O Livro das Mil e Uma Noites é chamado de O Livro do Véu de Ísis por Roso de Luna, autor de O Livro que Mata a Morte.
Roso de Luna dedicou algumas
linhas de seu livro à poesia. Ele nos apresenta a poesia como uma irmã gêmea da
matemática. Ambas idealizam, embelezam e elevam analogicamente as realidades
concretas que integram nossa vida. A poesia segue a lei do símbolo e da
analogia. O simbolismo sendo para ele a ciência das ciências, pois todo símbolo
é uma ideia corpórea em que jaz o visível terreno com o invisível divino.
O véu de Ísis simbolizaria a morte
separando-nos das delícias da imortalidade. Roso de Luna lembra
que o número 10 (presente em ordem direta e invertida no número 1001) é o
hieróglifo de Ísis.
Sahrazad vai geometrizando a vida
e a morte com sua narrativa. Linkando uma história a outra através de seus
personagens dizentes, ela tece uma espiral de palavras, formando curvas em
graus maiores ou menores, dependendo do entendimento do seu ouvinte. Como
escreveu o próprio tradutor da versão que lemos:
A experiência é pensada como algo que se comunica e
cuja possibilidade de transmissão é dada pela repetição: são estruturas
semelhantes que se reproduzem incessantemente, sem que no entanto possam ser
reduzidas, em seu funcionamento no interior de determinado quadro narrativo
mais amplo, a um processo previsível e automático, visto que a própria dinâmica
interna da narrativa determina o resultado das sucessivas histórias exemplares
que se vão sucedendo.
Acrescentamos com Roso de Luna
que essas estruturas formam espirais e arabescos, ciclos que nunca se fecham.
Na hora que precede a alvorada,
Sahrazad para de falar. O homem começa a afastar-se do mundo do sonho,
penetrando em outros ainda mais doces. Antes do amanhecer é a hora da iniciação. Quando já não mais precisamos entregar nossos olhos, ouvidos e
coração às palavras da narradora, pois nos damos conta de que nós mesmos criamos
e recriamos a história.
“Ó rei do tempo, esse círculo maior é o
seu reino, e o círculo menor é o meu reino”; deu alguns passos, entrou no
círculo menor e disse: “Se o seu reino, rei do tempo, não me cabe, morarei no
meu reino”, e mal entrou no círculo menor desapareceu das vistas dos presentes”