Aceitamos o convite de uma menina que quer ser bailarina. Fomos assistir a sua apresentação de fim de ano – Baile de Encerramento. Pela primeira vez ela vestiria um traje de balé e subiria em um palco para dançar.
Apesar de não sabermos o número que ela iria apresentar e apesar de ela estar usando a mesma roupa que as outras meninas, logo a reconhecemos. Ela era a que dançava com a Alegria no meio das que dançavam com a Seriedade, das que dançavam com a Certeza, das que dançavam com a Dificuldade, das que dançavam com a Leveza, das que dançavam com a Obrigação...
Depois da apresentação, ela fez seus comentários – o que errou, quem estava na plateia, o incômodo da roupa que pinica. O tempo vai passar e algumas continuarão a tecer os mesmos comentários. Outras vão crescer e comentar que a coreografia é de David Lichine e a música é de J. Strauss e que o Baile de Encerramento foi encenado pela primeira vez em 1940. Outras ainda comentarão sobre o que quiseram expressar e o que podem mudar. Nós que assistimos sabemos que a maioria não será bailarina, ainda que continue a dançar.
Nós continuamos a fazer os nossos próprios comentários. Pensamos que cada bailarina é uma peregrina. De turma em turma, de escola em escola, de palco em palco, à procura da graça e da perfeição. Comentamos que as mais novinhas, as do pré-ballet, são a própria graça, mesmo que estejam ainda aprendendo a se localizar no espaço e a acompanhar o ritmo com o próprio corpo. Mas elas precisam se afastar dessa graça a fim de aprender as posições e os passos do balé. As que forem até o fim da peregrinação terão que percorrer o caminho de volta. Então, elas se reaproximarão da graça pelo estudo, pela aprendizagem, pelo domínio da técnica. Mas nós que assistimos sabemos que a perfeição está além da técnica.
É muito bonito ver apresentações de fim de ano de futuros bailarinos. A cada turma que se apresenta, vemos que um novo passo foi aprendido pelo bailarino e que mais um passo foi dado pelo peregrino. E nós que vemos sabemos que o baile nunca vai ser encerrado, pois sempre haverá uma nova turma para continuar a peregrinação. A cada ano, uma nova turma será recriada, um novo baile será realizado.
(em Baile de Encerramento, espetáculo do Conservatório Brasileiro de Dança, apresentação das 19h30min de 19 de novembro de 2011)