Ler literatura

               Maryanne Wolf:
O homem nasce geneticamente pronto para ver e para falar, mas não para ler. Ler não é natural. É uma invenção cultural que precisa ser ensinada ao cérebro.

Ezra Pound:
A linguagem foi obviamente criada e é, obviamente, utilizada para comunicação. Literatura é linguagem carregada de significado.

N.E.P.:
Ler é ver. Linguagem é luz. Literatura é laser. Torna denso o que é sutil.


O mistério do problema ou o problema do mistério


Para conhecer o mundo o homem deve ter ao menos duas pernas. Duas pernas intelectuais – a pergunta e a resposta.
As duas pernas de Nossos Estudos Poéticos são proporcionais ao pensamento e à intuição de Stephen Arroyo?
A faculdade de pensamento e de intuição de Arroyo são proporcionais às de pensamento e sensação, de um lado, mais intuição e sentimento, de outro lado, como para Jung?
Passo a passo há que seguir por duas vias paralelas. De um lado o problema e de outro lado o mistério.
São duas formas de caminhar pela estrada, ou ainda, duas formas de pisar na realidade: pela questão e pela resposta, pela resposta e pela questão.
A realidade é uma téssera.
E passo a passo o problema e o mistério são um só – duas partes são realmente partes separadas ou que arcano inconcebível as une?




Nulla dies sine linea


NENHUM DIA SEM LINHA. NENHUM POST SEM LINK.


Absurdos do Livro do Desassossego


Aos leitores deste mosaico atraídos pela tessela do absurdo, seguem outros tantos do L. do D.:

23. Absurdo

296. A mania do absurdo e do paradoxo é a alegria animal dos tristes. Como o homem normal diz disparates por vitalidade, e por sangue dá palmadas nas costas de outros, os incapazes de entusiasmo e de alegria dão cambalhotas na inteligência e, a seu modo, fazem os gestos da vida.

297. A reductio ad absurdum é uma das minhas bebidas predilectas.

371. Apoteose do absurdo

Falo a sério e tristemente; este assunto não é para alegria, porque as alegrias do sonho são contraditórias e entristecidas e por isso aprazíveis de uma misteriosa maneira especial.

Sigo às vezes em mim, imparcialmente, essas coisas deliciosas e absurdas que eu não posso poder ver, porque são ilógicas à vista – pontes sem donde nem para onde, estradas sem princípio nem fim, paisagens invertidas – o absurdo, o ilógico, o contraditório, tudo quanto nos desliga e afasta do real e do seu séquito disforme de pensamentos práticos e sentimentos humanos e desejos de acção útil e profícua. O absurdo salva de chegar a pesar de tédio aquele estado de alma que começa por se sentir a doce fúria de sonhar.

E eu chego a ter não sei que misterioso modo de visionar esses absurdos – não sei explicar, mas eu vejo essas coisas inconcebíveis à visão.


Absurdemos a vida, de leste a oeste.


Absurdo


Absurdo – 1) Contrário à razão, ao bom senso. 2) Disparatado, inepto. 3) Que fere as regras da lógica ou as leis da razão. 4) Que escapa a regras ou a condições determinadas. 5) Sonho, utopia, quimera (substantivo). (Adaptado do Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa)

Absurdo – do latim absurdus, século XVI. (Adaptado do Dicionário Etimológico)

Absurdus (de ab e surdus) – desagradável ao ouvido, ridículo. Que não tem aptidão para alguma coisa. Que é fora de propósito. Abexprime a ideia de afastamento de um lugar, em oposição a ad. Surdussurdo, que não ouve, que não dá ouvidos, que não quer escutar, que não é sonoro, que não é falado, desconhecido, ignorado, obscuro, oculto, secreto, invisível, escuro, embaciado, que não é escutado, atendido, madeira que não tem veias. (Adaptado do Dicionário Latino-Português)

Absurdoloucura, disparate, irracionalidade, incoerência, absurdo inaceitável, paradoxo, sofisma revoltante, inconsistência, desconcerto, asneira, contrassenso, bobagem, tolice, destempero, lenga-lenga, desconexão, exagero [em absurdo]. Inconcebível, inacreditável, inimaginável, sem remédio, incontornável, impensável, incriável, sobre-humano [em impossibilidade]. Argumento vão, mistificação, círculo vicioso, desculpa, discrepância, contradição, linguagem retorcida [em irracionalidade]. Inexpressão, som vazio, letra morta, confusão, palavras ocas [em sem significação]. Hipérbole, tensão, tempestade num copo d’água, muito barulho por nada, muita trovoada e pouca chuva [em exagero]. Inconstante, inconsequente [em capricho]. Bombástico, desprezível, monstruoso [em ridicularia]. Infundado, maldoso, imoral, descabido, injustificado, indecente, desigual, afrontoso, impróprio, escandaloso [em injustiça]. Inadequado, inconveniente, fora de questão, falso, incapaz [em impropriedade]. Ilegal, ilegítimo, indevido [em ilegalidade]. (Adaptado do Dicionário Analógico)


Visões de símbolo e memória


¿  Um símbolo interno ajuda a conservar o mistério na memória humana.
¿  A forma simbólica procura caracterizar o que transcende nosso intelecto.
¿  É preciso ir além do intelecto para que o mistério não se apague da memória humana.


Símbolo


Símbolo – 1) Aquilo que, por um princípio de analogia, representa ou substitui outra coisa. 2) O que, por sua forma ou sua natureza, evoca outra coisa. 3) Aquilo que tem valor mágico ou místico. 4) Objeto material que, por convenção arbitrária, representa ou designa uma realidade complexa. 5) Elemento descritivo ou narrativo suscetível de dupla interpretação, associada ao plano das ideias ou ao plano real. 6) Sinal, signo. 7) Sinal que substitui o nome de uma coisa ou de uma ação. 8) Emblema, insígnia. 9) Pessoa ou personagem que representa determinado comportamento ou atividade. 10) Alegoria, comparação, metáfora. 11) Em psicologia, ideia consciente que encerra a significação de outra inconsciente. (Adaptado do Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa)

Símbolo – Do latim symbolum, derivado do grego sýmbolon. Século XIV. (Adaptado do Dicionário Etimológico)

Symbolumsinal, marca distintiva. Insígnia, credo, coleta, escote, reunião (de coisas). Symbolussinete, selo, cunho do sinete. (Adaptado do Dicionário Latino-Português)

Símboloalgarismo, incomensurável, mônada, fórmula, função, série, medida, combinação, razão, relação [em número]. Mudança, metonímia, duplo, ícone [em substituição]. Denotação, referência, linguagem, aspecto, atributos, cicatriz, indício, pista, evidência, índice, lembrança, prova, vestígio, sintoma, presságio, repertório, título, legenda, gesto, aceno, alusão, meia-palavra, advertência, contrassenha, téssera, linha d’água, assinatura, bússola, guia, orientação, antevisão, registro [em indicação].  Imitação, ilustração, imagem, retrato, belas-artes, personificação, encarnação, semelhança, similaridade, diagrama, ideograma, contorno [em representação]. Semântica, semiótica, dicionário, vocabulário, figuras de linguagem [em linguagem]. Ritual, cerimônia, relíquia [em rito]. (Adaptado do Dicionário Analógico)


Dia de Reis



Ilustramos o Dia dos Reis Magos com esta téssera de triângulos unindo as obras da religião e da ciência. Esta colagem de imagens retiradas de algum número da revista Veja também foi encontrada durante a faxina no mesmo caderno de 2009. (Aliás, a Veja fez uma interessante associação entre a operação anticrack em São Paulo e o Ensaio sobre a Cegueira nas páginas 122 e 123 da edição de retrospectiva 2012).

Feliz Dia de Reis! 


O Dicionário de Símbolos em Nossos Estudos Poéticos


E o que fizemos com o Dicionário de Símbolos em Nossos Estudos Poéticos?

Percorremos os fragmentos do blogue a fim de reunir alguns dos possíveis símbolos que estão por eles espalhados. Essa busca foi impulsionada principalmente pelos leitores que chegaram até aqui atraídos pelo Dicionário de Símbolos.

Desdobramos neste post as postagens Dicionário de Símbolos e Psiquetipia enquanto fazemos uma pequena reflexão sobre nossa ideia inicial considerando a linguagem dos símbolos. Esperamos ser úteis aos nossos estudos poéticos. Esperamos impulsionar os leitores a chegarem a seus próprios símbolos.


Fragmento Palavras: ao estudarmos os símbolos que correspondem às palavras cujos conceitos estruturam nosso blogue, encontramos seus significados mais remotos, secretos, fecundos e transcendentes.

[Símbolos em ordem alfabética – Link para a postagem]
Anel – Elo
Aranha – Teia
Carne – Carnaval
Criação – Criar
Cubo – Téssera
Dia – Diário
Escrita – Escrever
Letras – Letra
Linguagem – Linguagem
Livro – Livro
Nó – Vínculo
Olhar – Ver
Palavra – Palavra
Papel – Papel
Quadrado – Tessela
Silêncio – Mutismo ou silêncio?
Tecelagem – Tecido
Venda  Venda

Fragmento Recitando: os símbolos surgidos nas recitações do blogue tornam possível o reconhecimento das afinidades e nos ajudam a formar os elos deste fragmento.

Colisor – Recitando Ronaldo
Escadaria – Stairway to heaven
Fumaça – Outra rubaía
Quarta-feira de cinzas – Quarta-feirade cinzas
Queda – Outono

Fragmento Estudo: o estudo dos símbolos tem sido uma fonte de inspiração. Debruçarmo-nos sobre eles permite a antecipação de algumas descobertas.


Fragmento Eventos: eventos artísticos estão sempre a envolver símbolos. Identificar estes símbolos nos ajuda a alcançar a poesia dos eventos.

Eclipse, Ovo Quadrado – Eclipse
Peregrinação – Baile de encerramento

Fragmento Exercícios: como os símbolos se apresentam em nossas tentativas? Às vezes, estamos a escrever e, quando nos damos conta, eis que um símbolo se faz presente. Às vezes, é a presença de um símbolo que nos conduz à escrita.

Árvore – Mangifera indica
Casamento – Casamento de Juno
Inverno – Inverno
Mandala – Mandala I
Pombos – Somos como pombos

Fragmento Linguagem: a linguagem simbólica é talvez a mais bela forma de comunicação do ser humano.


Fragmento Livros: os símbolos colaboram para que o estudante amadureça as impressões e compreensões acerca de suas leituras.


Fragmento Poético: como os símbolos agem? Poeticamente? Como é a ação do símbolo? Como é a ação simbólica?


Fragmento Espontâneos: a percepção espontânea de um símbolo tira-nos da rotina e torna nosso cotidiano mais poético:

Abecedário – Mandala espontânea
Chuva – Chover
Fragmento – Fragmentação
Pássaros – Os pássaros
Retorno – Retornar
Serpentina – Serpentina

Fragmento Teoria: o estudo dos símbolos tem feito cada vez mais parte de nossa visão de mundo.

[Postagens]


Visões do domínio de utilidade


¿  O domínio de utilidade do pensamento é o mundo exterior (material).
¿  O domínio de utilidade da intuição é o mundo interior (psíquico, espiritual).




O Verbo disse: Nada!


Um soneto para recomeçar.

Encontramos a tradução do poema desta postagem durante uma típica faxina de fim-começo de ano. Ela estava anotada em um caderno de 2009, mas sem a fonte. Acreditamos que tenha sido tirada de um livro que não foi encontrado durante a faxina (está emprestado). Segue, então, o original em francês de 1847 encontrado no Google.

Bom 2013!

ET VIDIT QUIA BONUM.

L’Homme a dit: J’ai voulu tout savoir, je sais tout!
Dans mon domaine étroit je ne tiens plus en place;
J’ai vécu tout mon temps, couru tout mon espace,
J’ai la Vie en horreur, et la Terre en dégoût!

La Terre a dit: Mon sein s’appauvrit et se glace,
Et mon lait en poison pour l’homme se résoût;
La lèpre du péché qui l’envahit partout
S’étend jusqu’à mes os; d’enfanter je suis lasse!

Le Ciel a dit: L’éclair se rouille au glaive ardent,
Et l’Ange, au saint parvis, s’ennuye em attendant
Qu’un élu des élus commence enfin le nombre.

L’Enfer a dit: Satan se fatigue à tasser
Le damné qui pullule au charnier qui s’encombre!
Le Verbe a dit: Néant! c’est à recommencer!

Ephémères: poésies par Joséphin Soulary


E VIU QUE ERA BOM.

O Homem disse: Eu quis tudo saber, eu sei tudo!
No meu estreito domínio não posso mais me manter;
Vivi todo meu tempo, percorri todo meu espaço,
Tenho horror à Vida e a Terra me desgosta!

A Terra disse: Meu seio empobrece e gela,
E meu leite em veneno para o homem se torna;
A lepra do pecado que tudo invade
Estende-se até meus ossos; estou cansada de procriar!

O Céu disse: O relâmpago se oxida no gládio ardente,
E sente tédio o Anjo no átrio sagrado à espera
Que um eleito entre os eleitos comece enfim a multidão.

O Inferno disse: Satanás se cansa de empilhar
Os condenados que pululam no ossário entulhado!
O Verbo disse: Nada! é preciso recomeçar!

Efêmeros: poesias de Joséphin Soulary