Foi quando Sahrazad começou a falar sobre as
ações. O que nos sucede é provocado por nossas próprias mãos
(que não evitam a traição), língua (que não diz a verdade) e pés (que seguem as
mãos e a língua).
Depois passou a falar sobre os
motivos. O do afeto é o decoro. Do amor, a dádiva. Da castidade,
o desvio do olhar. Do lucro, o esforço. Da aversão, a sabedoria. Da
fraternidade, a afabilidade. Do abandono, a punição. Do ódio, a mentira. Do
saber, a busca.
Falou sobre os interesses,
que são diferentes dos motivos. Cada um sabe melhor do que o outro qual é o seu
próprio interesse.
Falou sobre as circunstâncias
em que as ações são feitas. Falou sobre a pressa, que não produz nenhum
benefício se as coisas estão sob controle. Tudo que se faz com pressa não
perdura.
Falou sobre as consequências,
sobre a aflição e o arrependimento. Inúteis diante do que já foi feito.
E falou sobre a magia.
Falou de aves que se transformavam em moças que pareciam luas e de geomantas
que faziam a areia falar a sorte.
O rei Sahryiar, então,
ouvindo a história do rei Sah Baht, pensou sobre o que ele mesmo estava fazendo:
matando mulheres e meninas. Louvou a Deus em seu pensamento, pois ocupando-se
da jovem Sahrazad, não continuava matando. Tirar a vida é uma enormidade! Ele
considerou que se o rei Sab Baht perdoasse o seu vizir, também ele perdoaria
Sahrazad.
E o rei continuou prestando
atenção às palavras dela.
“Ó rei do tempo, esse círculo maior é o
seu reino, e o círculo menor é o meu reino”; deu alguns passos, entrou no
círculo menor e disse: “Se o seu reino, rei do tempo, não me cabe, morarei no
meu reino”, e mal entrou no círculo menor desapareceu das vistas dos presentes”.