[Estudo de Van Gogh para Os comedores de batatas extraído do blogue HÁ PALAVRA]
Segundo Rosenstock, o homem emerge do caos. E isso não é muito simples.
É no caos que pode faltar crédito, liberdade, respeito, e sobrar preconceitos e guerras.
O caos pode aniquilar a vitalidade e os laços de amizade, pode se tornar desordem, despotismo, rebelião. Pode, enfim, aniquilar os limites estabelecidos do corpo político de uma comunidade.
A linguagem, como meio de comunicação, sustenta esse corpo político erguido qual altíssimo arranha-céu. E não adianta procurar na fila dos compradores de batatas, dos comedores de batatas e das batatas fast-food para encontrar as bases do edifício. As mais firmes e profundas fundações não estão aí.
A linguagem cria nomes. E esses nomes configuram papéis, que podem ser os mesmos limites ou outros limites a serem estabelecidos pelo grupo. Novos nomes fecundam novos papéis e até uma nova comunidade.
Mas não, não há edifícios ruindo. É só mais uma face do que ainda está de pé. Os perdedores não ficaram somente com as batatas, vendidas às toneladas, quase doadas.
Os perdedores ficaram também com as filas quilométricas. Com uma fila. Uma simples fila, que é uma forma básica de organização humana, que é linguagem, e uma possibilidade para um novo nome. Um nome pode emergir em meio a todo desespero e a todo, assim mesmo definido, caos.