Os gêneros literários – a Aspiração

A lírica é definida precisamente por seu caráter supra-espacial e supra-temporal. Ela não é modelada após simultaneidade ou sucessão, nem após espaço ou tempo.

Quer sob a forma de verso ou de prosa, o lírico expressa apenas o equivalente mundano da dimensão que ultrapassa tanto a perenidade quanto a temporalidade; é estruturado depois da aspiração pela eternidade, e seu módulo formal é o conceito de "momento", tendo o "ponto" como um equivalente espacial, uma expressão do que aritmeticamente é a unidade.

Lírico é, por conseguinte, a mais pura expressão da relação, ou ordem ou número; isto é, a dimensão que articula, compreende e contém espaço e tempo.


“Os gêneros literários, a rigor, são realidades arquetípicas:
a dificuldade em ver está no sujeito e não no objeto”
(Os gêneros literários: seus fundamentos metafísicos. O. de Carvalho)


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Versos de cansaço

O rastro é o verso da terra – a serpente é o verso da vida – a  coluna é o verso do homem...


Descanso


Uróboro: disco de bronze de Bénin


Uróboro – simboliza um ciclo de evolução encerrado nela mesma. Esse símbolo contém ao mesmo tempo as ideias de movimento, de continuidade, de autofecundação e, em consequência, de eterno retorno. A forma circular da imagem sugere ainda outra interpretação: a união do mundo ctônico (figurado pela serpente) e do mundo celeste (figurado pelo círculo). Significa a união de dois princípios opostos. A serpente que morde a própria cauda, que não pára de girar sobre si mesma, que se encerra no seu próprio ciclo, evoca a roda das existências, como que condenada a jamais escapar de seu ciclo para se elevar a um nível superior: simboliza então o perpétuo retorno, o círculo indefinido dos renascimentos, a repetição contínua, que trai a predominância de um fundamental impulso de morte. (Adaptado do Dicionário de Símbolos)

Descanso – 1) Ato ou efeito de descansar. 2) Sossego, tranquilidade, paz. 3) Ócio, folga, vagar. 4) Pachorra, lentidão. 5) Apoio, proteção. 6) Alívio, consolo. 7) Sono. 8) Objeto sobre o qual outro assenta ou se apoia. 9) Forquilha (vara bifurcada na qual descansa o braço do andor/ forquilhado = bifurcado). 10) Ressalto existente no gatilho, o qual oferece resistência ao dedo do atirador durante o acionamento do disparo. 11) Nas escadas de lanços compridos, patamar. 12) Habitação, morada. Descansar – 1) Livrar de fadiga. 2) Livrar de receio. 3) Diminuir, suavizar. 4) Dar pausa a. 5) Fixar, fitar. 6) Basear-se, fundar-se. 7) Acreditar, confiar, crer. 8) Estar pousado, jazer. 9) Ficar de pousio (a terra). 10) Dormir. 11) Estar sepultado, repousar eternamente. 12) Morrer. 13) Dar à luz, parir. (Adaptado do Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa)

DescansoDes . cans - o, de cansar. (Adaptado do Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa)

Des – de origem controvertida; da junção das preposições latinas de e ex, ou da romanização do prefixo dis. Prefixo = separação, transformação, intensidade, ação contrária, negação, privação. De – do latim de, prefixo = movimento de cima para baixo, origem, afastamento, extração, intensidade, significação contrária. Ex – do latim e, prefixo = movimento para fora, separação, transformação, intensidade, ausência, negação. (Adaptado do Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa)

De – vindo; descendente de; saído de; sobre; durante; no meio de; composto de; em lugar de; por causa, por amor de; tocante a; conforme; contra. E – de (indicando de um estado ao outro ou a matéria de que uma coisa é feita ou dependência); com (indicando mistura de coisas); do número de; a começar de, depois de; de harmonia com; em consequência. (Adaptado do Dicionário Latino-Português).

DescansoRepouso, desistência, refreio, chegada, férias, vírgula, fim, ocaso [em cessação]. Amparo, alicerce, terra firme, pilar, pé, poste, bastão, umbral, viga-mestra, larva, pedra angular, coluna vertebral, tripé, trono, leito, rede, colo [em suporte]. Quietação, placidez, fleuma, serenidade, inércia, apatia, paralisia, catalepsia, sedentarismo, silêncio, ponto, pousada, porto, meta, estátua, rochedo [em imobilidade]. Marasmo, enferrujamento, remanso, falta de trabalho, dolce far niente, preguiça, boêmia, entorpecimento, languidez, quebranto, bocejo, letargia, coma, transe, vencido [em inatividade]. Ocasião, lazer, fuga, recreio, tempo desocupado [em ócio]. Fôlego, respiro, trégua, licença, solidão, recolhimento, pouso, retiro, pousio [em repouso]. Desafogo, desopressão, frescor, oásis, encorajamento, animação, néctar, bálsamo [em alívio]. Descansar – encriptar, soterrar, dar um corpo à terra, tocar a finados, dobrarem (os sinos), orar pela alma de, cremar, exumar, perturbar o repouso dos mortos [em enterro]. (Adaptado do Dicionário Analógico)

Repouso – O repouso depois da criação não se refere a um estado estático; não significa não fazer nada nem interromper um processo de desenvolvimento. O repouso é uma pausa criadora, que inaugura um novo aspecto. Este repouso é uma transferência de energia para a criação: a ascensão a um novo nível. O início tem relação com o fim, a perfeição é alcançada, o ciclo começa. Começo e fim se reúnem e a energia cósmica circula na totalidade. Encontramos aqui o tema do conceito circular. Tem essa significação a imagem da serpente que morde sua própria cauda, Uróboro. (Adaptado do Dicionário de Símbolos)

Descanso para eles:

Tchékhov/ Grupo Galpão – Tio Vânia


Fonte da imagem: Dicionário de Símbolos


Os gêneros literários – o Espaço

As espécies expositivas também são diferenciadas de acordo com a continuidade ou descontinuidade do todo espacial e simultâneo. Os conceitos equivalentes à ordem espacial são as noções de todo e parte, e de inclusão e exclusão.

O todo

As noções de “todo” e “inclusão” dão a forma de todas as espécies literárias que possuem uma natureza de lista, de índice, de inventário, de acumulação e enumeração, cujo modelo por excelência é a enciclopédia. Pertencentes a essa espécie são todas as subespécies de trabalhos didáticos e informativos.

As partes

Contrapondo-se à indiscriminada abrangência da lista, a ideia de sistema, ou de organização, também é voltada para um “todo”, mas um todo que é separado e classificado em suas peças, aspectos e dimensões, sendo, portanto, submetido a uma sequência de "exclusões". Esse é o tratado ou espécies sistemáticas.

A inclusão num Todo

De um lado, há os trabalhos que, lidando com um assunto particular, pretende inseri-lo em um corpo pré-existente de conhecimento, que já foi sistematizado. Essa espécie de trabalhos é denominada tese (thesis), que vem de um verbo latino que significa "colocar".

A inclusão em partes

No entanto, se a ideia a ser apresentada não tem compromisso formal ou decisivo com um sistema pré-existente de conhecimento, então o que o autor faz é acrescentar livremente mais uma ideia para o amplo e vago repertório de ideias humanas. Isto é precisamente o que faz a espécie ensaio.

O espaço indefinido

A diferenciação das espécies expositivas podem assim continuar indefinidamente, por meio da simples aplicação dos critérios de todo e parte, inclusão e exclusão. Existe também uma infinidade de arranjos possíveis.


 “Os gêneros literários, a rigor, são realidades arquetípicas:
a dificuldade em ver está no sujeito e não no objeto”
(Os gêneros literários: seus fundamentos metafísicos. O. de Carvalho)


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Mangifera indica – 13/02




13/02   Rosa, espada, tommy, menina
carlota, palmer e coração de boi

Viessem as serras elétricas
e cortassem a árvore
para que a raiz não atingisse a tubulação
para que não destruísse a calçada
para que os galhos não atingissem a fiação
e as mangas não destruíssem os carros

Viessem os cupins e as traças
e devorassem a papelada dos dicionários
Viessem os vírus
e devorassem os já digitalizados

Viesse a denotação
e a árvore reduzisse
ao pé da letra

Viessem simpósios, seminários, artigos, livros didáticos
e expusessem os movimentos vegetais
relógios biológicos, tactismos, ritmos circadianos, tropismos
tudo apenas reagindo aos estímulos ambientais

(Viessem as cinzas
e a Mangueira perdesse os carnavais)

           Viessem os teóricos


13/01        13/3