A distinção entre verso e
prosa reflete a condição do “número” ou quantidade no microcosmo
literário. Ela é a separação entre as duas formas mais gerais de quantidade – contínua e descontínua.
Um verso é um verso
enquanto um princípio de descontinuidade ou seccionamento prevalece, seja ele rítmico
ou métrico, realizando algum tipo de reiteração de som; e prosa é
prosa enquanto flui sem nunca mais retornar. Em resumo: o texto
contínuo, ou conotativo ou denotativo, é prosa; e texto descontínuo, ou conotativo
ou denotativo, é verso, seja "poético" ou não “poético”.
Verso e prosa são diferenciados
de acordo com o número (ou ordem, ou relação). Eles são princípios para a
estruturação das partes menores – como frases e períodos – e são
"categorias", ou gêneros de gêneros; eles compreendem
todos os gêneros assim como o número compreende o tempo e o espaço.
Os gêneros narrativos manifestam
a dimensão do tempo, eles podem, em princípio, ser feitos em verso ou em prosa
pelo fato de que esta dimensão contém um aspecto de continuidade, bem como um
outro de descontinuidade.
Da mesma forma, os gêneros
expositivos podem aparecer em verso ou prosa, já que refletem
extensão contínua ou a diferenciação em dimensões, planos, lugares, linhas e
pontos.
O tempo é o tempo e o espaço é o
espaço, mas o homem é o homem, e nele penetram essas duas dimensões,
articuladas por quantidade ou ordem.
“Os gêneros literários, a rigor, são realidades arquetípicas:
a dificuldade em ver está no sujeito e não no objeto”
(Os gêneros
literários: seus fundamentos metafísicos. O. de Carvalho)
Continua em Os
gêneros literários – o Tempo