatamente a poesia?

Não exatamente buscando essa resposta, acabo encontrando algo a ser considerado. Na verdade nem sei se essa pergunta é típica de nossa época. De qualquer forma, já houve uma resposta.

Nem só o que é útil detém importância. Portanto, na resposta que um dia já foi dada, não se trata de tornar a poesia útil, mas rara. Ou ainda sublime, como a natureza até hoje não nos deixa esquecer.


XXXV

“3. Por isso, como objeto de contemplação e de pensamento, ao arrojo humano não basta nem mesmo o mundo todo; as ideias não raro transpõem os limites do que nos cerca; quem circulasse os olhos pela vida e visse quanto mais espaço ocupa em tudo o extraordinário, o grande, o belo, logo saberá para que fim nascemos.

4. Daí, guiados por certa tendência natural, por Zeus! não admiraríamos os pequenos riachos, ainda que límpidos e úteis, mas o Nilo, o Danúbio ou o Reno e muito mais o Oceano. Tampouco esse lumezinho acendido por nós, que preserva pura a sua luz, nos assombra mais do que as chamas celestes, embora estas se obscureçam muitas vezes; nem o consideramos mais digno de admiração do que as crateras do Etna, cujas erupções lançam das profundezas penhascos, cômoros inteiros, e por vezes derramam rios daquele fogo nascido das entranhas da terra e só seu.

5. Com base em tudo isso, podemos concluir que as coisas úteis ou apenas necessárias ao homem são encontradiças, mas o que suscita admiração é sempre o raro”.

(Do Sublime, de Longino – em A Poética Clássica)