Casamento de Juno

Aos noivos

            Aqui vão os votos. Votos de alegria e de felicidade. Votos de confiança, pois demoraram tanto para chegar que tinham a certeza de que ainda chegariam numa hora propícia. Esses votos são para que tenham sempre a experiência de cada vez mais consolidar e reinventar o sentimento que existe.
            O epitalâmio é um gênero lírico para cantar o casamento, que é ainda algo desconhecido. O casamento é historicamente um grande composto de instinto de sobrevivência e de proteção, de contratos de famílias por herança e de poder religioso. Também é cada vez mais um fruto da consciência de um sentimento. É tanta coisa, que ainda é desconhecido, pois guarda dentro de si todo um futuro.
            Neste texto, a mulher não é a fraca e o homem não é o forte. A mulher não precisa ter medo, nem o homem, ansiedade. Ambos são a base da casa e da sociedade. A base de dois impulsos primários: nutrição e proteção.
            Há um movimento autêntico nessa relação homem–mulher depois de 10, 20, 30 ou, quem sabe, 40 mil anos. O que se inicia e ainda não se sabe aonde vai dar é o fato de a mulher ter quebrado um acordo de “cavalheiros”, um pacto primitivo com os homens – divisão nos cuidados dos herdeiros.
            A mulher contemporânea deve ter condições de cuidar de tudo. De nutrir, proteger, educar – nutrir o futuro, consolar – proteger do passado, etc. Dessa forma, o pacto primitivo é quebrado. E também o equilíbrio. Por isso, a mulher sofre tanto. E o que faz o homem diante de seus herdeiros? Contenta-se com o futebol nos fins de semana? Torna-se, ele também, mulher? Por isso, o homem sofre tanto.
            O homem de temperamento caçador agora pode ser caça. A mulher que era até então um abrigo agora pode ser flecha ou um míssil. Os campos já não nutrem mais, as casas já não mais protegem, e a batalha é travada no comércio, onde nada tem gênero e tudo é impessoal. E dizem o desequilíbrio e a experiência que a nutrição excessiva de alguns torna outros desprotegidos; e que a hiper-proteção de outros torna alguns desnutridos. Portanto, o que fazer? Como retomar o movimento pendular das coisas?
            Não sei. Só sei que é preciso modular as forças. E chegaremos a algo melhor, além da perplexidade.