Livro das Mil e Uma Noites – Volume II (ramo sírio, 2005)




Sahrazad contou histórias sobre a alegria de viver, os prazeres desfrutados em pencas ao lado de um riacho sob céus de murta, estrelas de narciso, sóis de rosa, relampos de vinho, nuvens de taça, trovões de incenso e brumas de arco-íris.

Falou de cidades agradáveis e seguras, que se ondulavam sob os pés do morador e se mexiam sob os pés do residente. Falou de comandantes que escreviam, que liam e que exorcizavam.

Narrou sobre as horas contadas dos amantes, os corações úmidos de saudade e de afeto e os olhos que procuram a cura na insônia. Narrou sobre pessoas livres que eram enganadas por belas palavras e sobre pessoas que agiam conforme a sua natureza. Narrou sobre o perdão e a absolvição.

Expôs o que sabia sobre o destruidor dos prazeres e separador dos grupos, louvando quem prepara o tempo, constrói os mundos e não se distrai de uma coisa por outra.

Dinarzad ouviu sobre a paciência. A paciência de que devemos nos armar na desgraça, a paciência alquebrada que luta com o sentimento desperdiçado, a paciência que é amarga, a paciência que deveria se espantar da própria paciência quando somos pacientes.

E ouviu também sobre o destino, cujas decisões ninguém pode evitar. O destino ingrato, que talvez afrouxe as rédeas e renove as esperanças.

Depois disso, que o rei deixasse que outras coisas ocorressem. 


“Ó rei do tempo, esse círculo maior é o seu reino, e o círculo menor é o meu reino”; deu alguns passos, entrou no círculo menor e disse: “Se o seu reino, rei do tempo, não me cabe, morarei no meu reino”, e mal entrou no círculo menor desapareceu das vistas dos presentes”.


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