O absurdo e o sagrado

O QUE NÃO OUVIMOS SE TORNA ABSURDO PARA NÓS. O QUE OUVIMOS SE TORNA SAGRADO.


Visões de mosaico


¿!  O mosaico é o todo.
¿!  As tesselas são as partes do todo.
¿!  A téssera é a dualidade parte-todo.
¿!  O link é o que relaciona as partes e o todo.

(foto Jayanta Dey/ Reuters)


Amor em fragmentos

Impulsionados pela força do amor os fragmentos do mundo buscam-se uns aos outros de modo que o mundo possa existir.


Pierre Teilhard de Chardin


Postagens e numerais: quantidade e ordem

Para contar objetos concretos os hopi utilizam os numerais cardinais. Para contar unidades de tempo eles usam os numerais ordinais. Assim, os hopi se referem a dia sempre no singular. Eles contam os dias como manifestações contínuas de um único dia

O tempo dos hopi é cíclico. O dia de ontem é o mesmo dia que retorna hoje e é o mesmo dia que retornará amanhã: o dia primeiro (ou a primeira aparição do dia ou a primeira vez que ele apareceu), o dia segundo, o dia terceiro...

De acordo com as estatísticas do Blogger, temos 444 postagens. Mas como deveríamos contar os nossos estudos poéticos? Com que numerais podemos contar o que é escrito virtualmente? O que é mais adequado para contar textos apresentados com data e hora de publicação em uma cronologia reversa, onde o primeiro é sempre o último? Este post é mais um post, um outro post, ou é novamente o mesmo post? Um post é um objeto concreto ou uma unidade de tempo?

O que compõe um mosaico – a quantidade ou a ordem das tesselas?


Equinócio de primavera

A Espera, de Picasso

Durante a primavera de 1901, este quadro foi pintado por Picasso.

Remete aos mosaicos. Aos mosaicos do nome e da técnica.

O título da obra é Pierreuse, a Mão sobre o Ombro, é também Margot e é também A Espera. Uma composição de nomes.

O fundo do quadro recria peças de um mosaico, seis anos antes do ponto de partida do Cubismo: Les Demoiselles d´Avignon. O mosaico foi a espera até que a semente do Pontilhismo florescesse por fim em cubo. Marcando uma nova primavera na arte pictórica.

Que venham novas flores e novas formas!




Fonte da imagem: Blogue Desesperando Godot


Fatos e mitos

FATOS PRODUZEM MITOS.
MITOS PRODUZEM FATOS.


Poesia vende?

A PUBLICIDADE É A POESIA DA ECONOMIA.


Visões de número

¿!  Não existe primeiro.
¿!  Não existe último.
¿!  Todos são um.
¿!  O número nasceu do não número.


Mangifera indica – 13/9




13/9     para chegar já outra árvore
ao mesmo lugar de onde partiu

Olhando a árvore pela janela:
a última gota de chuva estremece as folhas
rompendo a imagem de um instante
Voam da mangueira
rolinhas, sebinhos e beija-flores
Hoje é dia da árvore nos calendários
avança a árvore um quadrante
No sul, é o equinócio de primavera
no ar, há mais pássaros que folhas
na árvore, há o verde
das folhas e das seis mangas já grandes

Olhando as palavras pelo dicionário:
da raiz vinda do latim arbos
desenvolve-se o vegetal cujo tronco dá ramos no alto
A árvore une os sentidos
do que antecede e do que procede
A árvore dos galhos, dos ramos, dos frutos e das sementes
A árvore da sementeira, da raiz e do tronco
A linhagem dos antigos aos herdeiros
causa e efeito alinhados
num signo que é presença
Da família das Anacardiáceas
estrangeira entre as aroeiras
os cajus e os cajás
Anacardiácea
Semelhante a um coração que se eleva


13/8        13/10


Pergunta e resposta

[...] ser pacientes com tudo que esteja insolvido (em nossos corações) e procurar amar as próprias perguntas como câmaras fechadas e como livros que estão sendo escritos numa língua muito estranha... o que importa é viver tudo. Vivamos as perguntas agora. Talvez, gradualmente, sem percebermos, vivamos, em algum dia distante, nas respostas.

Rilke


Gonzagão – A lenda


"Sabe supor"?  "Posso tentar"!... (diálogo do musical Gonzagão - A lenda)


Vamos supor que todo artista tenha uma téssera e que a téssera de Luiz Gonzaga seja composta por dois pássaros – Asa Branca e Assum Preto.

Assum Preto vive em meio à beleza, mas é cego. Asa Branca pode enxergar tudo, mas tudo que vê é seca, sede e solidão. De Assum Preto ouvimos o canto. De Asa Branca ouvimos o bater de asas.

Vamos supor agora que exista uma lenda que diga que uma téssera, quando cantada, desperta os próprios poderes do canto.

A poesia é o poder do canto. O canto é o sopro da criatura em resposta ao sopro do criador. O poeta adivinho, quando realiza sua função, expressa-se através do canto. Encontramos em línguas como o irlandês e o bretão a ligação da palavra canto com as palavras encantação e lição.

Vamos supor ainda que a lenda diga que uma téssera cantada, se ouvida, desperta os poderes do voo.

A poesia é o poder do voo. As asas simbolizam a desmaterialização, a leveza do peso abandonado. O poeta tem asas no momento em que está inspirado. Asas nunca são recebidas: são sempre conquistadas. Dizem os bramanas que aquele que compreende tem asas.

Vamos supor também que essa suposta lenda da téssera dos pássaros possa unir esse suposto voo e esse suposto canto.

O canto atrai o voo. Asa Branca voa em busca do canto de Assum Preto.

Vamos supor por fim que a verdade possa estar na lenda e na história ao mesmo tempo – Asa Branca e Assum Preto são um pássaro só.


Tentando supor a partir do musical Gonzagão – A lenda, de João Falcão, e de consultas ao Dicionário de Símbolos.


Assum Preto e Asa Branca


Tudo em vorta é só beleza
Sol de abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio
Num vendo a luz, ai, canta de dor (bis)

Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do Assum Preto
Pra ele assim, ai, cantá mió (bis)

Assum Preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil vez a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá (bis)

Assum preto, o meu cantar
É tão triste como o teu
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus.


Quando olhei a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação (bis)

Que braseiro, que fornalha
Nem um pé de plantação
Por farta d’água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão (bis)

Até mesmo a Asa Branca
Bateu asas do sertão
Então eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração (bis)

Hoje longe, muitas léguas
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim voltar pro meu sertão (bis)

Quando o verde dos teus olhos
Se espalhar na plantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu voltarei, viu, meu coração (bis)