Enquanto Brahma dorme...
em seu sonho de Vida
No entremeio o poeta Vyasa contou a Yudhishthira a história da princesa
que ia, ia, sempre ia à procura de seu amor perdido, o rei. Até que um asceta
disse para a exausta princesa ir para casa, pois ela nunca acharia seu amor
daquela maneira. Quando o rei e a princesa se reencontraram, o passado
tornou-se uma noite escura finalmente iluminada por uma lua azulada. Vyasa
disse que essa antiga história é um veneno mortífero para o mal e a desventura.
Disse ainda que, quando organizara o Veda em seu tempo livre, o livro sagrado
dizia que os trapaceiros podem
ser destruídos pela trapaça, sem que a honra de quem assim os destrói se turve.
No entremeio Bhima deixou seus irmãos e foi em busca da morada do
lótus de mil pétalas a fim de pegar uma flor para Draupadi. No caminho
encontrou seu irmão Hanuman. Ambos são filhos do Vento.
O Universo tornou-se água
...
As águas escuras, então,
permaneceram quietas e
silentes,
esperando, e nada
tocando.
Que forma haverei de
assumir
para salvar a Terra deste
dilúvio?
No entremeio Yudhishthira disse à montanha: “Possamos nós retornar”. E o vento soprou-lhe: “O Mundo é amplo! O
Mundo é enorme!”.
Era o 12º ano. Duryodhana conversava às gargalhadas com seu amigo Karna enquanto
seu eu sustinha os fios de seu corpo, sustinha lealdade e pesar, vergonha e
ambição, amor e energia e desejo e amizade, e tudo o mais – os cem mil fios brancos e negros entretecidos da vida. Seu corpo foi feito por Kalee: a parte
superior, de diamante indestrutível; a metade inferior, de flores de montanha.
E arrancou fora sua alma, em ente não maior que um polegar |
No entremeio Vyasa contou à Draupadi a história de Savitri. Depois de
depositar gentilmente a cabeça de seu amado Satyavan na Terra, Savitri quis ainda
caminhar sete passos ao lado de Yama. O deus da morte olhou para ela e
ofereceu-lhe uma dádiva, desde que não fosse a vida de Satyavan. Yama, aquele
que sempre tira, viu como era bom dar. Caminharam até um riacho. Com as
próprias mãos, Yama, de imóveis olhos escuros, deu um pouco de água para
Savitri beber e disse: “Não é difícil dar. Quando a vida é finda e tudo precisa
ser entregue, dar não é difícil. Durante a vida existe dor, mas nenhuma na
morte. Ninguém me escapa. Eu já vi a todos. E, contudo... esta água não é mais
límpida que seu coração. Você busca o que
almeja, você escolhe e a questão se encerra; não deseja ser nenhuma outra
pessoa. Há muito que não vejo isso. Faça-me outro pedido, tudo menos a vida de Satyavan”. Yama suspirou,
seus olhos fixos em Savitri: “Eu, mais do que ninguém sei o que são a verdade e
a justiça. Sei que todo o passado e todo o futuro são mantidos coesos pela
verdade. O perigo dela foge e se esquiva. Quanto vale sua vida sem Satyavan?”.
“Nada”, disse Savitri. Yama pediu metade dos dias de Savitri para que ele
pudesse dá-los a Satyavan. Savitri não quis saber quantos dias lhe restaram.
Com seu amor, ela transformou a desgraça em alegria. Como Draupadi fazia.
Deixando-se amar pelos Pandavas, alegrava até mesmo o exílio.
No entremeio ouviu-se a música mais maravilhosa de todo o mundo, com
sinos para Draupadi dançar, a flauta de Krishna e um duplo tambor para Arjuna.
No entremeio Krishna ainda sorria,
mas havia lágrimas em seus olhos. Terminado o exílio, Duryodhana não quis devolver metade do reino para
os Pandavas. Krishna disse a Duryodhana que a paz não era difícil: “Depende
apenas de você e de mim”. Faltavam sete dias para o início da guerra na
planície dos kurus.