VII
teu rosto de soldado é informe
ainda, poema
e aqui, o desafio é mais denso
exemplo ― como terminar teus dias?
Anúbis —
Miguel — Ares
—
Marte —
Jorge — Ogum
— Capitão Nascimento — Brahmeiros
o guerreiro de hoje é o deus de
amanhã
soldado que mata e
salva na mesma
medida
(tu,
que me encara,
conheces
alguém que só salva na vida?)
soldado que luta
uma luta
que nem sei, luta que nem posso
soldado que mata e
à
noite faz poesia
que rosto te deu esta vida?
um rosto sem nada, sem história
sem ação, sem narrativa
sem forte comoção — nisto há vida?
um rosto que espia o mundo
e luta
para voltar a si
que espia o mundo
que o mundo espia
que espia o mundo
e luta
estarrecido, destemperado, luta,
com o que há na frente, luta,
bêbado
à noite, sem contornos, sem
lampejos
luta, somente, luta, com ímpeto
vital
com um imperativo
cujo
limite é tudo conquistar, luta
com a luta, com a vida, com a morte
e descobre a luta
como a marca em teu rosto, com os
traços
grossos a delimitar um sorriso,
luta
e daqui surge o olhar preciso
luta estarrecido, pois tu mesmo
é a luta, tu mesmo é a guerra, tu
mesmo é a paz, tu mesmo é
a morte, é a vida, tu mesmo é a
humanidade
em ti, tu mesmo é
teu rosto, tu mesmo
é o poema
ainda assim te mato, soldado!
hoje te mato
assim, quero
talhar teu rosto
vencer tua batalha, vencer
o soldado em mim, olhar-te
cara a cara
olhar-te, agora, já com o rosto à
mostra
em tom de desafio
e murmurar —
“por um milagre,
talvez,
cala-se a guerra!”