Recitando do Canto Quarto de Os Lusíadas as oitavas 94, 95, 97 e 102:
Mas um velho, de aspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Posto em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
Cum saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:
- Ó glória de mandar, ó vã cobiça
Desta vaidade a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
Cũa aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que morte, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
[...]
A que novos desastres determinas
De levar estes Reinos e esta gente?
Que perigos, que mortes lhe destinas,
Deba[i]xo dalgum nome preminente?
Que promessas de reinos e de minas
De ouro, que lhe farás tão facilmente?
Que famas lhe prometerás? Que histórias?
[...]
Oh! Maldito o primeiro que, no mundo,
Nas ondas vela pôs em seco lenho!
Di[g]no da eterna pena do Profundo,
Se é justa a justa Lei que sigo e tenho!
Nunca juízo algum alto e profundo
Nem cítara sonora ou vivo engenho,
Te dê por isso fama nem memória,
Luís de Camões