Tudo começou quando o rei Sahriyar descobriu que havia sido traído pela sua esposa com um escravo. A tomada de consciência da traição o conduziu a uma pergunta: alguém no mundo teria sofrido uma desgraça ainda pior do que a dele? Traído, com essa questão em mente e na companhia de seu irmão Sahzaman, Sahriyar decidiu abandonar seu reino e perambular. Se encontrasse alguém cuja desgraça fosse pior do que a dele, retornaria. Se não, continuaria a vagar pelo mundo. O rei e seu irmão saíram do palácio pela porta secreta e seguiram viagem até a orla do mar salgado.
Lá os dois encontraram uma bela
jovem que vivia trancada em um baú de vidro no fundo do mar sob a vigilância de
seu marido. Mesmo assim, a mulher o traía enquanto ele dormia: “quando a mulher
deseja alguma coisa, ninguém pode impedi-la”. Esta bela mulher carregava
consigo um saco contendo cem anéis: “todos os donos desses anéis me possuíram,
e de cada um eu tomei o anel”.
Diante de tamanha desgraça,
Sahriyar e Sahzaman voltaram para o reino.
O rei Sahryiar decidiu, então, se
casar a cada noite com uma mulher diferente e matá-la antes do dia amanhecer.
Um casamento que não duraria mais do que a noite de núpcias. O horror tomou conta
das famílias e do reino.
Até que, em uma certa noite, que
seria a primeira das mil que se seguiriam, Sahryiar se casou com Sahrazad.
Ela tinha lido livros de compilações, de sabedoria e de medicina; decorado
poesias e consultado as crônicas históricas; conhecia tanto os dizeres de toda
gente como as palavras dos sábios e dos reis. Conhecedora das coisas, inteligente,
sábia e cultivada, tinha lido e entendido.
Sahrazad pediu ao rei que
chamasse sua irmã Dinarzad a fim de que elas pudessem se despedir.
Quando a noite se fez mais espessa, no momento oportuno, Dinarzad disse: “Minha
irmãzinha, se não estiver dormindo, conte-nos uma de suas belas historinhas,
para que eu possa despedir-me de você antes do amanhecer, pois não sei o que
vai lhe acontecer amanhã”.
A pedido da irmã e com a
permissão do rei, Sahrazad disse contente: “ouça”.
“Ó rei do tempo, esse círculo maior é o
seu reino, e o círculo menor é o meu reino”; deu alguns passos, entrou no
círculo menor e disse: “Se o seu reino, rei do tempo, não me cabe, morarei no
meu reino”, e mal entrou no círculo menor desapareceu das vistas dos presentes”.