Sahrazad contou histórias sobre
a alegria de viver, os prazeres desfrutados em pencas ao lado
de um riacho sob céus de murta, estrelas de narciso, sóis de rosa, relampos de
vinho, nuvens de taça, trovões de incenso e brumas de arco-íris.
Falou de cidades agradáveis e
seguras, que se ondulavam sob os pés do morador e se mexiam sob os pés do
residente. Falou de comandantes que escreviam, que liam e que exorcizavam.
Narrou sobre as horas contadas
dos amantes, os corações úmidos de saudade e de afeto e os olhos que procuram a
cura na insônia. Narrou sobre pessoas livres que eram enganadas por
belas palavras e sobre pessoas que agiam conforme a sua natureza. Narrou sobre
o perdão e a absolvição.
Expôs o que sabia sobre o
destruidor dos prazeres e separador dos grupos, louvando quem prepara o tempo,
constrói os mundos e não se distrai de uma coisa por outra.
Dinarzad ouviu sobre a paciência.
A paciência de que devemos nos armar na desgraça, a paciência alquebrada que
luta com o sentimento desperdiçado, a paciência que é amarga, a paciência que
deveria se espantar da própria paciência quando somos pacientes.
E ouviu também sobre o destino,
cujas decisões ninguém pode evitar. O destino ingrato, que talvez afrouxe as
rédeas e renove as esperanças.
Depois disso, que o rei deixasse
que outras coisas ocorressem.
“Ó rei do tempo, esse círculo maior é o
seu reino, e o círculo menor é o meu reino”; deu alguns passos, entrou no
círculo menor e disse: “Se o seu reino, rei do tempo, não me cabe, morarei no
meu reino”, e mal entrou no círculo menor desapareceu das vistas dos presentes”.