Recitando Sílabas Poéticas 2


Ao escrever um verso (e depois construir os versos em grupo) temos certos elementos primários, a saber:

Os vários “sons articulados” da linguagem, isto é, de seu alfabeto, e os vários grupos de letras nas sílabas.

Essas sílabas têm diferentes pesos e durações
A. pesos e durações originais
B. pesos e durações que parecem naturalmente impostos a elas por outros grupos de sílabas ao redor.

Este é o material com o qual o poeta recorta seu desenho no TEMPO.

Ezra Pound, em ABC da Literatura




Recitando Sílabas Poéticas





Aum – A sílaba sagrada, mística; emblema da Divindade. O símbolo da eternidade. Com essa sílaba começam os Vedas, e com ela terminam, indicando que ela é o início e o fim deste universo. A pronúncia desta sílaba é Om, pois, no sânscrito, a vogal o forma-se pelo ditongo a + u. O mais sagrado dos mantras orientais.


Glossário de Bhagavad Gita de Krishna – A Sublime Canção traduzida por Huberto Rohden




A palavra sílaba


Sílaba – 1) Na cadeia da fala, cada uma das unidades estruturadas com base em sequências de vogais e consoantes e que se reúnem para constituir as palavras. 2) A representação dessas unidades na escrita. 3) Som articulado. Coda (do italiano coda, cauda): segmento consonântico que ocupa a parte final da sílaba. Núcleo: a posição obrigatória, ocupada pela vogal. Onset: posição que precede a vogal e que pode estar vazia ou ser ocupada por uma ou duas consoantes. Rima = núcleo + coda. (Adaptado do Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa)

Sílaba – Do latim syllaba, do grego syllabe. (Adaptado do Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa)

Sílaba – palavra, diagrama, termo, verbo (vocábulo), silabação, monossílabo. (Adaptado do Dicionário Analógico da Língua Portuguesa)

Vogal – A predominância de uma vogal numa palavra estaria carregada de sentido, de um valor simbólico esotérico, próprio para agir sobre a sensibilidade e a compreensão do ouvinte sem que ele perceba. Assim, a evocaria o grave, o perfeito, o amplo, o total, o trágico, o estranho, o majestoso; e, o ser, o estado, a serenidade; i, o brilhante, o ritmo, o devenir, o lírico, o ilusório; o, o fechado, a morte, o ordenado, a ordem, o alto, o inexorável; u, a música, o murmúrio, a duração, o estudo, a cultura, o macio, o escoamento. (Adaptado do Dicionário de Símbolos)




Linguagem de Sílabas Poéticas 3


Este é meu silabário – minhas tesselas monossilábicas:

nó, gol, til, tez, vez, rei, mãe, pai, sol, fé, fel, pão, mão, pé, mel, chão, pó, luz, som, cor, dor, mal, bem, flor, céu, mar, sal, véu, voz, cruz, paz, lei, trem, chá, giz, lar, ar, vão, pus, réu, léu, grau, cal, bar, cão, fim, rã, xá, dom, gim, sul, deus, grão, mês, cais, caos, bom, mau, tom, mó, gris, lis, dó, ré, mi, fá, lá, si, pá, ser, ter, ler, dar, ver, vir, ir, pôr, crer, rir, eu, tu, nós, vós, me, mim, te, ti, se, si, lhe, o, a, nos, vos, meu, teu, seu, tal, quem, que, mais, qual, um, oh, ah, eh, uh, ui, xi, ih, céus, hem, ô, psiu, ó, ei, pst, xô, sai, uf, tchau, bis, hum, qual, não, sim, tá, oi, ao, do, da, à




Linguagem de Sílabas Poéticas 2


Na aprendizagem da leitura, a sílaba é um passo decisivo no caminho da descoberta de uma concepção da escrita. É a possibilidade de se fazer um recorte no enunciado que corresponde à fragmentação gráfica. Seria o tipo de unidade linguística da qual a criança partiria rumo ao universo das letras. Se aproveitarmos a ideia do mosaico, é quando ao mesmo tempo se fragmenta o som e a imagem da palavra a fim de atingir a sua totalidade. A totalidade das várias tesselas de som e das várias tesselas de imagem e a totalidade da téssera som-imagem.

Ferreiro e Teberosky são as responsáveis pela ideia da hipótese silábica na aprendizagem da leitura. Elas entendem que essa hipótese se relaciona primariamente com a concepção de escrita da criança, mais do que com a realidade da notação. Disso podemos supor que a tessela silábica descoberta pela criança é mais poética do que gramatical. O método da criança que aprende a ler é o da fragmentação e o da correspondência. O recurso silábico mostra o começo do equilíbrio entre integridade significativa e descontinuidade gráfica.




Linguagem de Sílabas Poéticas


Para Cegalla a sílaba é um fonema ou grupo de fonemas emitidos num só impulso da voz (impulso expiratório). A diferença entre sílaba gramatical e sílaba poética, de acordo com Audemaro Goulart e Oscar Vieira da Silva, está no fato de que a primeira é constituída por todos os sons distintos que compõem uma palavra e a última, apenas pelos sons que são ouvidos. Bechara descreve tal diferença de outra maneira: a sílaba gramatical é uma representação na escrita e a sílaba poética faz parte de uma realidade auditiva.

O estudo da sílaba é antigo. Aristóteles entendia a sílaba como um som sem significação e a letra como um som indivisível. O domínio da métrica estaria fundamentado no domínio da letra, que passaria pelo conhecimento da duração, aspiração, acentuação da letra, bem como dos órgãos da boca e da noção de onde o som era produzido.

Staiger credita às sílabas o efeito lírico. É um efeito anterior à palavra. O lirismo das sílabas evoca a emoção, a expressão sensorial, a infância, a alma, a recordação.

Durante sua evolução histórica, as palavras sofrem muitas transformações fonéticas. Se as leis fonéticas atuassem livremente, haveria uma grande desfiguração das palavras. Muitas já teriam desaparecido, principalmente os monossílabos. Haveria na língua grande número de palavras homônimas, o que resultaria em grande confusão. Segundo Goulart e Silva, é a reação literária que ordena o que as próprias leis fonéticas insistem em misturar.




Poético de Sílabas Poéticas


A liberdade dos versos é a ausência da métrica? A sílaba poética é somente uma medida? A medida é somente uma contagem, um tamanho? Poderíamos ler uma sílaba? Como seria um poema em que uma sílaba viesse a ser superordenadamente uma palavra, um verso, um título? Quanto de função, de estilo e de significação uma sílaba pode suportar? Seria isso uma forma de ver as sílabas poéticas?




Rio (não) mais (que) 20




A Verdade sustenta a Terra fragrante e torna molhada a água viva.
A Verdade faz arder o fogo e mover-se o ar, faz brilhar o sol e toda a vida crescer.

Uma verdade escondida sustenta tudo. Encontra-a e vence.
O Ramayana, recontado em prosa por William Buck

Ser sustentável é ser simples.

De um lado, um espaço inovador, de portas abertas, em que toda a sociedade é convidada a refletir e a compreender. E até, talvez, a agir.

De outro lado, o interesse de ver como uma palavraHumanidade – pode ser materializada.


A palavra tratada pela publicidade não é poética. A palavra ainda não move os corações. Mas, entre todos aqueles que atenderam ao chamado, nem todos puderam entrar. Pois há um limite. Nem todos puderam entrar.

O que limita o conceito em nossos dias? É o grupo dos privilégios? É o interesse próprio dos grupos? O que limita a palavra Humanidade?

Entrarão, hoje, mais de vinte? Quem será o número 21? E o 22? E o 23?

Para aqueles que esperam, nessa quilométrica fila, fica a dica: persistam em seus sonhos. O sucesso os aguarda. Pois ser sustentável é ser simples. E como simplesmente não cabem todos, todos serão bem-vindospor favor, senhores, voltem amanhã!


Inverno


Recitamos o poema A viagem dos magos, da série Poemas de Ariel de T.S. Eliot, para dar boas-vindas à estação que começou ontem. A tradução é de Ivan Junqueira, e o exercício é nosso.

  “Foi um frio que nos colheu
Na pior quadra do ano
Para uma viagem, e longa era a viagem:
Os caminhos submersos e o tempo adverso
Em pleno coração de inverno.”
E os camelos escoriados, o casco em chagas, indóceis,
Jaziam em meio à neve derretida.
Foram momentos em que recordamos
Os palácios estivais sobre os penhascos, os terraços,
As sedosas meninas que nos traziam afrodisíacos.
E depois os cameleiros que imprecavam e maldiziam
E desertavam, e exigiam fêmeas e aguardente.
E os fogos da noite em bruxuleio, a falta de apriscos,
As cidades hostis, as vilas inóspitas,
As aldeias sujas e tudo a preços absurdos.
Foi uma rude quadra para nós.
Ao fim preferimos viajar à noite,
Dormindo entre uma e outra vigília,
Com vozes que cantavam em nosso ouvido, dizendo
Que tudo aquilo era loucura.

  E eis alcançamos pela aurora um vale ameno,
Úmido, sob a linha da neve, impregnado de aromas silvestres,
Com um regato e um moinho a fustigar as trevas,
E três árvores contra o céu baixo recortadas,
E um velho cavalo branco a galope pelo prado.
E chegamos depois a uma taverna com parras sobre as vigas;
Seis mãos se viam pela porta entreaberta
A disputar peças de prata com seus dados,
E pés que golpeavam os odres já vazios
Mas nenhuma informação nos deram, e então seguimos
Para chegarmos ao crepúsculo, sequer um instante antes,
E encontrarmos o lugar; foi (podeis dizer) satisfatório.

  Tudo isso há muito tempo se passou, recordo,
E outra vez o farei, mas considerai
Isto considerai
Isto: percorremos toda aquela estrada
Rumo ao Nascimento ou à Morte? Um nascimento, é certo,
Tínhamos provas, não dúvidas. Nascimento e morte contemplei,
Mas os pensara diferentes; tal Nascimento era, para nós,
Amarga e áspera agonia, como a Morte, nossa morte.
Regressamos às nossas plagas, estes Reinos,
Porém aqui não mais à vontade, na antiga ordem divina,
Onde um povo estranho se agarra aos próprios deuses.
Uma outra morte me será bem-vinda.

Sílabas Poéticas


A ideia de escrever um texto que se chamasse Sílabas Poéticas é anterior ao blogue. Mas a realização da ideia ocorreu quando o blogue já existia. Sendo assim, este será o primeiro texto escrito para o blogue. Nadir e Letícia e  Mangifera indica - O Movimento das árvores ou Um ano e um dia foram escritos fora do blogue e apenas postados aqui. Este será o primeiro texto influenciado pela forma e pelo conteúdo do blogue.

Porém, liga-se ainda com os textos anteriores ao blogue através do conteúdo. Há ainda em Sílabas Poéticas algo sobre o estudo do movimento. Só que agora trata-se diretamente do movimento das palavras, das sílabas, das letras. Trata-se do movimento do som, da voz, do aparelho fonador. Trata-se do movimento das ideias pensadas em direção às ideias ditas. Trata-se do monossilábico movimento entre a gramática e a literatura, entre o analfabetismo e a poesia. Trata-se do movimento tesselar das unidades que compõem um texto.

Sílabas Poéticas são as expirações das nossas inspirações. Sílabas Poéticas é o movimento criador da fragmentação, as tésseras aéreas, as tésseras etéreas formadas pelo encontro do pensamento com a respiração, o nascimento material de uma ideia.


Teoria de Sílabas Poéticas


A voz é um sopro.

A palavra é o sopro articulado com limites e contornos.

A fala é o véu do inefável.

Sílabas Poéticas


SÍLABAS POÉTICAS: MANDALAS, LABIRINTOS E ARABESCOS




Recitando Ronaldo

1) Como gostaria de se apresentar ao blogue?

             RONALDO DO REGO MACEDO
             Rio de Janeiro, 1950. Reside em Araras, Petrópolis 

Pintor inicialmente ligado às vertentes construtivas da arte brasileira, vem desde a década de 70 exibindo regularmente sua obra nos mais prestigiosos espaços do circuito de arte brasileiro, firmando-se como um dos mais destacados pintores de sua geração. Participou da Bienal Internacional de São Paulo, 1973 e 1987. América Latina/Geometria Sensível, MAM-RJ 1978.  Arte Latino Americano Contemporâneo, Museu de Arte do México, 1987. Em 1990, realizou mostra extensiva no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Sechs aus Rio, Galeria Maertz, Linz Austria, 1993. Paço Imperial, Rio de Janeiro, 1996. Entre 2009 e 2011, exposição itinerante com outros artistas brasileiros em Tóquio, Cairo, Rabat, Paris, Roma e Viena.  Desde 1978, professor da Escola de Artes Visuais, RJ.

Nas pequenas telas brancas, areia, cinzas azuladas, a gestualidade arquitetural rigorosa provoca a sensação de espaços mais vastos, de grandeza e expansão, a despeito das dimensões reduzidas.  


título: Colisor de Simetrias, 2011
óleo s/ tela
30 cm x 40 cm 
foto: Wilton Montenegro




  

Recitando Ronaldo 2


2) Pode nos dizer como trabalha um pintor?

Vamos estabelecer de saída que o Pintor não existe – como não existe o Poeta ou o Artista. Mas os pintores têm métodos, projetos e instrumentos conceituais diferentes de trabalho. Provavelmente pela minha formação construtiva, desde minha iniciação, pinto a partir de esboços, ensaios prévios, projetos e anotações mais ou menos detalhadas. Ousaria afirmar que a espontaneidade é um grande perigo em arte e poesia.


3) Quando há poesia em seu trabalho de pintura?

Há poesia no sentido de poiesis. Ato de criação inaugural que faz aparecer alguma coisa que antes aí não estava, que não existia. Que eclode no real pela dinâmica do fazer e dos processos artísticos. Dinâmica complexa que envolve imaginação, percepção, uma "gramática" das formas, das cores e da matéria que as constitui, do simbólico. Ao modo de uma linguagem.




Recitando Ronaldo 3

4) Que questionamentos você se faz no seu trabalho? E o que tem respondido a si mesmo?

Sou artista mais ocupado com a construção formal, com a dinâmica da cor, com os aspectos estruturais do quadro de pintura, do que com a representação imagética dos objetos da realidade ou com a expressão subjetiva, confessional, com imagens autorreferentes e biográficas.  Entretanto, isto não quer dizer que não haja uma impregnação subjetiva na pintura que realizo, uma presença da fantasia e do inesperado no ato de pintar que não é resultado apenas de um cálculo exato da razão operante. Pequenas falhas e hesitações convivem com a exatidão e a limpidez formal. Há uma ética, há uma posição do pintor diante da arte e da pintura, mas é esta última que prevalece. A obra de arte, o poema, a canção é que contam em última instância. Enquanto a obra vai se materializando, o artista dissolve-se para desaparecer no seu ato de criação.



5) Você poderia escolher um post com que tenha mais afinidade para comentá-lo?

Gosto mesmo é de ler os poemas publicados. Ali naquele setor do blog onde li Camões, Rilke, Fernando Pessoa, poderiam ampliar a antologia com mais poemas e autores diferentes. Que tal, além dos clássicos modernos, os gigantes de língua inglesa, W.H. Auden, também os contemporâneos brasileiros?




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6) Que pergunta você deixaria para o blogue?

Por que o blog escolheu um pintor, como eu, para entrevistar. 


Mais do que entrevistar, a ideia do blogue é construir um mosaico de tésseras pergunta-resposta. As questões são sempre as mesmas, sempre sobre poesia. Mudam os convidados, que também podem colocar as suas questões – para si mesmo, para o blogue, para outro convidado. E, assim, os elos da corrente vão se formando. Pessoas de diversas áreas respondendo e perguntando sobre poesia. Queríamos muito ter um convidado das artes plásticas, da pintura, saber o que pensa alguém que realmente atua na área – criando, vendendo, expondo, ensinando. E, o que talvez a arte não permita explicar, mas experimentar: quando recebemos o Colisor de Simetrias percebemos que não é o blogue que escolhe, é a arte, seus encontros e afinidades. Não podemos dizer que escolhemos você por causa do Colisor de Simetrias (não conhecíamos a obra), mas escolhemos você por causa do Colisor de Simetrias. Em palavras não faz sentido, é até contraditório. Mas sua tela era uma tessela que faltava ao blogue e isso explica tudo.



Como vocês do blog veem a conexão ou intersecção de arte e poesia.


Vemos no próprio ser humano a conexão entre arte e poesia. Vemos essa conexão em nós mesmos. Ou mais precisamente na ação humana, quando consideramos poesia no sentido de criação e arte no sentido de pôr uma ideia em prática. Haveria uma intersecção entre poesia e arte quando uma inspiração tomasse forma através de materiais artísticos – sons, cores, palavras, movimentos corporais... Técnicas e procedimentos artísticos a serviço da inspiração e da intuição. Assim como haveria também intersecções da poesia com outras áreas, outros conjuntos – ciência, religião, filosofia... Agora, se tomarmos a poesia no sentido da literatura em verso e arte no sentido das artes plásticas, a conexão então poderia ser a imagem, a ação de tornar uma imagem visível, aparente, seja pela linguagem plástica ou pela linguagem verbal. E, no nosso blogue, essa conexão é a própria visualização mosaico estruturando nossos textos.




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7) Você, enquanto entrevistado de um blog, tem o costume de ler blogs? É blogueiro também? (pergunta da atriz Ilca Angela)

Não sou blogueiro, mas visito alguns blogs, especialmente de poetas e escritores contemporâneos. Blogs de artistas também. Leio algumas revistas literárias digitais. Quase sempre me encaminham o link, mas leio com a liberdade de interromper a qualquer momento se o poema, o texto de ficção ou o ensaio for enfadonho, presunçoso, extemporâneo ou equivocado: ruim



8) E que pergunta você deixaria para o próximo convidado desse espaço?

Igualmente, se é blogueiro e que blogs indicaria sobre literatura, arte e poesia.




Iniciação à estética


Para os que gostam de perguntas como nós, aqui vão algumas garimpadas do livro Iniciação à estética, de Ariano Suassuna: será a Arte preocupada unicamente com a criação pura e gratuita da Beleza, ou terá, pelo contrário, sempre uma preocupação de utilidade prática? Será a Arte uma forma de conhecimento, uma das possíveis maneiras de penetração do real? Será toda e qualquer atividade que fabrique objetos, ou somente aquela que se preocupa com a criação de objetos belos?

Em nossos estudos poéticos temos compreendido as Belas-Artes como uma forma de conhecimento que se preocupa com a criação da Beleza. Temos entendido que as Belas-Artes unem beleza e conhecimento.

Reconhecemos na exposição de Suassuna uma afinidade quando ele trata do momento em que o artista escolhe sua Arte. Até encontrar seu verdadeiro caminho, o jovem artista segue ao lado de espíritos afins, formando uma espécie de família. É nesse caminho e com essa família que o artista desenvolverá seu ofício, sua técnica e sua forma – seus campos de trabalho, de batalha, de criação. Estamos tentando aprender nosso ofício literário e poético, estudando para descobrir a técnica ideal para a realização do nosso blogue a fim de conseguirmos materializar a nossa forma mosaico.

Encontramos na Teoria Neotomista da Arte algo que tem muita afinidade com nosso blogue: o mais importante, na Arte, não é propriamente a feitura do objeto, é a criação anterior, a invenção realizada pelo intelecto. Diz Maritain: “a obra por fazer é apenas a matéria da Arte, sua forma é a reta razão”. Por isso registramos nossos estudos, por isso nossos estudos são poéticos, por isso fragmentamos o blogue, pois sua visualização é um reflexo de sua forma invisível – o mosaico.


Somos como pombos


SOMOS COMO POMBOS NAS MÃOS DO MÁGICO. SOMOS COMO POMBOS SIMBOLIZANDO A PAZ, O ESPÍRITO SANTO. ESQUECENDO DE VOAR OU VOANDO APENAS PARA FUGIR. SOMOS COMO POMBOS ÀS VEZES.


Revolta da Vacina


Os canalhas também envelhecem – Rachel de Queiroz, sempre recitada por meu pai

Em 2008 fui tomar a vacina dupla-viral no posto de saúde aqui perto de casa. Era a semana reservada para as pessoas de até 29 anos. Quando cheguei, uma pessoa já estava sendo atendida. Tentei, então, formar uma “fila”. É, fila no Rio é sempre uma palavra entre aspas. Eis que uma pessoa me ignora completamente e se coloca na minha frente. Quem adivinha a idade dessa pessoa?
- Senhora, eu estou na fila – disse, tocando-lhe no ombro.
- Eu sou idosa – ela gritou.
Juro que foi verdade. Aí, eu pensei: mas se a vacinação é só para pessoas de até 29 anos, por que um idoso teria prioridade nessa fila?...
A atendente explicou para a idosa o que eu havia pensado e pediu para que ela retornasse no dia destinado à vacinação dos idosos.


O mito da criação


O MITO CONTA QUE DEUS CRIOU O MUNDO E PEDIU AO HOMEM QUE DESSE NOME À CRIAÇÃO. E TUDO SERIA UMA GRANDE POESIA. MAS O HOMEM ESTRAGOU TUDO DANDO À CRIAÇÃO O QUE NÃO LHE FOI PEDIDO – A UTILIDADE.


Somos como pombos


Tanto verso já disse o que eu sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo o mundo as sente...
(Os meus versosFlorbela Espanca)


Somos como pombos
simbolizando
a paz
o espírito santo
somos os dois pombinhos

Somos como pombos
nas mãos do mágico
pombos que eram lenços
pombos que serão cravos

Somos como pombos
mensageiros
pombos-correios

Somos como pombos
transmitindo doenças

hoje deixando de voar
ou voando apenas para fugir

Somos como pombos
às vezes