Mangifera indica - O movimento das árvores ou Um ano e um dia

ANTECEDENTES

Depois que mostrei Nadir e Letícia a algumas pessoas próximas, percebi que elas tiveram dificuldade com o texto por causa do tema. O flamenco não lhes era familiar. Preocupei-me, então, em buscar um tema mais comum. Queria também um tema que me permitisse dar continuidade ao estudo do movimento. Ao fazer Nadir e Letícia, parti da ideia de baile, passei pela dança e cheguei à de movimento. Além disso, queria aprofundar um pouco mais a ideia de usar o poema com a finalidade de estudo.

Enquanto buscava um tema, algo começou a chamar minha atenção no meu dia a dia – árvores. Tanto as árvores dos meus caminhos diários quanto as dos livros que eu estava lendo. Duas espécies se destacaram: a mangueira que eu via da janela do meu apartamento e os castanheiros de Cézanne. O artista exercitava sua técnica pintando as árvores ao longo das estações do ano.

Ao finalizar Nadir e Letícia, também tive alguns questionamentos sobre a forma do poema: como saber que o poema acabou, que já tomou sua forma final? Por que escrever em verso? O que significa o verso?

INSPIRAÇÃO PARA A ESCRITA

As epígrafes que impulsionaram a escrita do poema foram:

“Trouxe um menino. / Apanhei-o no bazar de ouro e prata, / Onde as jóias são como as folhas de mangueiras: / Milhares, milhares.” (Cecília Meireles – Menino/ Poemas escritos na Índia). Não consigo olhar para a copa de uma mangueira e não me lembrar desses versos.

“Nulla dies sine linea” (Plínio, o moço; Apeles); “Sequer um dia sem uma linha.” (Gavarni citado por Vincent Van Gogh – Cartas a Theo); e “Nenhum dia sem linha...” (Álvaro de Campos – Apostila). Esses versos e suas atualizações deram o contorno para o meu texto, pois suas reformulações ao longo do tempo conservando a ideia principal lembram o crescimento de uma árvore.

OBJETIVO

Comecei a escrever com o objetivo de realizar um estudo poético sobre o movimento das árvores ao longo de um ano e um dia. As árvores parecem paradas, mas têm vários movimentos. Eu queria observar esses movimentos e, observando-os, observar não só o que se move na árvore, mas observar também os meus próprios movimentos.

Seria um exercício de atenção, de observação, de mudanças, que são diárias e cíclicas ao mesmo tempo. Seria também um exercício de paciência, uma tentativa de construir um poema no ritmo do movimento da árvore tendo o dia como unidade. Ao estudar poeticamente o movimento das árvores, eu queria ter a experiência de ver e de me dar conta do que não me é possível ver.

CONTEÚDO

O que se move na árvore? As partes da árvore, as cores, os insetos, os pássaros, o vento, a chuva, o sol, a sombra, a nossa percepção, o nosso pensamento, as seivas, as estações, a palavra, o símbolo, o nosso olhar, a vida, a mudança? Como isso tudo se move?

FORMA

O poema seria construído a partir de visões que abarcassem todo um dia e que coubessem em uma única linha. Essa seria a origem dos versos. Todo dia, ao longo de um ano e um dia, eu olharia a árvore pela janela do meu apartamento e escreveria um verso. O dia em que eu não olhasse para a árvore seria um dia sem escrita. Esse dia sem linha seria a entrelinha que separaria as estrofes.

Enquanto escrevia o poema, fiz várias fotos de árvores em preto e branco. As formas das árvores influenciaram na organização das ideias no poema.

FONTES

Para compor o poema, fiz buscas em dicionários para o estudo das palavras árvore, mangueira e Flora; em gramáticas para o estudo de palavras e morfemas que indicam movimento e de figuras de linguagem; em livros de biologia para o estudo dos movimentos vegetais; em livros de física para o estudo de Mecânica; em livros de pintura para o estudo da imagem das árvores, especialmente nos de Cézanne e Van Gogh; em livros de literatura para o estudo de poemas sobre árvores; e em livros canônicos, como a Bíblia e As Upanishads, para o estudo da simbologia religiosa das árvores. Busquei ainda informações sobre células-tronco e estrutura de dados na internet. Por último, dois poemas visuais foram especificamente importantes: a árvore de Ângela Serna e o trabalho Árvore/Revoar de Erthos Albino de Souza.

POEMA

Com essas ideias, escrevi um poema que tem um título e dois subtítulos. O título é Mangifera indica (nome científico da mangueira). Os subtítulos são O movimento das árvores (se considerarmos o conteúdo) e Um ano e um dia (se considerarmos a forma).

Leiam parte do poema no fragmento Exercícios:
http://nossosestudospoeticos.blogspot.com/2011/09/mangifera-indica-o-movimento-das_24.html

Leiam o poema em postagens e vejam as imagens: