Once in a blue moon
O que é raro? O que facilmente gastamos e se torna ralo ou o que por ser sutil
dificilmente encontramos? O que é pouco ou o que é extraordinário?
O que é raro? Um sentimento, uma pessoa, uma experiência, um fato?
O que é raro? O que se pode contar nos dedos? O que é um entre mil? O
que acontece aqui e ali, uma vez na vida e outra na morte?
Não são raras as formas que a língua encontra para tratarmos do que é
raro. Once in a blue moon é uma expressão inglesa usada para nos referirmos ao que
acontece muito raramente,
pois raras são as noites de lua azul. Raras vezes temos duas luas cheias em um
mesmo mês.
O que é raro, então?
Em Nossos Estudos Poéticos, raro é o inexprimível na língua. Raros são
o indescritível e o inenarrável na literatura. Raro é o inefável na poesia. Rara é a poesia. E o que a poesia nos causa – assombro,
encanto, êxtase – nos ajuda a encontrar o que é raro no limiar da
impossibilidade.
Raras são as tésseras
que poeticamente se encontram – um verdadeiro casal, dois grandes
amigos, o bom candidato e o bom eleitor, o paciente na fila de transplante e o
doador compatível, a pergunta e a resposta.
Rara é a arte.
E entre as artes, raras são as belas-artes. E, nas belas-artes, rara é a
obra-prima. E na obra-prima encontramos a raridade do que é belo, do que é sublime.
E rara é a noite
de hoje – noite de lua azul. E tudo que for feito nesta noite de 31
de agosto de 2012 será raro, pois será uma vez na lua azul.
O Ramayana
Uma palavra – Rama.
Uma palavra, 24 mil versos, 126 personagens, sete livros, três partes, uma
canção. Uma
canção – O Ramayana.
Lemos em Nossos Estudos Poéticos o poema épico indiano
encomendado por Narada, inspirado por Rama, composto por Valmiki, cantado por
Kusa e Lava, contado por Sauti, ouvido por Saunaka, recontado em prosa por William Buck,
traduzido por Octavio Mendes Cajado.
Interessou-nos na versão de Buck
o fato de que ele deu às palavras de antigas canções a bela forma de um livro.
Não um livro de erudição tecnicamente exata, mas sim um livro de histórias. O
contador de histórias William Buck dá continuidade à própria tradição do Ramayana – ser recontado em diferentes
épocas e lugares.
Interessou-nos também o método de
Buck para
criar o livro. Ele dedicou anos de leitura e releitura às
traduções, estudou sânscrito, planejou, escreveu. Começou com uma tradução
literal, depois extraiu dela a narrativa, e contou a história. Em
suas palavras: “mas preservando, ao mesmo tempo, o espírito e o sabor
original”. Nas nossas: mas preservando a poesia.
O
Ramayana de William Buck tornou-se um livro de poesia.
E pensando no post Conceitos fundamentais da poética, tão lido e relido no blogue, tornamos a pensar na poesia épica:
por que os poemas épicos geralmente tratam de viagens? Ou por que as viagens
tomam a forma de epopeias? Por que o tema das viagens (ao lado do das guerras)
e o gênero épico se combinam tão harmoniosamente?
Em Nossos Estudos Poéticos não vamos recontar O Ramayana. Vamos postar sobre o poema, compondo
este mosaico com as tesselas vindas talvez de alguns dos mil pedaços em que
Indra, o Deus da Chuva e Rei do Céu, transformou Maya, o
Divino Artista da Ilusão, com um único raio. Vamos emaranhar um pouco mais os
anéis de alegria e de dor, todos entrelaçados e abraçados, linkando-os a outros posts. Vamos tentar seguir a lição deixada pelo poeta que compôs O Ramayana – cantar em partes, um pouco a cada dia, procurando ajuntar tudo num todo.
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